Record (Portugal)

Era o que faltava! Ser mal agradecido...

António Magalhães

-

POR AQUILO QUE CRISTIANO RONALDO DEU E PELO QUE O JOGO NOS ‘OFERECEU’, SERIA UMA ENORME INGRATIDÃO A SELEÇÃO SAIR COM AS MÃOS A ABANAR

Bem se pode perorar que o futebol, como outros desportos, é um jogo coletivo e que sozinho nada se ganha. O próprio Cristiano Ronaldo, nas primeiras palavras que proferiu após o jogo, disse que a resposta da equipa foi brilhante. Pois sim. Mas julgo que por estes dias ninguém terá argumentos para rebater a teoria de que ontem foi Cristiano Ronaldo quem travou a Espanha e nos garantiu o primeiro ponto neste Mundial que, atendendo às circunstân­cias, soube a vitória.

Tentemos desfazer esta ideia com alguns exemplos práticos. Comecemos então pela ‘coragem’ que Fernando Santos teve em armar uma equipa que pretendeu encarar olhos nos olhos a favorita Espanha. E na verdade foi isso que fez no arranque do jogo, tomando a iniciativa de ter bola, como que a tirar a uma criança o seu brinquedo preferido. O génio de Cristiano cavou logo um penálti e Portugal ficou na frente do marcador, o que lhe permitiu passar para a segunda fase do plano A: apostar no contra-ataque.

Outro mérito não exclusivo de Cristiano: a equipa soube defender, cobrindo espaços, tapando caminhos, mostrando espírito solidário – inclusive CR7, que defendeu como nunca o víramos fazer. A saída para o contra-ataque não foi sempre a mais adequada, mas houve dois momentos perfeitos (aos 17 e 22’) que poderiam ter dado o segundo golo a Portugal. Em ambos, Gonçalo Guedes poderia ter sido elevado à condição de herói. No entanto, aquilo que ele normalment­e faz tão bem – ser decidido na finalizaçã­o – perdeu-se em frações de segundo de hesitação. Remato? Passo ao Ronaldo? Fujo? Perante estas dúvidas, Guedes desperdiço­u instantes que lhe custaram caro.

AEspanha é uma superequip­a e desperdiça­r as coisas boas que o jogo proporcion­ou, foi fatal para Portugal. Quando ‘nuestros hermanos’ passaram a ter bola, pas- saram a controlar o jogo, a dominar o adversário e a fazer aquilo que mais lhes agradava. O corredor esquerdo com Jordi Alba, Isco e Iniesta tornou-se um autêntico triângulo das Bermudas, por onde os portuguese­s desapare- ciam quase sem saber como. Um pesadelo.

O jogo foi generoso para Portugal e com Cristiano Ronaldo a responder sempre presente (aquele minuto em que ganhou a falta para um livre à sua medida, seguido dos instantes de concentraç­ão e profunda convicção de que iria marcar são dignos de um filme), seria de uma suprema ingratidão sair de Sochi de mãos a abanar. O último grande mérito da equipa que tem de se curvar (como todos nós) aos pés de Ronaldo, foi não se ter desequilib­rado e até colapsado quando a Espanha deu a volta ao jogo. ‘La Roja’ estava nas suas sete quintas e a sensação que dominava o pensamento prenunciav­a um destino: pronto, acabou. Não, não, não – respondeu a equipa. Siiiiiii, gritou Cristiano.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal