Record (Portugal)

Uma dor tatuada na alma

Grande Clube Automóvel da Marinha a Nacional, presta homenagem à Mat nos troços do concelho, com recital de motores incêndio que oito meses depois do macabro um dos seus órgãos vitais esventrou Portugal de

- TEXTOS ANTÓNIO ADÃO FARIAS

Nove mil dos onze mil hectares dramaticam­ente ardidos. Aquele macabro 15 de outubro de 2017, cobriu Dante de vergonha, dizimou o pulmão do litoral centro português e esventrou o país de um dos seus órgãos vitais. Nesse dia sinistro, o verde frondoso deu lugar ao vermelho sangue de chamas capazes de consumir 80% de um tesouro idealizado por Dom Sancho II, executado por Dom Afonso III e expandido por Dom Dinis, já lá vão cerca de oito séculos.

Mas a história do Pinhal d’El-Rei, essa, não morrerá. Reescreve-se pela pena dos seus súbditos, como os da Marinha Grande, terra dos mais fiéis escudeiros da Mata Nacional de Leiria, também conhecida por Pinhal de Leiria, ou o lendário Pinhal do Rei.

O próximo capítulo desta história de amor escreve-se a letras... de borracha, rabiscos de pneus ferventes desenhados no alcatrão do concelho e nas areias da sua Mata Nacional. O Rallye Vidreiro Centro de Portugal sai para as estradas no final desta semana, sexta-feira e sábado, cumprindo a tradição de oferecer ao Pinhal do Rei uma ode de amor, cantada em forma de hino ao automobili­smo. “Nem podia ser de outra maneira”, reforça Nuno Jorge, presidente do Clube Automóvel da Marinha Grande.

“O que nos aconteceu naquele incêndio, mexeu muito connosco. Se houve edições em que podería- mos ter optado por não passar pelas matas, este ano era obrigatóri­o que o Rallye Vidreiro por ali passasse! Era fundamenta­l, nem que fosse para reforçar o alerta, para que as pessoas vejam o que ali aconteceu”, assume o mesmo responsáve­l, recordando a tragédia de 2017. A Joana Baptista, vice-presidente e responsáve­l de marketing e co- municação do Clube Automóvel da Marinha Grande, coube a missão de apresentar a versão 2018 de um rali “disputado no Pinhal do Rei, a sua casa, a sua razão de ser desde 1971”.

Apelo ao sentimento

Quarenta e sete anos depois da sua primeira edição, o Rallye Vidreiro assume a sua grande paixão e exalta as raízes do Clube Automóvel da Marinha Grande. Os dias 8 e 9 de junho serão, pois, de homenagem sentida ao Pinhal do Rei e a tudo o que esta obra secular representa para quem o sente como seu. “Como muito bem disse a Joana, as matas são a nossa casa! O Clube Automóvel nasceu por causa das matas; nós, os marinhense­s, estamos habituados a conviver desde sempre com as matas”, remata Nuno Jorge, já depois de Joana Baptista ter apelado ao sentimento. “O Rallye Vidreiro é o ponto alto para quem anseia por estes dias, onde o som dos motores é pura música para os ouvidos e as técnicas de pilotagem uma verdadeira arte”, lembra a dirigente. *   Se Portugal jamais esquecerá o flagelo dos incêndios de 2017, a Marinha Grande dificilmen­te deixará de recordar a tragédia, mesmo que ali não tenha sido chorada nenhuma das 109 mortes consequent­es desse duro golpe na consciênci­a do país. “Estas coisas são sempre difíceis de exprimir porque nos tocam no coração”, diz Cidália Ferreira a Record, respirando fundo, sensibiliz­ada pela homenagem ao Pinhal do Rei. “As marcas são profundas, ficam para sempre, não passam nunca. As pessoas ainda têm dificuldad­es em voltar à nossa Mata. Alguns locais continuam vedados por segurança. É difícil deixar de ver o verde para passar a ver tudo queimado. Hoje já se volta a ver o verde, o amarelo, o laranja, o rosa, na vegetação! Isso até nos anima, mas ver árvores cortadas, queimadas e outras que deixaram de existir, não deixa de nos tocar profundame­nte”, desabafa a autarca. *

“O INCÊNDIO MEXEU MUITO CONNOSCO. ESTE ANO, ERA OBRIGATÓRI­O PASSAR POR ALI”, SUBLINHA NUNO JORGE

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TRAGÉDIA. Incêndios deixaram marcas

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