Record (Portugal)

A Seleção do ‘Nós’

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Ainda bem que começou ontem o Mundial para, finalmente, se voltar a falar de futebol, do jogo, dos artistas e não de tribunais, figuras menores e picaretas falantes. Vladimir Putin quer que a sua organizaçã­o seja um sucesso, que os mais de 400 mil visitantes esperados, que ali deixarão, segundo estudos, cerca de mil milhões de euros, vejam uma Rússia moderna, potência real, forte e orgulhosa na sua grandeza.

Os muitos milhões que verão o torneio pela televisão querem espectácul­o, craques a brilhar, golos e as suas selecções a ganhar. Millôr Fernandes sentenciou que “o futebol é o ópio do povo”, a substância que entra no sangue e consegue fazer esquecer os males do mundo durante 90 minutos. É de Cristiano Ronaldo, Messi, Pogba, Neymar, Kroos, Salah, Modric, Suárez, Iniesta, entre tantos, que desejamos que saia a inspiração para a pincelada de um quadro inesquecív­el.

“O artistanun­catrabalha­em condições ideais, pelo contrário, o artista existe porque o Mundo não é perfeito. A arte seria desnecessá­ria se o Mundo fosse perfeito”, o autor desta reflexão é um dos maiores cineastas de todos os tempos, Andrei Tarkovsky, russo, génio criativo, narrador de diversos universos, tão brilhante como todos os pormenores que dão a magia do futebol e assim será até 15 de Julho: um sublime confronto de deuses dos estádios que nos tirará por momentos da frente todos os obstáculos, disparates e horror do mundo. E Portugal que hoje entra em campo? Devemos acreditar sempre, mas não somos favoritos. Há uma plêiade de candidatos crónicos à nossa frente: Brasil, Alemanha, Espanha, Argentina, França. Aliás, é com os gauleses que parto para a nossa principal força. O presidente Emmanuel Macron, sobre a convocatór­ia de Didier Deschamps e a ausência de

FERNANDO SANTOS É UM MARCELO DOS RELVADOS

Karim Benzema, foi taxativo: “até um jogador talentoso pode minar um grupo”.

Ora, Portugal tem o melhor jogador do Mundo, mas pela sua humildade e bom relacionam­ento com os companheir­os, todos sabemos que Cristiano Ronaldo é uma peça essencial na agregação e união dos 23 elementos e nunca uma bomba de neutrões no balneário. Além disso, temos ao leme um Marcelo Rebelo de Sousa dos relvados, Fernando Santos. Que muitas vezes parece rezingão mas é um homem bem humorado e de afectos, que soube diluir os múltiplos ‘Eus’ em prol de um conjunto sólido e solidário. Esta armada que partiu para a Rússia, para lá de ser a nossa Selecção, terá as suas debilidade­s, mas a sua armadura é o ‘Nós’. Que sejam felizes e nos façam felizes.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

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