Record (Portugal)

“Metia a cabeça no cepo pelos que foram acusados”

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Aépoca do Rio Ave foi de grande sucesso, mas nem todos os momentos foram bons. Como é que a equipa se reergueu depois da desilusão na Taça de Portugal?

NM – Foi muito duro. Foi, talvez, o momento mais difícil da minha carreira, a nível emocional foi segurament­e o pior jogo. Um golpe duro, mas sabíamos que se ficássemos a viver nesse jogo íamos estragar o bom campeonato que estávamos a fazer. A seguir a esse jogo com o Aves fomos ganhar a Belém com um golo nos descontos e desde aí não mais saímos do 5º lugar. Depois de um golpe duro, demos uma ótima resposta. Esse jogo em Belém foi dos mais importante­s da época. Foi um carimbo do que queríamos levar esta época, em que tivemos uma regularida­de brutal.

O grupo nunca duvidou do modelo de jogo?

NM – Não, nunca. Tínhamos de estar preparados para o facto de nem sempre as coisas correrem de feição. Sabíamos que ia haver momentos maus. Mas nunca duvidámos, fomos sempre fiéis ao nosso estilo e a prova de que era o correto é que no final conseguimo­s o 5º lugar. Claro que era impossível agradar a todos, mas acho que, feitas as contas, os nossos adeptos só podem estar satisfeito pelos jogos que fizemos e por aquilo que conquistám­os.

E lidar com o clima de suspeição que, a determinad­a altura, se le- vantou sobre alguns jogadores do plantel. De que forma é que isso mexeu com o grupo?

NM – Resolvemos todos os problemas em família. Sempre! Metia a minha cabeça no cepo pelos jogadores que foram acusados, o Roderick, o Cássio, o Marcelo e o Nadjack. Metia a minha cabeça, fácil. Estivemos sempre unidos e isso, muito sinceramen­te, nunca foi assunto, não demos grande importânci­a. Se o grupo suspeitass­e de que isso teria algum fundo de verdade, acredito que mexesse connosco. Mas não era o caso, são jogadores sérios e que merecem toda a nossa confiança. Foi um assunto que criou mais ruído lá fora do que no nosso balneário.

Esse tipo de suspeitas foi novamente levantado no final da época, relativame­nte a outros atletas. Este clima mexe com a cabeça dos jogadores?

NM – É tudo tão lamentável que nem merece ser assunto. Estamos numa fase em que se marcas um golo estás comprado e se cometes um erro estás vendido. O que podemos nós fa- zer? Antes, os jogos com os grandes eram oportunida­des para nós, agora não, agora ainda estamos mais pressionad­os, com a ideia de que qualquer lance, qualquer erro, pode vir a levantar suspeitas mais tarde. Isso cria medo nos jogadores. E é triste. Porque somos campeões da Europa, temos o melhor jogador do Mundo e as pessoas preferem ligar a coisas que não interessam a ninguém, que a maioria até são mentiras. Preferem meter o foco em algo que estraga a nossa motivação. Até para quem está lá fora, olha para tudo isto e duvida se é boa ideia vir para um campeonato em que tudo serve para levantar suspeitas.

E para quem joga cá, dá mais vontade de sair?

NM – Eu não penso dessa forma. Estou de consciênci­a tranquila e tenho quase a certeza de que, grande parte das coisas que se falam, é mentira. Por mim continuo cá, se surgir alguma oportunida­de vai sempre depender do que for. O que sei é que tudo isto é feio para o futebol português, não devíamos estar a passar por um momento assim. Deveríamos ser referência e não somos. E é por culpa própria. *

“ANTES, OS JOGOS CONTRA OS GRANDES ERAM OPORTUNIDA­DES. AGORA HÁ MAIS PRESSÃO E OS JOGADORES SENTEM MEDO”

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