FIFA não deve ser mais papista do que o Papa
FIFA faz muito bem em não aceitar que a política seja misturada com o futebol, mas também não pode querer ser mais papista do que o Papa. Isto a propósito da decisão, que irá ser tomada hoje, de castigar ou não os suíços Shaqiri e Xhaka com dois jogos de suspensão, o que os impediria de defrontar a Costa Rica, num encontro que pode valer a passagem dos helvéticos aos oitavos-definal. O processo resultou de os dois jogadores, filhos de refugiados albano-kosovares, terem comemorado o golo suíço da vitória frente à Sérvia fazendo gestos que representavam a águia de duas cabeças, símbolo da Albânia. Os sérvios e Putin não gostaram, mas a comemoração esteve longe de poder ser considerada ultrajante. Até porque o Kosovo pode não ser reconhecido pela Sérvia, mas já é independente desde 2008. E – o gesto – não é assim tão diferente de ver (como já vimos) Nani com a bandeira de Cabo Verde ou Deco com a do Brasil, no final dos jogos. Mais ainda: a Suíça é uma espécie de Torre de Babel, com jogadores de 12 procedências diferentes e o selecionador até é um bósnio com ascendência croata. O facto de os jogadores, nos momentos mais dramáticos e emocionantes em campo, não esquecerem as suas raízes não os impede de ter sentimentos patriotas em relação às nações que representam, como de resto dois ministros suíços já tiveram o cuidado de defender. A FIFA deve é castigar severamente os cânticos homofóbicos e estar atenta, por exemplo, às ameaças de morte de que está a ser alvo Jimmy Durmaz, o sueco de origem síria que cometeu a falta sobre Werner que esteve na origem do maravilhoso golo de Toni Kroos.