Record (Portugal)

Difícil aceitar tão clamorosa distração

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UMA VEZ MAIS, DUROU MUITO POUCO O MALESTAR DO BENFICA NAS MANCHETES DOS JORNAIS AS ADMOESTAÇÕ­ES DO PRESIDENTE AOS JOGADORES POR DESRESPEIT­AREM A CLAQUE CHOCARAM O PÚBLICO PORQUE, NA REALIDADE, NÃO PASSA PELA CABEÇA DE NINGUÉM QUE SITUAÇÕES DESTAS POSSAM OCORRER MESMO NUM ‘REALITY SHOW’

O mais surpreende­nte é tudo isto ser uma surpresa para muita gente. É difícil aceitar tão clamorosa distração. Se, por absurdo, considerar­mos a gerência do atual presidente como uma sucessão de cinco temporadas de um ‘reality show’, são claros, desde os episódios iniciais da 1.ª temporada, os múltiplos indícios que haveriam de conduzir ao desfecho patente nestes derradeiro­s episódios da 5.ª temporada. Como diriam os americanos desta nobre indústria, utilizando o jargão do sector, este só pode ter sido o melhor ‘season finale’ de sempre na história do entretenim­ento em direto e ‘ao vivo’. De tão bem iludido que estava, o público não se deu conta de nada. Só por isso se explica como ficou positivame­nte atónito com o evoluir dos aconte- cimentos. Agora, que está desfeito o mistério, a coisa irá lentamente deixando de ter interesse e dúvidas há se haverá sexta temporada. Mas nesta vida não se pode ter certezas.

Uma vez mais, durou pouco o mal-estar do Benfica nas manchetes dos jornais.

A rescisão de contrato do capitão da equipa rival apoderou-se hegemonica­mente dos dias. De facto, o caso não é de somenos. Embora para os benfiquist­as fosse óbvio que todo aquele noticiário impiedosam­ente compromete­dor sobre o tal jogo no Funchal não passava de uma manobra do inimigo para tentar abafar o que de verdadeira­mente importante vinha a caminho. É esta a maneira de ser dos adeptos de futebol de to- das as cores, acreditam em tudo que lhes conceda vantagem – qualquer espécie de vantagem – e não acreditam em nada que lhes seja desagradáv­el ouvir. Chega de filosofias.

- O Benfica tem dois traumas,

o Vale e Azevedo e o Jorge Jesus – disse o presidente rival (em exercício) na televisão há três temporadas atrás. Depois tentou desenvolve­r a sua ideia mas explanou-a com pouco detalhe. Ora, uma coisa destas não vos deu logo que pensar? Não, aparenteme­nte não.

Reveladas na carta de rescisão do capitão da equipa,

as admoestaçõ­es do presidente aos jogadores por desrespeit­arem a claque chocaram a grande maioria do público porque, na realidade, não passa pela cabeça de ninguém que situações destas possam ocorrer mesmo num ‘reality show’. Quando o presidente pergunta a um jogador “porque fizeste aquilo ao chefe da claque? Logo a ele, tenho um problema tremendo, estiveram a ligar-me a noite toda, todos os gajos da claque, a dizer que te queriam apanhar, que queriam a tua morada...” está-se logo a ver que quem tem um “problema tremendo” não é o presidente, é o clube. Mas ninguém viu problema algum quando, numa das primeiras temporadas, o presidente encabeçou uma marcha conduzindo os prosélitos em direção a um estabeleci­mento de comida rápida numa bomba de gasolina. Os motivos não foram apurados. Nem nunca mais se falou no assunto. Foi pena. Ter-se-ia poupado, talvez, o desesperad­o apelo “às autoridade­s públicas” com que ontem o presidente da Mesa da Assembleia Geral confessou, também ele, a sua estupefaçã­o.

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