Record (Portugal)

CR7 foi inábil mas tem razão

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Mais do que o rótulo de narcisista e da propensão para o ‘divinismo infantil’, de que também falou a imprensa espanhola, Ronaldo comprovou que é bem melhor a gerir a pressão nos relvados do que a governar o tempo e o modo das suas palavras. Insinuar que ia deixar o Real Madrid em plena ‘fiesta’ de celebração do reinado europeu só serviu para dar razão a quem acha que usou o microfone para substituir o protagonis­mo que não teve em campo. Mas, percebendo-se o julgamento de caráter de um craque e de um goleador sem par, importa também entender o que motivou a intervençã­o desajeitad­a. Ronaldo nunca foi um ‘filho pródigo’ do atual presidente, que respeitou a custo o negócio deixado pelo antecessor Calderón (chegou a dizer que 96 milhões era demasiado por quem já era Bola de Ouro e campeão europeu no United). E, entre outras indelicade­zas (algumas nunca reveladas e bem graves), nunca lhe facilitou a renovação dos contratos (Messi já vai na nona). “Se queres sair, traz o dinheiro para eu contratar o Messi”, chegou a responder-lhe uma vez. Ronaldo chegou a ir sozinho a uma gala da UEFA, enquanto Messi e Iniesta tinham o apoio de Sandro Rosell. Cr7foi o melhor marcador da Champions pela sétima vez (sexta consecutiv­a) e marcou 450 golos em 438 jogos em Madrid, mas ganha 23 milhões de euros/ano, enquanto Neymar recebe 30 e Messi 40. Após a final de Cardiff, Florentino prometeu retificar a situação. Antes de o fazer preferiu elogiar Neymar numa gala de entronizaç­ão a Ronaldo, que finalmente lá recebeu a proposta de aumento, mas parte dela sujeita à obtenção de objetivos individuai­s e coletivos, algo que CR7conside­rou indecente. E há ainda que resolver o problema fiscal, que terá de ser assumido pelo Real (mesmo que não o assuma), como fez com todos os outros jogadores com o mesmo problema (por muito que isso não seja dito, a verdade é que a situação resulta não só do facto de o fisco ter mudado as regras com efeitos retroativo­s, mas também por o esquema ser incentivad­o pelos clubes, os principais beneficiad­os). Ronaldo foi inábil, mas tem razão.

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