MARCO SILVA “Estou onde me sinto feliz”
“Neste momento, ainda não falei sobre nenhum jogador do futebol português”
Muito se tem falado do interesse do Everton em William Carvalho. Gostava de voltar a trabalhar com ele? MS – Neste momento, sinceramente, temos 38 jogadores. Temos muitas decisões para tomar, muitos jogadores da academia para analisar e para definir. É óbvio que depois vamos atacar o mercado. Tudo o que se tem falado sobre o William não corresponde à verdade. Não quero falar individualmente, porque de- pois perguntam do Carrillo, deste e daquele. Já começou isso. A realidade é que ainda não falei com o dono ou com o Marcel [n.d.r.: diretor do futebol], que é com quem eu trato estas coisas, sobre nenhum jogador do futebol português, neste momento. Não estou a dizer que não vou falar. Mas neste momento não falei sobre nenhum jogador que está no campeonato português. + Nem dos jogadores livres?
MS – Jogadores livres? Do nosso campeonato? Não. Quais são os jogadores livres do nosso campeonato? + Rui Patrício e Daniel Podence…
MS – Não falámos sobre nenhum jogador português.
+ Olhando para o futebol português, como analisa a temporada que terminou agora? MS – O FC Porto foi um justo campeão. Numa época em que, sobretudo, é preciso dar um grande mérito ao Sérgio [Conceição], pela grande temporada que o FC Porto fez. Na minha opinião foram justos campeões. A equipa mostrou sempre grande ambição desde do primeiro jogo e acabou por ser campeão. O Benfica lutou até ao final e o Sporting até bem perto do final, também. Mas quem ganhou foi um justo vencedor. O Sérgio conseguiu ter essa capacidade de unir tudo em volta da sua equipa. Os adeptos também. Mesmo nos duelos entre os três grandes, foi a equipa que foi mais ambiciosa. + Foi essa ambição que fez a diferença?
MS – Normalmente é uma das grandes armas numa equipa, quando consegues ter uma ambição muito grande. É claro que depois podemos falar de várias coisas. Da qualidade do jogo da equipa, mas o FC Porto conseguiu mostrar essa qualidade ao longo do campeonato. Mas depois quando analisas os grandes jogos entre os três, em praticamente todos eles foi muito ambiciosa e quis sempre algo mais do jogo.
+ Com tudo o que se está a passar no futebol português, sente que esta é a altura certa para estar longe? MS – Eu nos últimos meses até estive em Portugal. O que se está a passar, ou o que se passou, no futebol português não é agradável. É triste e espero que as pessoas consigam resolver rapidamente tudo o que está a acontecer. O facto de eu estar a treinar fora de Portugal foi sempre algo que ambicionei para a minha carreira. Quando aconteceu a primeira vez, quando fui para o Olympiacos, não esperava no momento internacionalizar a minha carreira. Era um objetivo meu e acho que é um objetivo de qualquer treinador que tenha a ambição de fazer um percurso normal em Portugal e eu felizmente fi- lo. Tinha como objetivo estar mais tempo em Portugal, mas depois acabei por internacionalizar a minha carreira mais rápido. Quando vim para a Premier League foi um risco, claramente. Neste momento estou onde quero estar, onde me sinto feliz. E estou onde quero estar nos próximos anos. + Com as confusões que estão a acontecer no futebol português, acha possível um clube preparar a próxima época com tudo o que se está a passar? MS – Sobre isso não quero estar a falar. Não me compete falar sobre essa questão do Sporting.
+ Foi treinador do Sporting e conhece bem o clube. Como viveu os acontecimentos em Alcochete? MS – Acima de tudo fiquei triste, como todos amantes do futebol e os próprios adeptos também ficaram. Foi triste. Um sítio que conheço, onde trabalhei. Um balneário que conheço e fiquei triste. Mas nada mais a acrescentar em relação a isso.
+ Ultimamente tem sido alvo dos críticos por não ter conseguido levar um projeto até ao fim... MS – Eu podia não responder. Às vezes umamentiraquando é ditamuitas vezes parece que é verdade. Quando tentamos dizer muitas vezes e repetidamente a mesmas coisa até parece que pode levaralgumas pessoas aficarem convencidas de que é verdade. Quem quer analisar as coisas friamente e perceber, rapidamente consegue chegar aconclusões. + E quais são as conclusões?
MS – Os números são os números e isso não há como desmentir. Agora
“TREINAR FORA DE PORTUGAL FOI O QUE SEMPRE AMBICIONEI. ESTOU ONDE MESINTO FELIZ E QUERO ESTAR NOS PRÓXIMOS ANOS” ”[AGRESSÕES EM ALCOCHETE] FOI TRISTE. UM SÍTIO QUE CONHEÇO, ONDE TRABALHEI. MAS NADA MAIS A ACRESCENTAR”
sair a bem ou a mal dos clubes, isso é conversa. Em Portugal estive seis anos como jogador e depois quase três anos como treinador do Estoril, que não foi assim tão pouco tempo. Depois quando fui trabalhar para o estrangeiro. Se se analisar os últimos anos, depois de Ernesto Valverde no Olympiacos, talvez sejam 10 anos, estamos a falar de talvez 15 treinadores. E se formos ver qual foi o único treinador que fez uma época inteira no Olympiacos? As pessoas podem ver, porque dizer só… Fui o único treinador depois de Ernesto Valverde que começou e terminou uma época. + E saiu… MS – Por minha iniciativa. Tenho uma relação espetacular com o dono. Tenho uma excelente relação com o CEO. Tenho a certeza absoluta de que quando regressar a Atenas, o que infelizmente ainda não aconteceu, serei recebido de uma forma espetacular. Porque a relação foi excelente. A equipa foi muito boa, batemos todos os recordes do clube. Quando tomo a decisão, faço-o por questões familiares. E por questões de carreira, também. Eu decidi sair. Se não saísse naquele momento iria ser treinador do Olympiacos pelo menos por mais um ano, que era o contrato que tinha. Ali foi uma decisão minha. No Hull City saí com uma relação espetacular com o dono e saí porque o clube estava numa situação difícil e eu tinha clubes de outra dimensão interessados. Acabei por sair com uma relação excelente. Quanto ao Watford não vou estar a falar muito. Saí a meio com a equipa acima do 10º lugar. Não esteve um único dia abaixo dessa posição. Depois vejam onde acabou. Mas isso não é muito importante. Mas às vezes é preciso esclarecer que uma mentira dita muitas vezes até pode parecer verdade, mas para quem olhar friamente não corresponde à verdade. + Assinou contrato com o Everton por três anos...
MS – Eu não chego para um, dois ou três anos. Chego para algo mais. É um grande desafio, um grande projeto para a nossa equipa técnica. No futebol, o importante são os resultados no final. Vou ter de provar todos os dias que quero estar aqui. Eu ouvi nos últimos dois anos que o Everton quer dar o próximo passo. Sabemos qual é o próximo passo e que é algo que não podemos mudar em apenas um mês, dois meses. Precisamos de tempo, mas temos de ter resultados logo no primeiro momento. Sei a responsabilidade que tenho atrás de mim. + Qual foi o melhor jogador que já treinou?
MS – Não consigo dizer. Já trabalhei com muitos e grandes profissionais, de grande qualidade. + E o treinador que mais o influenciou ?
MS – Eu tive muitos que me influenciaram para coisas boas e outros dos quais retirei coisas que não devo fazer. Tirei muitas coisas boas de todos os treinadores. Em muitos deles tenho grandes amigos. + Mas não consegue escolher um?
MS – Adorei ser treinado pelo Vítor Oliveira, que é uma pessoa que tem uma importância enorme no nosso futebol, à dimensão que ele quis para a sua carreira. Muitas das decisões que ele tomou foram para aquilo que ele achava para a sua carreira. É uma pessoa espetacular. *