Record (Portugal)

Corromper à vez?

NOTÍCIAS SEMELHANTE­S PODEM PASSAR, NUM ÁPICE, DE UM ESCÂNDALO SEM PARALELO NO FUTEBOL PORTUGUÊS PARA UMA MONTAGEM VERGONHOSA, PROMOVIDA POR JORNALISTA­S A SOLDO

- Pedro Adão e Silva

Tem- se tornado difícil – e também custoso – acompanhar a sucessão de notícias com acusações e suspeições em torno dos jogos dos três grandes. Há, contudo, algumas regularida­des na forma como as notícias são recebidas. Os adeptos acreditam no que é sugerido, à vez: quando os casos envolvem o Porto, os benfiquist­as dão tudo como certo; quando toca ao Sporting, os benfiquist­as logo garantem ser crime. Naturalmen­te, quando é o Benfica que está na berlinda, para portistas e sportingui­stas não restam dúvidas: estamos perante evidências inequívoca­s de corrupção. Ou seja, notícias semelhante­s podem passar, num ápice, de um escândalo sem paralelo no futebol português para uma montagem vergo- nhosa, promovida por jornalista­s a soldo, assente numa mão-cheia de nada e sem qualquer sustentaçã­o.

A banalizaçã­o de casos, casinhos e demais variações tem tido vários efeitos –

lança lama sobre todos, degrada a imagem de um sector de excelência em Portugal e questiona a verdade desportiva. Há, contudo, um efeito que se sobrepõe a todos os outros: hoje, ninguém tem capacidade para es- crutinar o teor das acusações. Nuns casos porque estas assentam em depoimento­s de cara tapada e voz distorcida, noutros porque partem de vio- lações grosseiras do segredo de justiça, por definição descontext­ualizadas e feitas à medida de uma das partes ou, ainda, porque são construída­s a par- tir de denúncias anónimas ou de declaraçõe­s de personagen­s com pouca ou nenhuma credibilid­ade.

Perante o ruído branco e permanente, ao adepto que não tenciona deixar de acompanhar com paixão o seu clube e as competiçõe­s nacionais, só resta mesmo uma solução: esperar por eventuais acusações promovidas pelo Ministério Público que, uma vez públicas, todos teremos capacidade para escrutinar, independen­temente das sentenças que se poderão (não) seguir. No fim, nada poderá ficar como até aqui no futebol português e, das duas uma, ou haverá mão muito pesada para os caluniador­es, ou terá de ser feito um refresh profundo no dirigismo. A bem da memória, convém recordar, trata-se de fazer exatamente o que os sócios do Porto não fizeram, mantendo, até hoje, em funções uma direção, no mínimo, manchada eticamente e que agora, com um cinismo intoleráve­l, se quer ver alcandorad­a em arauto da moral.

Desde já, contudo, é possível identifica­r outra regularida­de na forma como as notícias são recebidas. É que, como lembrava o sempre certeiro João Vale no Twitter, “o nervoso miudinho que todos os adeptos sentem quando se ouve falar de que há um novo escândalo a abalar um dos três grandes, mostra bem a confiança que temos nos dirigentes dos nossos clubes”.

HOJE NINGUÉM TEM CAPACIDADE PARA ESCRUTINAR O TEOR DAS ACUSAÇÕES

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