Record (Portugal)

Dias de grande ansiedade

- PAULO FUTRE

LAMENTO NUNCA MAIS TER JOGADO UM MUNDIAL DEPOIS DO DE 1986, MARCADO POR SALTILLO PORTUGAL ESTREIA-SE SEXTA-FEIRA NO MUNDIAL E LOGO FRENTE À ESPANHA. PENSO NOS MEUS FILHOS... DOIS VERDADEIRO­S IBÉRICOS

Quando se aproxima um Campeonato do Mundo, não consigo deixar de recordar, apesar de tudo o que se passou no México, aquele em que estive em 1986, por ter sido o único em que participei. Lamento tudo o que aconteceu em Saltillo – segurament­e uma das páginas mais negras do futebol português.

Lamento, igualmente, nunca mais ter regressado a tão importante competição,

mas, para lá do orgulho que sempre senti nas vezes em que vesti a camisola de Portugal, à minha maneira, porque era o mais jovem daquela equipa das quinas, também dei o meu contributo para a mudança que se verificou a partir dessa altura.

Não posso deixar de lembrar que, desde então,

os direitos dos futebolist­as profission­ais passaram a ser respeitado­s e que, no plano prático, se é verdade que em Saltillo os jogadores do Benfica e do FC Porto tinha relações muito difíceis, a partir desse Mundial passou a prevalecer o espírito que ainda hoje se mantém: a cor das camisolas dos clubes fica à porta do hotel no primeiro dia de estágio e só conta a da equipa nacional!

Hoje, como adepto, sofro de uma formamais intensa.

Sendo verdade que enquanto elemento que represento­u várias seleções de Portugal transforma­va a adrenalina numa entrega total ao jogo e, mal a bola começava a rolar, tudo passava. Agora a ansiedade já me domina desde há um par de dias.

Só descanso umbocadinh­o quando os jogos terminam .

De preferênci­a connosco vencedores. Imaginem, pois, como já me encontro e ainda faltam seis dias para o primeiro jogo, logo com a Espanha, para mim uma seleções favoritas a conquistar este Mundial.

E, por falar emEspanha, pior do que eu já estão

os meus dois filhos. São aquilo que denomino de verdadeiro­s adeptos ibéricos. E são mesmo ibéricos porque, sendo filhos de portuguese­s, viveram toda a sua vida no país vizinho. Mas quando chegam os jogos das duas seleções não deixam de se pintar com as respetivas cores – festejaram o Europeu que Portugal venceu em França, assim como os Europeus conquistad­os pelos espanhóis em 2008 (Áustria e Suíça) e 2012 (Polónia e Ucrânia), assim como o Mundial de 2010, na África do Sul.

O pior é quando as duas seleções se defrontam,

como aconteceu em Portugal (2004), África do Sul (2010) e no Leste da Europa (2012). Calculo que na sexta-feira aconteça o mesmo que naquelas três ocasiões: não veem o jogo comigo, nem com nenhum amigo, e optam por cada um ver sozinho o jogo nos respetivos quartos. Quanto ao resultado, para não ferir suscetibil­idades, é… “seja o que Deus quiser”.

Mas jáfalámos sobre o jogo e ambos disseram a mesma coisa:

ainda bem que é já. Porque se trata do primeiro jogo. Seja qual for o resultado, não será decisivo, pois, num Mundial, não é como se começa mas como se acaba. E correndo tudo como os três desejamos, as duas equipas só voltarão a encontrar-se na final. Que, para nós, e acredito que para todos os portuguese­s, seria a final ideal deste Campeonato do Mundo.

De qualquer modo, porque desejo paraaSeleç­ão o melhor resultado

– se possível semelhante ao do último Europeu –, só tenho a dizer: força campeões, força míster Fernando Santos, força PORTUGAL!

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