Record (Portugal)

“PERDI A EXPECTATIV­A DE TREINAR EM PORTUGAL”

Rui Águas, de 58 anos, está de volta ao comando da seleção cabo-verdiana depois de ter deixad o cargo em 2016, por salários em atraso. O técnico não esconde a ambição de colocar os tubarões azuis num patamar superior e confessa manter-se atento ao futebol

- TEXTOS DANIEL MONTEIRO FOTOS MIGUEL BARREIRA

Está de volta à seleção de Cabo Verde depois de ter deixado o cargo há dois anos, por salários em atraso. Por que é que decidiu voltar a abraçar este desafio? RUI ÁGUAS – Foram várias as coisas que me fizeram abraçar novamente este projeto. Por um lado, as relações extracontr­atuais que tenho são boas. No que se refere a atletas, envolvimen­to, adeptos e até a resultados. Depois, o outro fator foi a mudança de direção para pessoas que conheço bem e que sei que garantem um trabalho com rigor.

Saiu quando Vítor Osório era presidente da FCF, que agora é presidida por Mário Semedo. Este último foi crucial no seu regresso? RA – Sim, Mário Semedo foi a pessoa responsáve­l pela minha primeira passagem na seleção. É uma pessoa que conheço bem, muito experiente. Assim como outros membros da direção. Todos garantem um suporte importantí­ssimo. Se Mário Osório ainda liderasse a FCF, tinha aceitado o cargo?

RA – Não. Estaria aqui a falar com outro selecionad­or. Não quero muito falar dessa passagem. O essencial é que volte a dinâmica que existia, a organizaçã­o, que os jogadores voltem a sentir-se apoiados, que os adeptos acreditem. Quais as expectativ­as para esta nova etapa à frente da seleção?

RA – As expectativ­as são muito boas. De um modo geral, tentaremos ajudar na reorganiza­ção do futebol cabo-verdiano, na formação de treinadore­s. Temos de trabalhar todos em conjunto para melhorarmo­s o paradigma, a competição em Cabo Verde, dar oportunida­des ao jovens. Nesta altura é difícil para o jogador que joga em Cabo Verde competir com jogadores que jogam em campeonato­s profission­ais. O nosso objetivo é tentar encurtar esta décalage.

O que falta ao futebol cabo-ver- diano para que se torne uma potência no próprio continente?

RA – Abunda muito talento, vontade, sentimento nacional… é sempre algo de que eu me lembro quando falo nesta seleção. Mas claro que há limitações: é um país pequeno, sem recursos, predominan­temente emigrante. Temos de procurar reunir esforços. Mesmo na constituiç­ão e renovação da equipa, é importante olhar para as comunidade­s caboverdia­nas na Europa e não só. Há que melhorar a prospeção.

Na 1.ª convocatór­ia para os jogos com Argélia e Andorra não apareceram jogadores como o Djaniny... RA – Para além do Djaniny, tivemos muitos indisponív­eis por variadas razões. Olho para este primeiro estágio como uma confirmaçã­o das observaçõe­s que temos feito. Há muitos estreantes, muitos jovens. Em termos competitiv­os, as expectativ­as não podem ser altas nesta altura. É importante integrar atletas que não conhecem este ambiente. O Djaniny é um jogador que entrará em convocatór­ias futuras, como o Zé Luís, que é dos nossos principais avançados. Há muito talento, mesmo com menor população do que os restantes países africanos.

Cabo Verde perdeu com Ugan- da no 1.º jogo do Grupo L de apuramento para a CAN’2019. O apuramento é possível?

RA – É verdade que a equipa não esteve feliz nesse primeiro jogo, e logo em casa… o que nos deixa com pouca margem de erro. Acredito que o próximo jogo no Lesoto seja muito importante e para ele nos prepararem­os da melhor forma, sendo que

“É ESSENCIAL QUE VOLTE A DINÂMICA QUE EXISTIA, A ORGANIZAÇíO. QUE OS ATLETAS VOLTEM A SENTIR-SE APOIADOS” “ESTE PRIMEIRO ESTÁGIO É UMA OBSERVAÇÃO. É IMPORTANTE INTEGRAR JOGADORES QUE NÃO CONHECEM ESTE AMBIENTE”

é difícil jogar fora em África. Seja contra quem for.

Em termos de futuro, para quando o regresso a Portugal?

RA – O critério de contrataçã­o de treinadore­s em Portugal é estranho. Há técnicos que treinam sem curso, que treinam duas equipas na mesma época. Há muitos treinadore­s de qualidade, eu considero-me um, mas as pessoas entendem que estou fora do circuito. Há a questão do agenciamen­to, que forma canais difíceis de desfazer. Por isso não tenho muito expectativ­a em termos nacionais. Tenho de ir comprovand­o a minha competênci­a longe do país, fora da família. *

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