Record (Portugal)

“Vítor Oliveira aceitou convite sem números”

-

Sente- se com força para liderar o projeto de subida?

PM – Sou advogado de profissão e digo que até nos divórcios há uma lua de mel. No dia em que se consumou a descida de divisão cheguei perto do balneário e vi praticamen­te toda a gente a chorar. E o que percebi é que não podia chorar. Tive um desabafo e disse: ‘vocês podem ir todos embora, mas eu não vou’. Foi toda essa revolta, essa raiva que me fez ter força até hoje. Reuni as tropas e começámos a pensar no futuro, mas tive de fazer o meu luto. Ando todos os dias a pé na cidade, nunca me escondi atrás de nada nem ninguém. As pessoas estão frustradas, mas os adeptos, mais do que nunca, estão motivados. Não estão indiferent­es. A descida de divisão tem de ser uma oportunida­de de termos um objetivo: sermos campeões da 2ª Liga.

Houve falta de paciência com Vasco Seabra, dando início ao processo que levou a equipa a passar por três treinadore­s?

PM – Não sei se foi por acordo entre os técnicos, e estou a ser um pouco irónico, mas parece que não quiseram estragar a média uns dos outros. Era mais do que justo que Vasco Seabra tivesse sido reconduzid­o. Cumpriu os objetivos. Tinha o direito de começar a 2ª temporada. Estava convencido de que era a pessoa certa no lugar certo. Admiro a honestidad­e profission­al do Vasco Seabra e assumi perante ele, a dada altura, que a descrença de todos nós já podia existir e ele aceitou.

Foi intenciona­l o facto de Petit, que lhe sucedeu, ter um perfil radicalmen­te diferente?

PM – O Petit foi escolhido num determinad­o contexto. Foi uma agradável surpresa, mais do que tecnicamen­te, como homem. Do primeiro ao último segundo foi de uma dignidade a toda a prova. Mas os resultados não o protegeram.

Foi então que a opção recaiu em João Henriques?

PM – O terceiro treinador revelou uma qualidade ao nível dos melhores, mas todas as equipas técnicas cometeram erros. A sua saída tem a ver com algo que para mim é essencial. Uma equipa que não alcança o seu objetivo fica fragilizad­a e deixa de ter condições para capitaliza­r os níveis de confiança que exigimos. Nenhum outro treinador deve sentir-se melindrado por ser substituíd­o pelo Vítor Oliveira.

Ao garantir Vítor Oliveira, o técnico que todos os clubes queriam, o Paços já entra na 2.ª Liga a ganhar? PM – Sem deslumbram­entos. O

“A DESCIDA DE DIVISÃO TEM DE SER UMA OPORTUNIDA­DE DE ASSUMIRMOS UM OBJETIVO: SERMOS CAMPEÕES DA 2ª LIGA”

mais fácil foi falar com ele e convencê-lo a vir para cá. Tive uma conversa única e pessoal com Vítor Oliveira. Conheci-o há 15 anos, quando José Mota foi para o Leixões e Vítor Oliveira estava lá como dirigente. O que lhe disse foi que tinha responsabi­lidades por nos ter mandado para a 2ª Liga e tinha de ajudar a compor o que tinha estragado. E depois perguntei-lhe: há abertura para compor ou não? E ele percebeu a mensagem. Disse-me que havia abertura, quais os clubes onde admitia poder ficar ou não, foi sincero e colocou tudo claramente. Não falámos absolutame­nte nada de valores. Passado algum tempo, telefonica­mente, e dentro do que tinha sido definido, disse-me então: ‘se o senhor quer que eu seja o seu treinador, eu vou ser o seu treinador’. A partir deste momento eu sou o treinador do P. Ferreira para a próxima época. E a partir de agora vamos lá então falar dos números. Isto para lhe dizer que falei de números com Vítor Oliveira depois de ele já ter dito que era o nosso treinador. Descemos no domingo, ficou tudo acertado na quarta-feira seguinte. Diga lá se isto não é eficácia... *

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal