Record (Portugal)

Futebol de tostões, crimes de milhões

MUITO CONTRIBUI PARA ESTE PÂNTANO UM FUTEBOL DESEQUILIB­RADO, ONDE MUITOS JOGADORES PROFISSION­AIS MAL GANHAM PARA LEVAR O MÊS AO FIM, QUANTO MAIS PARA PARA POREM ALGUM DE LADO

- Octávio Ribeiro Diretor-geral da Cofina

Ontem, uma pessoa que muito estimo, adepta de um dos grandes de Lisboa, ligoume. Quando a conversa rolou para o futebol, disse-me sentirse quase deprimido com o que se está a passar. No seu clube e no outro. A pessoa em causa é um excelente médico, homem de bem. Vive com intensidad­e o seu clube, viaja muito para vibrar com a sua camisola nos embates europeus. Para terminar a conversa, deu-me a sua solução para esta depressão coletiva: ‘Quem tiver de sair, que saia; quem tiver de ir preso, que vá preso. A malta não suporta é estar a ver os jogos e não ter a certeza que aquilo é a verdade’. Nunca tive a possibilid­ade de sofrer com esta intensidad­e por nenhum clube. Só a Seleção pode mexer tão profundame­nte nos tons com que vejo um dia.

O meu Barreirens­e sempre foi pequeno, mesmo quando batíamos o pé aos grandes. O adepto de um pequeno clube cria uma relação diferente com os resultados do jogo. Fica tão eufórico como os adeptos dos grandes, em caso de vitória, mas sofre menos, convive melhor, com as derrotas. Sempre assim senti a minha emoção e as dos mais próximos. Mesmo a minha profunda sim- patia pelo V. Setúbal sempre foi vivida assim. A saborear as vitórias, a deitar para trás das costas a momentânea tristeza com qualquer derrota.

Não sofrendo por nenhum grande, sofro como os adeptos dos clubes grandes pela qualidade do futebol. Do futebol que se joga em Portugal.

Não ter a certeza se o defesa escorregou ou se fez por escorregar. Não jurar a pés juntos que o frango do guarda-redes foi nabice pura. Não estar certo de que ninguém falha golos por querer, destrói a relação do adepto com o jogo.

Até há poucos anos, o inferno estava nos árbitros. Alguns erros eram tão estranhos que geravam desconfian­ça e sentimento­s de injustiça para com os que perdiam. Agora, não sabemos se quem perdeu, perdeu mesmo ou ganhou mais de outra forma. Um nojo! Muito contribui para este pântano um futebol desequilib­rado, onde muitos jogadores profission­ais mal ganham para levar o mês ao fim, quanto mais para porem algum de lado. São estes jogadores de tostões, num futebol de milhões, quem torna o terreno fértil para bandidos perigosos disfarçado­s de empresário­s.

Estes estrangula­dores do futebol, corsários sem lei, propõem contratos melhores, fazem promessas para Portugal e estrangeir­o a quem ‘ajudar’ o clube para que trabalham. Não duvido que este esquema existe. E não será usado por apenas um dos grandes. É preciso que as nossas competente­s polícias, a começar pela muito prestigiad­a Judiciária, logrem pôr termo a esta doença letal.

Como quase gemia de dor ao telefone o meu deprimido amigo – quem tiver de ir preso, que vá preso!

O TERRENO É FÉRTIL PARA BANDIDOS PERIGOSOS DISFARÇADO­S DE EMPRESÁRIO­S

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