“PERDI A EXPECTATIVA DE TREINAR EM PORTUGAL”
Rui Águas, de 58 anos, está de volta ao comando da seleção cabo-verdiana depois de ter deixad o cargo em 2016, por salários em atraso. O técnico não esconde a ambição de colocar os tubarões azuis num patamar superior e confessa manter-se atento ao futebol
Está de volta à seleção de Cabo Verde depois de ter deixado o cargo há dois anos, por salários em atraso. Por que é que decidiu voltar a abraçar este desafio? RUI ÁGUAS – Foram várias as coisas que me fizeram abraçar novamente este projeto. Por um lado, as relações extracontratuais que tenho são boas. No que se refere a atletas, envolvimento, adeptos e até a resultados. Depois, o outro fator foi a mudança de direção para pessoas que conheço bem e que sei que garantem um trabalho com rigor.
Saiu quando Vítor Osório era presidente da FCF, que agora é presidida por Mário Semedo. Este último foi crucial no seu regresso? RA – Sim, Mário Semedo foi a pessoa responsável pela minha primeira passagem na seleção. É uma pessoa que conheço bem, muito experiente. Assim como outros membros da direção. Todos garantem um suporte importantíssimo. Se Mário Osório ainda liderasse a FCF, tinha aceitado o cargo?
RA – Não. Estaria aqui a falar com outro selecionador. Não quero muito falar dessa passagem. O essencial é que volte a dinâmica que existia, a organização, que os jogadores voltem a sentir-se apoiados, que os adeptos acreditem. Quais as expectativas para esta nova etapa à frente da seleção?
RA – As expectativas são muito boas. De um modo geral, tentaremos ajudar na reorganização do futebol cabo-verdiano, na formação de treinadores. Temos de trabalhar todos em conjunto para melhorarmos o paradigma, a competição em Cabo Verde, dar oportunidades ao jovens. Nesta altura é difícil para o jogador que joga em Cabo Verde competir com jogadores que jogam em campeonatos profissionais. O nosso objetivo é tentar encurtar esta décalage.
O que falta ao futebol cabo-ver- diano para que se torne uma potência no próprio continente?
RA – Abunda muito talento, vontade, sentimento nacional… é sempre algo de que eu me lembro quando falo nesta seleção. Mas claro que há limitações: é um país pequeno, sem recursos, predominantemente emigrante. Temos de procurar reunir esforços. Mesmo na constituição e renovação da equipa, é importante olhar para as comunidades caboverdianas na Europa e não só. Há que melhorar a prospeção.
Na 1.ª convocatória para os jogos com Argélia e Andorra não apareceram jogadores como o Djaniny... RA – Para além do Djaniny, tivemos muitos indisponíveis por variadas razões. Olho para este primeiro estágio como uma confirmação das observações que temos feito. Há muitos estreantes, muitos jovens. Em termos competitivos, as expectativas não podem ser altas nesta altura. É importante integrar atletas que não conhecem este ambiente. O Djaniny é um jogador que entrará em convocatórias futuras, como o Zé Luís, que é dos nossos principais avançados. Há muito talento, mesmo com menor população do que os restantes países africanos.
Cabo Verde perdeu com Ugan- da no 1.º jogo do Grupo L de apuramento para a CAN’2019. O apuramento é possível?
RA – É verdade que a equipa não esteve feliz nesse primeiro jogo, e logo em casa… o que nos deixa com pouca margem de erro. Acredito que o próximo jogo no Lesoto seja muito importante e para ele nos prepararemos da melhor forma, sendo que
“É ESSENCIAL QUE VOLTE A DINÂMICA QUE EXISTIA, A ORGANIZAÇÃO. QUE OS ATLETAS VOLTEM A SENTIR-SE APOIADOS” “ESTE PRIMEIRO ESTÁGIO É UMA OBSERVAÇÃO. É IMPORTANTE INTEGRAR JOGADORES QUE NÃO CONHECEM ESTE AMBIENTE”
é difícil jogar fora em África. Seja contra quem for.
Em termos de futuro, para quando o regresso a Portugal?
RA – O critério de contratação de treinadores em Portugal é estranho. Há técnicos que treinam sem curso, que treinam duas equipas na mesma época. Há muitos treinadores de qualidade, eu considero-me um, mas as pessoas entendem que estou fora do circuito. Há a questão do agenciamento, que forma canais difíceis de desfazer. Por isso não tenho muito expectativa em termos nacionais. Tenho de ir comprovando a minha competência longe do país, fora da família. *