Record (Portugal)

Do oitenta aos ‘oitavos’

António Magalhães

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A TRIVELA MÁGICA DE RICARDO QUARESMA DEIXOU-NOS NAS NUVENS E O PENÁLTI DE RONALDO PODERIA TER-NOS LEVADO AO CÉU. AO INVÉS, CAMINHÁMOS À BEIRA DO ABISMO ATÉ À 2.ª FASE

’Mister Chip’ é um fenómeno das estatístic­as no mundo digital e logo após Portugal marcar o 1-0 escreveu: “o golo de Ricardo Quaresma, por certo, é antológico. Bom, a maioria dos golos que marca são assim...” São, de facto, e aquela trivela mágica a fechar a 1.ª parte do encontro com o Irão deixou-nos às portas do paraíso.

Até a esse momento genial ( não apenas o gesto técnico a levar a bola a entrar na gaveta, mas também o toque habilidoso de Adrien Silva a rasgar caminho), Portugal teve quase sempre o controlo do jogo, perdendo apenas algum equilíbrio quando, por culpa própria, começou a errar passes fáceis a meio campo. Foi mais por incompetên­cia e desconcent­ração do que propriamen­te por pressão dos iranianos. Aliás, se havia dúvidas quanto à estratégia da seleção treinada por Queiroz, elas desfizeram-se logo no arranque do jogo. Apesar de ter de vencer para passar, o Irão apresentou-se com um bloco baixo e compacto, deixando Portugal circular a bola no seu meio-campo.

Equilíbrio e segurança são palavras-chave na Seleção de Fernando Santos. Mesmo num contexto favorável, o treinador só liberta a equipa pela certa. Não corre riscos desnecessá­rios, é pragmático como um engenheiro tem de ser rigoroso nos seus cálculos, não se atreve a dar um passo maior do que a perna, a não ser que seja obrigado a isso. Sendo assim, a prioridade foi sempre esta: garantir o essencial e dispensar o acessório. Não se queixe por isso por ter ficado no 2.º lugar em vez de ter terminado no 1.º.

É claroquetu­dopoderiat­ersido diferente se Cristiano Ronaldo não tem falhado o penálti. Portugal teria chegado ao 2-0 e nessas cir- cunstância­s já dificilmen­te o Irão seria capaz de nos criar os sobressalt­os que acabou por provocar, chegando ao ponto de nos deixar à beira de um ataque de nervos. Sim, é verdade. Portugal passou do oitenta da trivela mágica de Quaresma, para o oito logo após o falhanço de Ronaldo. E fomos caminhando até aos ‘oitavos’ com o abismo ali ao lado porque nestas coisas estamos sempre à espera de uma fatalidade.

Vá lá, evitámos o pior – que seria uma enorme desilusão para não falar em humilhação – mas, parafrasea­ndo Ronaldo, continuamo­s a jogar pouco. Há um problema que limita a Seleção e não se percebe se é uma questão de incapacida­de (física?) ou apenas de interpreta­ção do jogo, como tem insistido Fernando Santos. Seja o que for, convém que se descubra e se resolva.

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