Campeão que foi obra-prima
Quando afinou a máquina de futebol esplendoroso que foi o Monaco de 2016/17, Leonardo Jardim fez explodir todos os conceitos que o referenciavam. Dele se guardava a imagem de um treinador consciente, estudioso e conhecedor, que do pouco fazia muito e que, em todo o trajeto, não falhara em qualquer clube que representara (Camacha, Chaves, Beira-Mar, Sp. Braga, Olympiacos e Sporting); mas depois do que fez em França, ao serviço de uma equipa com aspirações relativas, tornou-se aos olhos do Mundo um verdadeiro mestre do futebol. O Monaco campeão de França é uma obra-prima, o cartão de visita de um treinador que trabalhou sem se queixar das dificuldades; atingiu os objetivos como consequência da cumplicidade com jogadores que qualificou pelo modo como os resgatou de momentos difíceis (Radamel Falcão); po- tenciou génios (Bernardo Silva e Mbappé) e homens feitos (João Moutinho e Fabinho); e descobriu craques que ainda não se tinham mostrado como tal e fez crescer muito para lá dos limites previstos (Bakayoko, Mendy, Lemar, Sbidé, Almany Traoré, entre outros).
Outros teriam pegado naquela equipa de campeões e teriam tratado de a gerir com parcimónia; LJ não esteve pelos ajustes e a um grupo notável de jogadores, alguns só à procura de orientação, inculcou-lhes uma proposta atrativa. Juntos construíram
uma potência. O Monaco tornou-se uma armada temível, impermeável aos efeitos do êxito (deslumbramento e ar- rogância) e do fracasso (conflito e depressão); uma equipa que não reclamou os favores da sorte, pela simples razão de nunca se ter queixado do azar; que dependeu, apenas e só, das suas ideias e da qualidade do seu futebol; uma equipa que, colocada perante dúvidas, unia-se à volta da bola e atacava, recorrendo ao instinto ofensivo, com o qual ganhava contundência sem perder equilíbrio. LJ construiu no Monaco um paraíso onde todos foram felizes e, apesar de não ter repetido a façanha em 2017/18, não sofreu consequências com essas dores de crescimento – numa liga que o PSG dominou por completo, foi segundo classificado. Num clube pouco dado a dramatismos, ficou eternamente no coração dos adeptos. Quando se propôs voar e levar consigo toda uma comunidade órfã de grandes feitos, fê-lo com tanta perícia e convicção que a loucura generalizada era, no fundo, o destino fatal e indiscutível para tanta qualidade. Menos exuberante do que há um ano, LJ beneficia agora da respeitável admiração das gentes do futebol. Sem surpresa, tem sido apontado como treinador de algumas grandes equipas europeias. Até agora nenhuma das hipóteses se concretizou, é certo. Não devemos esperar pela demora: está lançado para voos ainda mais altos do que os do principado. *
O MONACO DE 2016/17 É O CARTÃO DE VISITA DE UM TREINADOR QUE PODE VOAR AINDA MAIS ALTO