Record (Portugal)

Não há drama mas há aviso

- António Simões

O JOGO COM MARROCOS MOTIVOU UM CORO DE CRÍTICAS, ALGUMAS ATÉ EXAGERADAS. MAS OS NOSSOS JOGADORES PODEM E DEVEM REFORÇAR AS COMPONENTE­S EMOCIONAIS. AFINAL, SOMOS CAMPEÕES DA EUROPA

O embate de Portugal com Marrocos tem suscitado um imenso prolongame­nto. Prolongame­nto escrito e oral. Quase sempre crítico, até exageradam­ente crítico, sugerindo a existência de um drama por causa de uma vitória que não teve correspond­ência em termos exibiciona­is, alimentand­o um sentimento de frustração a intervenie­ntes e aficionado­s.

Foi um jogo de muitos duelos,

demasiados duelos, que a nossa Seleção demonstrou incapacida­de para contrariar. Portugal andou sempre atrás do jogo, e se não andou atrás, andou ao lado, que é quase a mesma coisa ou é pior ainda. Quantas vezes ganhámos a primeira bola? E da segunda bola nem é preciso falar, tão evidente foi o nosso desconfort­o.

Houve ausência de agressivid­ade no pensamento,

salvo a defender. Nesse particular, com raras exceções, sobretudo na fase final da partida, a equipa esteve física e mentalment­e crescida. Defender é uma parte do jogo, a tal parte em que não há razões maiores de preocupaçã­o. Mas o jogo tem outra parte, a parte ofensiva, sendo que nessa a carência chegou a ser confranged­ora, se excetuar- mos o lance vitorioso de Ronaldo e mais dois ou três apontament­os episódicos.

Nunca chegámos a tempo de

apanhar o jogo, não nos libertámos dos defeitos e jamais exibimos as virtudes. Mas foi um triunfo importante, porventura decisivo nesta fase da competição. Há razões para celebrar, mas há outras tantas para refletir. Reforço que importa refutar aquele dramatismo tão nosso, tão português. Ainda assim, não é razoável (salvou-se o desfecho) passar da competên- cia que demonstrám­os, ainda que não de forma exuberante em termos coletivos (Cristiano Ronaldo fez a despesa individual da coisa), frente à poderosa Espanha, para uma incapacida­de, nos mais diferentes domínios, perante a turma marroquina de dimensão mediana. Em termos individuai­s, destaque óbvio para o golo, de resto decisivo, obtido por Ronaldo.

Permito-me advertir os adeptos ,

sustentado na minha experiênci­a: preparem-se para ver Ronaldo cada vez menos com bola, ainda que igual ou ainda mais forte na eficácia.

A esperança continua, a paixão subsiste.

Os nossos jogadores, até pelo contágio nacional a que jamais poderão ser alheios, podem e devem reforçar as componente­s emocionais. Somos campeões da Europa, já soubemos exterminar o fatalismo lusitano. Importa, sem sobranceri­a, sempre com humildade, perceber e fazer prova, na arena das emoções, que os outros só poderão ser melhores se nós deixarmos. E não poderemos deixar.

PREPAREM-SE PARA VER RONALDO CADA VEZ MENOS COM BOLA, AINDA QUE IGUAL NA EFICÁCIA

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