Dignidade esquecida
1. Quando Bruno de Carvalho foi a votos, apresentou a sua equipa, a sua comissão de honra, o seu programa e os seus apoiantes. Foi nesse conjunto que os sócios votaram.
São conhecidas as renúncias de parte importante dos ór
gãos sociais, a retirada de indefetíveis, as clivagens na base social que suportava a candidatura, a desmobilização, as críticas públicas – e muitas vezes contundentes – à sua atuação.
Os pressupostos sobre os quais a atual direção do Sporting alicerça a sua legitimidade deixaram de existir, pelas razões mencionadas. O Brunismo de hoje é uma versão mirrada e pálida da euforia “bardamerda” da noite das eleições.
2. Os lamentáveis acontecimentos daAcademia foram muito mais do que um ato de terrorismo. Aquelas agressões feriram muito mais do que jogadores e equipa técnica; atingiram o âmago dos valores sportinguistas, permanecem como uma chaga dolorosa e, sobretudo, levantaram uma série de dúvidas profundas e sistemáticas sobre os métodos de governance do clube, a relação com as claques e a sua manipulação, a política de relacionamento com os jogadores e muito mais.
Mesmo que a direção do clube e a administração da SAD não sejam responsáveis pelo que sucedeu em Alcochete, numa pura ótica de relação causa-efeito, nem por isso podem sacudir responsabilidade institucional, porque o que aconteceu não foi por acaso, foi antes o perverso corolário de um modelo de gestão, centrado no voluntarismo comportamental e comunicacional do presidente da direção.
Os acontecimentos da Acade- mia não podem ser, como os fogos de Pedrógão, culpa de ninguém, porque um clube como o Sporting, mesmo com a gente que o dirige, deve reger-se por imperativos éticos, que a política, infelizmente, parece já ter perdido.
3. Dos factos que integrama justacausade rescisão unilateraldo contrato do RuiPatrício ressalta uma cristalina evidência: o atual presidente da direção é parte de um grande problema e não é parte de nenhuma solução. A forma e o conteúdo das comunicações que o presidente da SAD se arrogava o direito de dirigir aos jogadores – pergunto, ao abrigo de que modelo de governance ? – não podem deixar de criar junto destes justificado mal-estar e ressentimento.
Tanto mais, provindas de quem cavalgava, com colagem adesiva, os êxitos desportivos da equipa de futebol; ou já nos esquecemos das voltas olímpicas e dos agradecimentos arrebatados no final dos jogos?
Enquanto a atual direção se mantiver, a SAD corre o risco de mais rescisões, porque – agora percebemos porquê – os jogadores não vão com a cara do Bruno. A política de relacionamento com os profissionais falhou e o risco de permanência da direção é o risco de perda irremediável de ativos valiosos e da solvência da SAD.
Compreendem agora por que falo em dignidade?
AS AGRESSÕES DE ALCOCHETE FERIRAM MUITO MAIS DO QUE JOGADORES E TÉCNICOS O BRUNISMO DE HOJE É UMA VERSÃO MIRRADA E PÁLIDA DA EUFORIA “BARDAMERDA” DA NOITE DAS ELEIÇÕES