Furacão bipolar
O desaire inesperado na jornada de estreia diante do Irão coloca uma pressão aterradora sobre a seleção marroquina, que, em caso de derrota, poderá ficar eliminada da competição à 2.ª jornada. Aforma como os Leões do Atlas lidarão com esse aperto, que tem tudo para se metamorfosear numa bombarelógio, será crucial na abordagem ao confronto ante a Seleção Nacional, que será arguta a explorar essa efervescência. Os marroquinos expõem um ideário extremamente sedutor, onde a posse e o futebol apoiado são suportados pela superior qualidade técnica da maior parte dos seus executantes, encabeçados por Ziyech, Amine Harit e Belhanda. Contudo, existem problemas gritantes na definição dos lances, patentes nas amplas arduidades em visar com qualidade a baliza rival apesar do elevado caudal ofensivo em ataque posicional, o que redunda numa bipolaridade comportamental que se poderá tornar letal. Isto porque à abordagem inicial mais calma, em que se mostra capaz de ligar o jogo entre os diferentes sectores fazendo circular a bola entre os três corredores, pode suceder-se uma impaciência gritante que tolhe a capacidade para tomar a melhor decisão, conduzindo a um individualismo excessivo e/ou a momentos de extraordinária apatia e inconsequência.
Habitualmente fielaumaorganização estruturalem 4x3x3, com variações pontuais para o 4x2x3x1, fruto do recuo de Boussoufa para uma zona mais próxima de El Ahmadi, Hervé Renard, um treinador que venceu a CAN pela Zâmbia e pela Costa do Marfim, pode sentir-se tentado a recorrer ao 3x4x1x2 que utilizou num parti- cular recente ante a Ucrânia, em que abdica de uma das unidades de ataque para reforçar o setor defensivo com um 3.º central – Manuel da Costa – com o objetivo de tornar a equipa mais equilibrada. O que nem sempre acontece. É que apesar de se revelar capaz de realizar uma reação pungente à perda, o que abre caminho à exploração magrebina de contra-ataques e ataques rápidos em que fruem de mais espaço para chegar a zonas de definição, se a primeira linha de pressão for ultrapassada a equipa desequilibra-se com uma facilidade aterradora, ficando extremamente vulnerável, principalmente nos corredores laterais. Problemas que também são visíveis em organização defensiva, devido à elevada propensão ofensiva dos laterais, pouco consistentes na defesa do espaço interior, acrescentando-se as vulnerabilidades no controlo do espaço entre a linha defensiva e intermediária, e na defesa de bolas paradas laterais, onde é clara a predominância por referências individuais, convidativas a ações de antecipação ao primeiro poste, e a deficiente cobertura da zona do segundo poste.