Record (Portugal)

Cristiano Ronaldo & mais 10

- FOI LINDO

FEZ TUDO SOZINHO, SOFREU AS FALTAS E COBROU-AS.

jogo de abertura de qualquer Campeonato do Mundo é suposto constituir-se numa sensaboria medonha. Reforçando a nota, deve a partida inaugural de um acontecime­nto desta dimensão terminar num empate, de preferênci­a sem golos, ou numa vitória pindérica da seleção do país anfitrião. É isto o que mandam as boas maneiras do internacio­nalismo. Os russos, sempre agarrados às suas manias, resolveram mandar às malvas esta bonita tradição da hospitalid­ade e destroçara­m a equipa nacional da Arábia Saudita com uma mão cheia de golos sem resposta. E, ainda assim, com tantos golos, o jogo foi uma sensaboria. Cinco golos e um aborrecime­nto. Aparenteme­nte, um Campeonato do Mundo de futebol é para os melhores do mundo, para a elite da elite desta magnífica indústria planetária. Felizmente, há exceções para alegrar com os preciosism­os das cores locais o sisudismo da presunçosa organizaçã­o. Não bastava ter a Espanha despedido o seu treinador 48 horas antes do jogo de estreia (até mais ver é o cúmulo do terceiro-mundismo deste Mundial’2018) e ainda se soube que o presidente da federação saudita, o senhor Ezzat, insultou publicamen­te os seus jogadores depois da catástrofe inaugural com a Rússia. Imagine-se um acontecime­nto portentoso como este, um Mundial, a ser beliscado intelectua­lmente pelos desvarios de um presidente exótico ao ponto de apontar a dedo os nomes dos jogadores que mais o desapontar­am em campo e ainda “os erros técnicos” gerais que conduziram à derrota. Uma coisa destas, de facto, só lá nas arábias.

Já o outro jogo do nosso grupo, entre marroquino­s e iranianos, só tendo um golo, foi mais interessan­te do que o dos russos com os sauditas com aquele despudorad­o fartote de golos. Começou muito bem a seleção de Carlos Queiroz. Jogou um bocadinho menos do que o adversário mas soube atar a equipa de Marrocos e es- perar pelo golpe de sorte.

“Cristiano Ronaldo & mais 10” – é uma espécie de firma - conseguiu a proeza de adiantar a equipa no marcador e depois voltou a re-adiantar a equipa no marcador e, finalmente, quando já eram os espanhóis que iam adiantados no marcador e a coisa se apresentav­a negra, lá voltou a firma “Cristiano Ronaldo & mais 10” a fazer das suas e a impor um empate que soube como ginjas, em função da realidade dos factos. Aliás, quer no penálti com que inaugurou a noite, quer no livre direto com que fechou a noite, Cristiano Ronaldo não precisou dos “mais 10” para nada. Fez tudo sozinho, sofreu as faltas e cobrou-as exemplarme­nte. Foi lindo.

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