Record (Portugal)

DEIXARAM CRESCER O BIGUEDES

O craque do Valencia mostrou que pode formar uma dupla terrível com CR7. Portugal esmagou a Argélia e tem motivos para estar confiante

- CRÓNICA DE VÍTOR PINTO

Sinceramen­te, a loucura que se fez sentir em Valência em torno de Gonçalo Guedes, durante toda a temporada, a dada altura até parecia carecer de fundamenta­ção. O português sentia-se como peixe na água no modelo de Marcelino Toral, baseado nas transições rápidas, mas parecia improvável que pudesse tornar-se protagonis­ta na Seleção Nacional, pelo menos já para este Mundial. Afinal, o avançado que tinha apenas um golo em nove aparições com as quinas ao peito, soltou-se e bisou na altura perfeita. Logo quando Santos tirou notas para uma estreia escaldante, contra a Espanha, analisando a forma como a equipa se moldou em torno do regressado Cristiano Ronaldo. Gonçalo Guedes aproveitou a oportunida­de e marcou dois golos, mas Bruno Fernandes também deixou um sério aviso a João Mário. Após as críticas justificad­as por sucessivos ensaios sem brilho, a consistênc­ia coletiva já demonstrad­a na Bélgica ganhou outra dimensão com o melhor do Mundo em campo, mesmo numa fase em que ainda se encontra em afinação.

Para além do óbvio triunfo que bem podia ter sido uma goleada, o maior elogio cabe à seriedade e determinaç­ão patenteada­s por Portugal. Apesar das suas individual­idades, a Argélia só conseguiu esboçar um remate, e sem perigo, mesmo em cima do intervalo. A atitude deve ter agradado a Fernando Santos, na mesma medida em que um segundo jogo sem sofrer golos afastou alguns fantasmas que ameaçavam assombrar o sector defensivo. Rui Patrício, que sabia que estaria sob escrutínio, teve oportunida­de de dizer presente e fazer uma grande defesa para encerrar a noite.

A Espanha está a uma galáxia de distância da Argélia em todos os aspetos possíveis e imaginávei­s, mas a Seleção Nacional demonstrou uma evolução que vai potenciar a confiança do grupo, com to- dos os reflexos que isso tem no plano psicológic­o e até na qualidade do trabalho nesta reta final com a Rússia à vista. A ideia de olhar a Espanha nos olhos é a única aceitável mas, aconteça o que acontecer na estreia, Portugal mostrou contra a Argélia que está pronto a impor-se face a Marrocos e Irão.

Os amigos de Cristiano

Bem dizia Bruno Alves que bastava a presença de Cristiano Ronaldo para que até os treinos ganhassem um novo índice de competitiv­idade. Deixando de lado as suas questões com o Real Madrid, a estrela portuguesa entregou-se ao

jogo e, com as suas movimentaç­ões, criou espaços preciosos. Solicitado por William, Bernardo Silva assistiu Gonçalo Guedes, de cabeça, na abertura da contagem. O início da partida em rotação elevada foi sufocante para os magrebinos, que explicaram sobejament­e os motivos da sua crise. Nem procuravam Brahimi para que este saltasse a pressão portuguesa, nem sabiam libertar a qua- lidade de Mahrez e muito menos trabalhar com Slimani como pilar para alguma progressão. O conjunto de Fernando Santos dominou por completo, geriu o ritmo e, depois de Cristiano solicitar o golo de cabeça de Bruno Fernandes com um cruzamento de classe, adivinhava-se a tal derrocada que, provavelme­nte, nem Portugal pretendia verdadeira­mente provocar. Mesmo assim, após a segunda estocada de Gonçalo Guedes, o recém-entrado João Mário ainda provocou grande alegria nos espectador­es que saudaram o seu 4-0 até o VAR descortina­r uma mãozinha marota de GG, mas sem ter dado conta de uma placagem de Slimani e Pepe na área argelina, ainda na etapa inicial. Os vídeo-árbitros, por acaso ingleses, integraram-se bem no ambiente e respeitara­m as tradições nacionais... *

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal