“Pensou que era mais importante do que os atletas”
A situação vivida pela equipa de futebol em Alcochete revelou uma estranha relação entre o ‘poder’ e as claques. Que opinião tem sobre este tema em concreto?
TA – As claques têm sido, nos últimos processos eleitorais, uma base importante da atual direção. Para ser sincero, gosto muito de ver o futebol inglês, o espanhol e o francês e gosto de ver um estádio inteiro a apoiar, e não um ‘gueto’, como é o caso das claques. Gosto mais de ver o apoio indiscriminado nas bancadas em Inglaterra, França ou Espanha e, ao que me parece, esses clubes não têm claques. No caso do Sporting, elas existem, os últimos presidentes concordaram; por isso, elas existem. Mas há algo que me fez arrepiar quando vi aquilo que aconteceu em Alcochete. Eu não acredito que as claques, compostas por jovens e menos jovens, estivessem reunidas e lhes passasse pela cabeça: ‘Agora, vamos a Alcochete, bater nos jogadores’. Isso é algo em que, como não tem lógica nenhuma, me custa acreditar.
Acredita que houve aqui uma preparação ou premeditação? TA – Esse o mistério. Essa é a pergunta de 5 milhões de dólares. Não há ninguém que consiga responder a isso. É uma situação que deixa qualquer sportinguista admirado e revoltado. Por isso, achei estranho que o presidente do clube, face a uma situação tão grave, tenha aparecido com tanta calma e não tenha posto a bandeira a meia haste, porque aquilo foi o dia mais triste da história do Sporting. Foi a claque? Se foi a claque que fez aquilo, o Sporting não precisa dela. Agora, se foram pessoas que se infiltraram na claque e a claque são pessoas normais, respeitáveis e que gostam do Sporting, de apoiar o clube, precisa. Há ali mistura. Porque aqueles foguetes que mandaram para cima do Rui Patrício só podem vir de pessoas infiltradas na claque. Eu não acredito que sejam elementos da claque.
Acredita que Bruno de Carvalho possa ter ligação ao sucedido? TA – Não acredito. Por aquilo que conheço dele, não acredito. E nem é o Bruno de Carvalho. Não acredito que qualquer pessoa possa ter a triste ideia de planear um crime, porque aquilo é crime. O que acho é que a gravidade da situação exigia uma tomada de posição mais forte e demonstrativa da revolta que aquilo produziu na massa associativa.
“NÃO ACREDITO QUE AS CLAQUES ESTIVESSEM REUNIDAS E LHES PASSASSE PELA CABEÇA: ‘AGORA, VAMOS BATER NOS JOGADORES’”
Mas considera que as sucessivas críticas, veladas ou não, à equipa de futebol podem ter conduzido àquele desfecho?
TA – Bruno de Carvalho, a partir de determinada altura, convenceu-se de que era mais importante do que os atletas. Não há nenhum sócio do Sporting que o seja por causa de um presidente ou de um qualquer diretor. Os sócios são-no por causa dos atletas, que fizeram gerações de sportinguistas. Como o Seminário, o Yazalde, o Vítor Damas, aquele trio-maravilha composto por Manuel Fernandes, Oliveira e Jordão, ou mais recentemente Rui Patrício, Gelson… Esses jogadores é que fazem a existência do Sporting. E quando Bruno de Carvalho, depois de se meter com toda a gente, foi embirrar com os jogadores – aquilo que na realidade faz com que as pessoas sejam do Sporting, reforço –, aconteceu-lhe logo o que ele viu em Alvalade. Infelizmente, ele, em determinada altura, pensou que era mais importante do que os próprios atletas. *