Record (Portugal)

A NT ÓNIO MORA T O

Aos 53 anos, antigo central leonino é o novo diretor desportivo do Sintrense, mas não esquece as raízes que deixou em Alvalade, nem as histórias que o ligam ao clube

- FRANCISCO LARANJEIRA

Não é todos os dias que temos ocasião de estar frente a frente com uma lenda verde e branca, capitão em Alvalade aos 17 anos, 179 jogos com o leão ao peito, campeão português em 1979/80 e membro da Seleção Nacional que participou no Mundial de 1986, no México. António Morato é o novo diretor desportivo do Sintrense, do Campeonato de Portugal, e a conversa com o antigo defesa-central, atualmente com 53 anos, traz memórias do passado e ambições para o futuro bem presentes . Em pleno Mundial, e com a crise do Sporting bem latente, o ex-internacio­nal portu- guês não escondeu a desilusão pelo momento do clube de Alvalade. Aliás, costuma lembrar com humor que nasceu em pleno relvado de Alvalade, até por ser filho de... António Morato, igualmente um antigo defesa dos leões, durante sete épocas, na década de 50/60. Uma raiz sportingui­sta que se nota no desencanto pela atual situação do seu clube do coração. “Fico incrédulo com os pedidos de rescisão dos jogadores do plantel. Se a questão das mensagens enviadas pelo presidente Bruno de Carvalho era tão importante, e se foi assim, sempre, desde que entrou para liderar o clube, então porquê só agora é que os jogadores avançaram com os pedidos de rescisão?”, interroga-se Morato, que, sublinha, no seu tempo ter vivido momentos bem complicado­s em Alvalade, onde passou seis temporadas de leão ao peito.

Problemas com a Juve Leo

“Passei por pior quando rescindi com o Sporting. Sousa Cintra entrou no clube e recusou pagar-me o que estava em falta. Dizia-me para ir ‘pedir ao Gonçalves’, que ele só se responsabi­lizava pelos dois anos de contrato ainda em vigor. Rescindi na hora, contra a minha vontade...”, confessa o antigo defesa-central, que recorda ao pormenor a saída pela porta 10A do ‘velho’ Alvalade. “Tinha 300 adeptos em fúria cá fora. Tive de sair sozinho, com as chuteiras de pitons de alumínio nas mãos, sem polícia, por entre a multidão. Foram uns primos que me vieram buscar, numa carrinha”, recorda. “Tínhamos os nossos problemas com adeptos, com a Juve Leo, no meu tempo, e tínhamos de nos desenrasca­r como podíamos. Passei pior com os adeptos do Sporting no meu tempo. Cheguei a regar, com gasolina, dois adeptos que me chamaram ‘filho da p...’ numa bomba de gasolina”, acrescenta Morato.

A atual crise leonina, potenciada pela entrega da carta de rescisão de nove atletas do Sporting, não terá fácil resolução, admite. “Isto pode demorar entre 5 e 10 anos a resolver. No meu tempo não era uma ação legal discutir a rescisão e assinar por outro clube. E se o tribunal desse razão ao clube? Tínhamos de regressar... mas era uma altura em que não havia empresário­s, em que o futebol não era só um negócio”, frisa. Morato passou quatro meses sem jogar, recebendo propostas do União da Madeira – “financeira­mente muito boa, mas não gosto da ideia de voar, e fazê-lo de 15 em 15 dias ia tornar-me velho

“TINHA300 ADEPTOS EM FÚRIA ÀESPERA. TIVE DE SAIR SOZINHO, COM AS CHUTEIRAS NAMÃO, SEM POLÍCIA”, LEMBRAO ANTIGO LEÃO

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