Record (Portugal)

Sem bairrismo não há seniores

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Com o projeto assente na formação, não é de excluir o regresso do Vilarense ao futebol sénior, ainda que a resolução desse desejo seja bem mais complexa, segundo Américo Leal. “Está tudo em aberto! O problema é não haver pessoas para colaborar. O dinheiro não é tudo; com esforço tudo se consegue. Mas já ninguém quer nada com o clube. Aliás, temos uma direção com 14 ou 15 elementos e só aparecem seis ou sete para trabalhar. Uns não aparecem, outros desistiram, outros não querem. Assim é muito difícil voltar ao futebol sénior, apesar de termos todas as condições para tal. Há pessoas muito úteis em Vilar dos Prazeres, mas que não querem ajudar o clube. É pena... começa a ser saturante porque também tenho a minha vida fora daqui”, desabafa o presidente, elogiando quem acompanha o futebol jovem deste emblema da freguesia de Nossa Senhora das Misericórd­ias: “Felizmente temos bons pais, que gostam de ajudar promovendo festas de angariação de fundos. E temos a sorte de ter treinadore­s qualificad­os que trabalham com muito amor, porque não podemos pagar mais nada além de uma contribuiç­ão para o combustíve­l...” Emanuel Sousa, mentor deste sucesso. “Varremos a região de porta em porta à procura de jogadores. E alguns dos que hoje subiram ao Nacional não davam um pontapé na bola!”, sublinha. “Nunca me tinha passado pela cabeça ter este sucesso! Ainda para mais na nossa aldeia... É que o Vi-

“ALGUNS DOS QUE SUBIRAM NÃO DAVAM UM PONTAPÉ NA BOLA!”, DIZ EMANUEL SOUSA SOBRE O INESPERADO ÊXITO

lar é vila, mas é uma terra muito pequena para um feito desta dimensão”, vinca Américo Leal. “Éramos gozados, ninguém acreditava em nós, nem mesmo cá na terra. Ouvir quem aqui estava antes a dizer que nunca iríamos conseguir acabou por ser uma motivação brutal”, reforça Emanuel. Paulo Conde, o treinador, “não esperava ser campeão distrital”, até porque “nunca tal tinha sido exigido”, mas evoca o momento em que sentiu que o sucesso estava ali à mão. “Comecei a perceber que era possível em dezembro. E por isso fomos contratar dois jovens da Académica de Santarém. Estava decidido, era para subir”, conta-nos sobre a chegada de Francisco e Manuel, os irmãos Esporeta, dois gémeos de 14 anos, com tanta queda para a bola que ‘obrigaram’ os seus pais a minimizare­m a centena de quilómetro­s que separa Ponte de Sor de Vilar dos Prazeres, três dias por semana e ao domingo, à média de 800 km (!)... semanais. O Vilarense sagrou-se campeão na antepenúlt­ima jornada, ao vencer emSantarém, emcasa do Soccer Scalabis, cavando um inatingíve­l fosso de 7 pontos para o vizinho Vasco da Gama, de Boleiros, igualmente no concelho de Ourém, onde também reside o CD Fátima cuja equipa de iniciados já se encontra na 1ª Divisão Nacional do escalão. Há lá melhor forma de celebrar o 60º aniversári­o de um clube... *

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