Record (Portugal)

A defesa está ótima, o pior é o manicómio

SE FERNANDO SANTOS UTILIZAR PEPE, DE 35 ANOS, E JOSÉ FONTE, DE 34, NOS TRÊS PRIMEIROS JOGOS DO MUNDIAL, HÁ O RISCO DE SE REPETIR O QUE ACONTECEU A RICARDO CARVALHO, EM 2016

- Alexandre Pais Ex-Diretor Record

Grande foi a demonstraç­ão de capacidade da Seleção, superando claramente uma Bélgica fortíssima, a atuar em casa e a não lograr o que raramente falha: golos. Fernando Santos parece ter acertado no quarteto defensivo titular – não por acaso, o da final do Europeu – que se exibiu a alto nível, permanecen­do, todavia, um velho problema. É que com a carga de jogos do Mundial, vai ser preciso rodar, e as quatro alternativ­as não estão no mesmo patamar – por experiênci­a a mais ou experiênci­a a menos. Recordo o erro da utilização consecutiv­a, há dois anos, do já veteraníss­imo Ricardo Carvalho, nos três desafios iniciais do Europeu, disputados em apenas nove dias. À terceira partida, contra a Hungria, sofremos três golos, o central, de 38 anos, ‘rebentou’ e as- sim fez a sua despedida da Seleção – nunca mais jogou.

Mas para mim o melhor do encontro de Bruxelas foi o último quarto de hora da primeira parte, com Gelson, Guedes e Bernardo à solta e a darem uma noção do que poderá ser a Seleção do futuro. Houvesse um ‘matador’ de talento aproximado e ninguém teria pena de nós. Como não há, ou muito me engano – talvez André Silva esteja a um passo de nos sur- preender – ou voltaremos, dentro de dias, às lamúrias habituais pela falta de um 9...

Depois do ‘assédio’ aMarco Sil

va, no finalde 2017, que conduziria à baixa de rendimento do Watford e ao despedimen­to do então seu treinador, em janeiro último, o Everton contratou finalmente o ex-técnico do Sporting. Conheci-o na redação de

Record, quando viu connosco vários jogos da Seleção, deixando sinais de determinaç­ão e um rasto de modéstia e simpatia. Es- pero, por isso, que alcance em Liverpool a estabilida­de que lhe recusaram em Alvalade – foi a primeira vítima do que não se sonhava ser o desvario –, mas igualmente no Olympiacos, onde não cumpriu a segunda época do contrato; no Hull City, que não conseguiu manter na divisão principal; e no Watford. Se a competênci­a de Marco é inegável, o tempo agora é o da confirmaçã­o: tem de fechar normalment­e um ciclo.

Devemosolh­arparaacri­se do

Sporting, relativiza­ndo o problema dentro do espaço reservado às necessidad­es de tratamento psiquiátri­co: é que vivemos num país que entrou em transe com os incêndios do ano passado, mas onde mais de dois mil (!) proprietár­ios foram agora alvo de contraorde­nações por não limparem os seus terrenos. Ou seja, preferem perder os bens, e até morrer, a cortar as árvores encostadas às casas, a afastar as pilhas de lenha e a retirar os montes de tralha. Sugeria até a Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros, que nos tempos livres, entre as asneiras que protagoniz­a com os outros artistas em Alvalade, perguntass­e ao Governo –e para isso ele tem o jeito que falta a quem devia –se no que toca às propriedad­es do Estado, às matas das grandes empresas e às beiras das estradas o trabalho está feito. Desconfio que não. Por isso, tenhamos calma e integremos o manicómio de Alvalade na vasta rede nacional de cuidados de saúde mental. Até à hora do colete-de-forças, há sempre esperança.

ALVALADE INTEGRA-SE NA VASTA REDE NACIONAL DE CUIDADOS DE SAÚDE MENTAL

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