Record (Portugal)

“Meto a cabeça no cepo”

NÉLSON MONTE DEFENDE COMPANHEIR­OS DO RIO AVE

- TEXTOS JOSÉ MIGUEL MACHADO FOTOS MOVENOTÍCI­AS

Aos 22 anos, o central afirmou-se no europeu Rio Ave e diz-se pronto para suceder a Marcelo como grande patrão da defesa. A ambição de subir de nível existe, mas, por enquanto, a meta é deixar marca em Vila do Conde

Agora que Marcelo saiu, chegou a altura de se assumir como patrão da defesa do Rio Ave? NÉLSON MONTE – Sinto que sim. Já estou aqui há alguns anos e deu para aprender muito com quem esteve cá. O Marcelo é um grande exemplo para mim. Ainda estava eu na formação e já havia o Marcelo no eixo da defesa do Rio Ave. Passar esta época ao lado dele fez com que me sinta preparado para assumir, não o papel dele, mas um papel importante na defesa do Rio Ave nos próximos anos. E não estou só a falar dentro do campo, o Marcelo no balneário também era extremamen­te importante. É uma referência do clube. Pelo exemplo dele, do André Vilas Boas, do Roderick, três centrais que me ajudaram a ser o central que sou hoje, sinto que estou preparado para o que aí vem.

Nos últimos anos, Roderick e Marcelo deram o salto. É objetivo seguir-lhes as pisadas?

NM – Todos os jogadores que não estejam no patamar acima têm o objetivo de lá chegar. Eu não fujo a essa regra. O meu objetivo esta época foi conseguido, que era afirmar-me no Rio Ave e na 1ª Liga. Fi-lo de forma positiva, com uma boa época a nível individual e com sucesso a nível coletivo. O Roderick e o Marcelo são dois bons exemplos, que eu espero seguir. Mas por enquanto estou focado em fazer mais uma boa época no Rio Ave, ajudar o clube a crescer. Quero ser uma referência aqui antes de pensar em sair.

Qual foi o segredo para que a época que agora terminou tenha sido a da afirmação?

NM – O futebol é feito de oportunida­des. Já as tinha tido nas últimas épocas, mas desta vez houve mais consistênc­ia. É trabalho, sorte, oportunida­des. Tudo no mesmo bolo, que pode ou não dar bom resultado. No meu caso deu, agarrei a oportunida­de. Foi sem dúvida a minha melhor época e foi um bom ano do Rio Ave, que ajudou a que o lado individual sobressaís­se.

O estilo de jogo que Miguel Cardoso impôs ajudou a essa mesma afirmação?

NM – Sem dúvida. Quando começámos a perceber as ideias que o míster tinha e queria implementa­r… Era algo diferente, que nunca se viu em Portugal sem ser nos grandes. Pensei logo que vinha ao encontro da minha forma de jogar. Sou um central que gosta de ter bola. Diziam que a maneira de jo- gar era de risco, para mim não. A nossa maneira de jogar possibilit­ava, saindo a partir de trás, criar perigo se conseguíss­emos ultrapassa­r essa primeira fase. A ideia do míster é brutal. Quando começou o ano e vi o que ele pretendia, pensei logo que este seria o meu ano. Não comecei de início, mas quando tive a oportunida­de agarrei-a, dei continuida­de e tudo correu bem.

Foi um choque para o grupo quando ouviu pela primeira vez o que o Miguel Cardoso pretendia? NM – Um choque não digo, mas apanhou-nos a todos de surpresa. Mas depois, com o passar dos treinos e dos jogos, com os resultados a aparecer, passámos a acreditar seriamente. Soubemos adaptar-nos, fomos fiéis e demos sempre continuida­de a esse bom futebol. Foi um sucesso a todos os níveis.

Para um central, é mais fácil jogar assim, em posse, ou limitar-se a aliviar?

NM – Eu gosto mais assim, sem dúvida nenhuma. Sinto-me confortá- vel com a bola, gosto de sair a jogar, de provocar os adversário­s. Mas se o estilo fosse outro teria de me adaptar. Não sou jogador que goste de jogar feio, apesar de, na minha posição, isso às vezes ser necessário.

É central de equipa grande? NM – Não digo que seja, não posso ser eu a dizê-lo. Quem está nesses clubes é que tem de me considerar. E depois é tudo uma questão de oportunida­des. Só lá estando é que vou poder saber se sou ou não jogador de equipa grande.

Mas uma época a jogar desta forma deixa os jogadores mais preparados para esse salto...

NM – Sim, isso é óbvio. Todos no Rio Ave estão hoje mais preparados para ter a bola, para pensar com ela nos pés. As grandes equipas têm, normalment­e, mais bola. Esta época éramos uma equipa assim, creio que tivemos mais posse de bola em todos os jogos do campeonato. Isso tem de ser valorizado e deixou-nos mais preparados para o que possa vir no futuro.

ALiga Europa está assegurada. É um prémio justo para uma época histórica?

NM – Não queria muito falar da Liga Europa. Respeito o Aves, mas claro que para nós é excelente. É bom para os jogadores, bom para o clube, bom para a cidade. E será o terceiro apuramento para a Liga Europa em apenas cinco anos. O

“QUANDO PERCEBI AS IDEIAS DO TREINADOR ACREDITEI LOGO QUE ERAO MEU ANO. GOSTO DE TER ABOLAE SAIR AJOGAR”

que é fantástico e demonstra o cresciment­o do Rio Ave.

Nas outras presenças do Rio Ave na Liga Europa, não teve oportunida­de de se estrear. É um sonho que está por realizar? NM – Estamos a falar da segunda competição de clubes mais importante da Europa. Quem não sonha jogar nesses palcos? Sonho jogar a Liga Europa, a Champions, Europeus e Mundiais. Mas é preciso dar um passo de cada vez. E se me puder estrear nas provas da UEFA pelo Rio Ave, melhor ainda.

O Rio Ave passou de um clube intermiten­te para um que luta pelos lugares cimeiros da Liga. Como se explica o cresciment­o verificado nos últimos anos? NM – Isso dava para uma conversa de horas... Dou muito mérito ao presidente, é ele a peçachave. Mas todas as pessoas que cá trabalham têm mérito, podem ser poucos mas são muito bons. Com um orçamento curto, o Rio Ave combate com quem tem muito. E hoje em dia tornou-se um clube apetecível para qualquer jogador e treinador.

E não faltam exemplos de jogadores e treinadore­s que saíram do Rio Ave e agora estão no topo. É uma inspiração para quem está cá? NM – Penso muito dessa forma. O que não faltam aqui são exemplos de sucesso. O Ederson é talvez o maior de todos. Saiu de cá, esteve no Benfica, agora está no Manchester City e é dos melhores do Mundo. Tudo isto num espaço curto de tempo. Só temos de olhar para isso e pensar que pode acontecer connosco. É preciso trabalhar e acreditar.

O que falta ao Rio Ave para deixar uma imagem ainda mais vincada no futebol português? Ganhar umtroféu, por exemplo? NM – Ganhar uma Taça de Portugal era colocar o Rio Ave ainda mais na história. Temos estado perto, cada vez mais. E acredito que mais dia menos dia isso vai acontecer. O cresciment­o do clube é sustentáve­l e não está dependente disso. Imagina-se a levantar uma Taça de Portugal no Jamor?

NM – Seria um sonho realizado. Desde os 3 ou 4 anos que vejo os jogos do Rio Ave e agora estou aqui a jogar. Levantar uma Taça, do meu clube, é algo com que sonho, naturalmen­te.

Se chegarem ao Jamor e vencerem nas próximas duas épocas, quem vai levantar a Taça é o Tarantini. A renovação dele foi uma boa notícia? NM – É muito bom. Para o clube, para ele e para nós que o vamos ter cá mais duas épocas. É o nosso capitão, a referência no balneário e dentro do campo. O nome do Rio Ave já se confunde com o do Tarantini e isso é uma prova da bonita história que ele tem. É um exemplo a seguir?

NM – Sem dúvida. Trabalho para que um dia olhem para mim dessa forma. Já há quem me veja assim e isso deixa-me muito feliz. Mas ainda tenho o meu caminho a percorrer. Espero que um dia olhem para mim como um pilar e uma referência do clube. *

“O QUE NÃO FALTA NESTE CLUBE SÃO EXEMPLOS DE SUCESSO. OEDERSON DEVESEROMA­IORDE TODOS E ISSO É UMA MOTIVAÇÃO”

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