Record (Portugal)

A inteligênc­ia de Zidane

- Eládio Paramés

A renúncia de Zinedine Zidane ao cargo de treinador do Real Madrid causou surpresa em todo o mundo. Foi uma decisão inesperada até por nada indicar que ela poderia ocorrer. Mas tratou-se, sobretudo, de uma decisão inteligent­e.

ZZ, que já como jogador (se nos esquecermo­s daquele momento em que perdeu a cabeça) mostrara ser inteligent­e, voltou agora a sê-lo e quem conhece um pouquinho do ‘interior’ do Real – eo francês conhece-o muito bem – entende perfeitame­nte o porquê desta decisão.

Zidane encontrou um clube muito mais organizado do que há anos: não teve sequer de ir ao ‘Corte Inglés’ comprar pastas de arquivo, nem de dizer aos responsáve­is pelo marketing que os técnicos não treinavam com o mesmo equipament­o do que os jogadores (que até já têm local próprio para tomarem o pequeno almoço!). E, ao contrário do tradiciona­l ‘senhorio’ e dos assobios à equipa, até teve, quer em casa quer fora, um grupo organizado de adeptos a ‘pintar’ o Santiago Bernabéu de branco e a apoiar incondicio­nalmente o Real Madrid.

Disse Zidane no momento da despedida que o Real precisa de mudar para continuar a ganhar. Pois precisa, mas o francês sabe que algo há que não conseguirá mudar: Florentino Pérez. Um presidente que se ‘perpetuou’ estatutari­amente no poder, após José Mourinho ter rompido a hegemonia do Barcelona, e que é capaz de prometer tudo e mais alguma coisa, até estarem criadas as condições para se esquecer daquilo que havia prometido.

Ora, Zidane tem noção de que Ronaldo, Ramos, Marcelo, Benzema e Modric, tal como todos os outros, terão um ano mais e que a renovação do plantel era importante. Mas Florentino não compra quem os técnicos querem e pedem – compra quem lhe dá na gana e aqueles que caem bem na ‘prensa’. E como é assim, história feita com a conquista da terceira Champions, ZZ voltou a mostrar ser inteligent­e: saiu batendo com a porta. Mas a grande.

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