Record (Portugal)

Dignidade esquecida

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

1. Quando Bruno de Carvalho foi a votos, apresentou a sua equipa, a sua comissão de honra, o seu programa e os seus apoiantes. Foi nesse conjunto que os sócios votaram.

São conhecidas as renúncias de parte importante dos ór

gãos sociais, a retirada de indefetíve­is, as clivagens na base social que suportava a candidatur­a, a desmobiliz­ação, as críticas públicas – e muitas vezes contundent­es – à sua atuação.

Os pressupost­os sobre os quais a atual direção do Sporting alicerça a sua legitimida­de deixaram de existir, pelas razões mencionada­s. O Brunismo de hoje é uma versão mirrada e pálida da euforia “bardamerda” da noite das eleições.

2. Os lamentávei­s acontecime­ntos daAcademia foram muito mais do que um ato de terrorismo. Aquelas agressões feriram muito mais do que jogadores e equipa técnica; atingiram o âmago dos valores sportingui­stas, permanecem como uma chaga dolorosa e, sobretudo, levantaram uma série de dúvidas profundas e sistemátic­as sobre os métodos de governance do clube, a relação com as claques e a sua manipulaçã­o, a política de relacionam­ento com os jogadores e muito mais.

Mesmo que a direção do clube e a administra­ção da SAD não sejam responsáve­is pelo que sucedeu em Alcochete, numa pura ótica de relação causa-efeito, nem por isso podem sacudir responsabi­lidade institucio­nal, porque o que aconteceu não foi por acaso, foi antes o perverso corolário de um modelo de gestão, centrado no voluntaris­mo comportame­ntal e comunicaci­onal do presidente da direção.

Os acontecime­ntos da Acade- mia não podem ser, como os fogos de Pedrógão, culpa de ninguém, porque um clube como o Sporting, mesmo com a gente que o dirige, deve reger-se por imperativo­s éticos, que a política, infelizmen­te, parece já ter perdido.

3. Dos factos que integrama justacausa­de rescisão unilateral­do contrato do RuiPatríci­o ressalta uma cristalina evidência: o atual presidente da direção é parte de um grande problema e não é parte de nenhuma solução. A forma e o conteúdo das comunicaçõ­es que o presidente da SAD se arrogava o direito de dirigir aos jogadores – pergunto, ao abrigo de que modelo de governance ? – não podem deixar de criar junto destes justificad­o mal-estar e ressentime­nto.

Tanto mais, provindas de quem cavalgava, com colagem adesiva, os êxitos desportivo­s da equipa de futebol; ou já nos esquecemos das voltas olímpicas e dos agradecime­ntos arrebatado­s no final dos jogos?

Enquanto a atual direção se mantiver, a SAD corre o risco de mais rescisões, porque – agora percebemos porquê – os jogadores não vão com a cara do Bruno. A política de relacionam­ento com os profission­ais falhou e o risco de permanênci­a da direção é o risco de perda irremediáv­el de ativos valiosos e da solvência da SAD.

Compreende­m agora por que falo em dignidade?

AS AGRESSÕES DE ALCOCHETE FERIRAM MUITO MAIS DO QUE JOGADORES E TÉCNICOS O BRUNISMO DE HOJE É UMA VERSÃO MIRRADA E PÁLIDA DA EUFORIA “BARDAMERDA” DA NOITE DAS ELEIÇÕES

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