Record (Portugal)

"É urgente devolver o poder aos soócios"

F RE DE RICO V A R A NDA S A PRIMEIRA GRANDE ENTREVISTA DO CANDIDATO

- TEXTOS NUNO POMBO E RICARDO GRANADA FOTOS VÍTOR CHI

“Se BdC tem 90% está com medo de quê? Venha a jogo!” “Nunca tive um profission­al tão bom como Rui Patrício” “Jesus podia ter dado mais com outro tipo de liderança” “Sporting foi alvo do maior golpe de Estado”

Já se passaram algumas semanas desde que anunciou que tencionava candidatar-se à presidênci­a do Sporting. O que tem feito desde essa altura? FREDERICO VARANDAS – É importante historiar aquilo que se passou desde esse momento. Fiz duas comunicaçõ­es numa só a 24 de maio. Pedi a demissão e assumime para liderar um processo de candidatur­a numa possível eleição. Fiz o ‘dois em um’ porque o Sporting estava completame­nte partido. Pedi que fosse dada voz aos sócios, mas era necessário existir um rosto. Ninguém iria promover uma destituiçã­o sem que houvesse uma alternativ­a. Por mais desgastada­s que estivessem, as pessoas perguntari­am sempre: ‘OK, destituir para quem, para quê?’. Tomei então a decisão de me demitir e ser candidato se houvesse eleições. Já me encontrava preocupado a 24 de maio, mas agora, a 5 de junho, ainda estou mais, pois o problema do Sporting atingiu outro patamar. Os sportingui­stas não podem ficar indiferent­es ao que se está a passar no clube. O Sporting foi alvo do maior golpe de Estado democrátic­o! A partir do momento em que houve a demissão de órgãos sociais e se assistiu à substituiç­ão dos mesmos por outros… atingiu-se o coração do Sporting. É urgente repor a legalidade e a democracia no Sporting, devolver o poder aos sócios. Os sportingui­stas têm de perceber que perderam o poder. Os sportingui­stas votaram, mas esse voto vale zero se tudo isto continuar. Os órgãos sociais eleitos pelos sportingui­stas foram destituído­s de um momento para o outro sem fundamento estatutári­o. Isto é uma loucura, é perfeitame­nte surreal.

+ Pode falar-se na existência de uma ditadura?

FV – Quando o regime democrátic­o é posto em causa… sim! É disso que estamos a falar. Se há uma semana pedia a Bruno de Carvalho para convocar uma assembleia geral e ouvir os sócios, hoje em dia o meu pedido é diferente. Peço-lhe que se demita, convoque eleições e se recandidat­e.

+ Ele não parece ter essa intenção. De que maneira se desata o nó? FV – Espero que esta entrevista sirva de ajuda a Bruno de Carvalho. Que ele tenha um mínimo de coragem, peça a demissão e se recandidat­e. Vou dizer-lhes porquê. Está a haver imensos movimentos – providênci­as cautelares, processos judiciais, possíveis suspensões –, mas esse não é o caminho. Isso não vai unir o Sporting, apenas acentua ainda mais as feridas já existentes. O futuro presidente do Sporting tem de estar altamente legitimado e só há uma maneira de o legitimar… ouvindo os sócios! Bruno de Carvalho diz que está legitimado por ter tido 90 e tal por cento numa AG onde supostamen­te estiveram 6 mil pessoas. OK! Se tem 90 e tal por cento, então tem medo de quê? Venha a jogo! Só isso lhe dará legitimida­de e paz. Um líder que tem medo de ouvir o povo é um líder fraco e sem força moral, está condenado à nascença.

+ Crê que pode ser mais forte num frente a frente com BdC? FV – Se houver eleições sou candidato, isso que fique claro. Estou em condições de me colocar em jogo para esclarecer o Sporting. Vou a jogo contra Bruno de Carvalho. Mas esse é, por agora, um cenário hipotético. Não quero é que haja guerras entre órgãos sociais, disputas nos tribunais. Então estamos a pedir ao exterior [aos tribunais] que decida como é que o clube se deve governar? Não! O Sporting tem de saber governar-se internamen­te. É preciso dar um murro na mesa e legitimar o futuro presi- dente do Sporting. A forma inequívoca de o fazer é realizar eleições.

+ Vê algum motivo para que ele não se demita?

FV – Não vejo que alguém que gos-

“O SPORTING FOI ALVO DO MAIOR GOLPE DE ESTADO DEMOCRÁTIC­O. É URGENTE REPOR A LEGALIDADE E DEVOLVER O PODER AOS SÓCIOS” “TUDO ISTO CULMINOU COM O CLUBE COMPLETAME­NTE PARTIDO E EM GUERRA CIVIL. NUNCA O SPORTING ESTEVE TÃO DIVIDIDO”

te do Sporting não faça aquilo que estou a pedir. + Ele teme perder o poder?

FV – Não sei, pois não estou dentro da cabeça dele. Sei é que não vejo um motivo para que alguém que diz gostar tanto do Sporting o esteja a sujeitar a isto. + Qual é a melhor data para se realizar o sufrágio?

FV – Ontem... já era tarde!

+ Bruno de Carvalho critica o

‘timing’ da sua saída. Tem razão? FV – A partir do momento em que Bruno de Carvalho começa a desviar-se dos valores do clube, o meu primeiro dever de lealdade é com o Sporting, não é com o presidente. Nunca um presidente estará acima de um clube. + Disse-lhe isso?

FV – Ele percebeu pela minha cara...

+ Quando notou que o ‘desvio’ era insanável?

FV – Foi neste último ano, sendo resultado de várias situações. Culminou com o clube completame­nte partido e em guerra civil. O Sporting nunca esteve tão dividido como hoje. Passámos agora para outro patamar, que é o da violação dos estatutos do Sporting, do nosso código genético, do garante da nossa soberania enquanto clube democrátic­o. + A comissão transitóri­a está a usurpar os poderes?

FV – Os estatutos são claros. Se existem órgãos eleitos pelos sócios, esses mesmos órgãos não podem ser demitidos e substituíd­os pelo presidente do Conselho Diretivo. A separação de poderes foi violada, o sócio do Sporting perdeu o seu poder. + Planeia comparecer nas AG previstas para os dias 21 e 23?

FV – Espero que Bruno de Carvalho tenha o mínimo de coragem, peça a demissão e se recandidat­e. Espero não ser necessária nenhuma AG. Se nada suceder só reconheço a marcação de uma AG, a do dia 23. + Porque não foi anteontem à manifestaç­ão?

FV – Não fui e... não gostei de ler um ‘post’ do diretor de comunicaçã­o, no qual brincava e gozava com os sócios que lá estavam. É esta cultura que tem de acabar, não há sportingui­stas de primeira e de segunda. Eu, por exemplo, respeito os sócios que defendem a continuida­de de Bruno de Carvalho. Peço que se dê um banho democrátic­o ao Sporting, que se realizem eleições. O futuro presidente do Sporting tem de ter o engenho, a competênci­a e a comunicaçã­o para unir o Sporting. Só o verdadeiro amor ao clube conseguirá unir, curar e regenerar o Sporting. Bruno de Carvalho não tem competênci­a para o fazer, pois é incapaz de unir.

+ BdC é hoje um homem diferente em relação ao que era em 2013? FV – Esse Bruno de Carvalho seria o primeiro a pedir a sua própria demissão. Peço, por isso, ao adepto e associado Bruno que convença o presidente Bruno a promover eleições. Creio que o Bruno presidente terá a coragem de fazer aquilo que é impreterív­el fazer. *

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