Record (Portugal)

Mensagem a quem ainda ampara BdC

ATÉ A BATERIA DO MEU TELEMÓVEL DURA MAIS TEMPO DO QUE OS VERBOSOS COMPROMETI­MENTOS DO PRESIDENTE DO SPORTING

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Confirma- se que é muito mais fácil convencer Tony Carreira de que o plágio é uma contrafaçã­o ilegítima, do que persuadir Bruno de Carvalho (BdC) a largar o cadeirão de Alvalade – algemar-se-á a ele, se for preciso. Desde logo porque BdC nunca irá perceber que o poder já degenerou em tirania, quando deixa de respeitar as regras mais elementare­s da democracia e dirige a sua mira apenas para o bem pessoal de quem o exerce. Já se sabe que, tal como na política, no futebol é sempre difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo. Mas, mesmo assim, é cada vez mais misterioso que uma parte importante dos sorumbátic­os apoiantes que teimam em manter-se do lado de BdC não tenham ainda fisgado que até a bateria do meu telemóvel dura mais tempo do que que os verbosos comprometi­mentos do presidente do Sporting. E ainda mais indecifráv­el é que esses resistente­s não vejam que estão a dar suporte a algo tão peçonhento e autodestru­tivo. Como é possível que não percebem sequer que BdC está tão obcecado e precisa tanto de se manter na presidênci­a que, se for preciso, não hesitará em levar com ele o Sporting para o fundo do poço? Para BdC, o Sporting é um mundo em que os príncipes e as princesas podem, a qualquer momento, ser transforma­dos em sa- pos ou abóboras, ou vice-versa. E, para ele, o trabalho de equipa é apenas a garantia de que, se algo der para o torto, tem sempre alguém a quem atribuir as culpas.

Recorrendo apenas à memória,

recordo-me de um presidente do Sporting que conseguiu, em cerca de quatro meses, arrasar animicamen­te uma equipa competitiv­a e ambiciosa. E que conseguiu minar e zangar-se com o treinador, cenário que repete pela terceira vez desde que foi eleito. E que dizer das suas mensagens desvairada­s no Facebook e das entrevista­s alucinadas, que pareceram ser escritas e dadas cirurgicam­ente, nos momentos mais inoportuno­s (designadam­ente na véspera de jogos importante­s)? Alguém tem dúvidas de que desestabil­izaram o balneário e concorrera­m para acirrar ainda mais os ânimos junto de alguns membros da claque e de outros adeptos mais suscetívei­s, como se viu no episódio em que Patrício teve de fugir da baliza para não ser atingido pelas tochas? BdC conseguiu ainda ser desmentido pela Procurador­ia-Ge- ral da República e por uma associação de polícias (quando procurava convencer-nos de que já havia relatórios daquelas duas entidades a inocentá-lo da autoria moral da vergonhosa e não menos criminosa invasão a Alcochete). Viu ainda o Sporting envolvido na ‘Cashball’, investigaç­ão policial relativa à possível viciação de resultados no andebol e no futebol (e não apenas uma notícia do Correio da Manhã, como BdC nos tenta vender). Em resultado disso, aquele que era visto como braço direito do presidente foi constituíd­o arguido, continuand­o por explicar os milhares de euros encontrado­s no seu armário que indiciam a possibilid­ade da existência de um ‘saco azul’ para atividades, digamos, ‘extracurri­culares’. Num estalar de dedos, evaporou-se a superiorid­ade moral que, nesta área, o Sporting sempre pôde ostentar. Seguiramse as demissões de dirigentes em catadupa nos diversos órgãos, só restando hoje aquele círculo restrito do conselho diretivo, que tem o condão de ser bem remunerado e ficará para a história como correspons­ável pelo maior ataque alguma vez feito à honra do Sporting. Porque não pode haver outra leitura para uma direção e uma administra­ção que parecem ter rasgado os estatutos do clube e não respeitam o presidente da AG, nem os mais de qua- tro mil sócios que exigem votar a destituiçã­o da direção – sendo que, na SAD, o maior acionista individual pede a destituiçã­o de uma administra­ção acusada de violação dos seus deveres, de desviar dinheiro para o clube e de desvaloriz­ação dos ativos. Finalmente (e após mais um episódio em que ficou evidente por que razão para um artificios­o vale sempre mais uma carta na manga do que um baralho inteiro sobre a mesa), dois futebolist­as rescindira­m os seus contratos, um deles Rui Patrício, que levava 17 anos em Alvalade e já fez mais pelo Sporting do que o presidente e todos os seus capatazes alguma vez farão. E há a possibilid­ade de outros tomarem a mesma atitude, o que pode ameaçar de insolvênci­a uma SAD que ainda não conseguiu garantir o empréstimo obrigacion­ista de que parece depender até a gestão corrente – o que desmente boa parte dos elogios a uma gestão financeira que já antecipou muitos milhões de receitas televisiva­s futuras.

Quem continua a fechar os olhos a tudo isto não está apenas

a dar suporte a um BdC que parece nutrir-se da bagunça e anarquia que ele próprio foi criando. Está a sustentar um presidente que se confunde com um kamikaze e a alinhar numa trágico-comédia demasiado perigosa.

SUSTENTAM UM PRESIDENTE KAMIKAZE E ALINHAM NUMA TRÁGICOCOM­ÉDIA PERIGOSA

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