Record (Portugal)

Elogio da coerência (e do aborrecime­nto)

- FICOU INTRANQUIL­O

QUANDO EM VANTAGEM, UMA VEZ MAIS FOI QUANDO PORTUGAL

Os jogos de preparação criaram um problema a Fernando Santos. As boas exibições de Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Gelson e Gonçalo Guedes antes da partida para a Rússia vieram baralhar as contas do selecionad­or. Para quem aposta (quase) tudo nos equilíbrio­s da equipa e na capacidade de Cristiano criar desequilíb­rios, acomodar na ideia de jogo – que tão bons resultados tem dado – todo este talento e irreverênc­ia não era fácil.

E, como se tem visto no Mundial, a Seleção ficou numa espécie de terra de ninguém. Continua a não encantar, mas também não revela os equilíbrio­s que a caracteriz­aram no Euro. Sintomatic­amente, de- pois de um jogo falhado com Marrocos, ontem, Fernando Santos regressou ao sistema do passado. Com resultados assim-assim.

Na hierarquia de talento individual, Bernardo, Gelson, Guedes e Bruno Fernandes vêm logo depois de Cristiano. Mas Quaresma dá mais profundida­de do que Bernardo (e não necessita de tanto apoio para atacar), André Silva é mais forte nas disputas de bola do que Guedes e Adrien parece regressado à forma de há dois anos. Com eles em campo, a Seleção ganhou em coerência com a ideia de jogo do selecionad­or o que perdeu na capacidade de criar desequilíb­rios. Com o Irão, Portugal entrou bem no jogo e vimos, de novo, a Seleção personaliz­ada de Fernando Santos. Uma equipa que, no Mundial, na relação entre eficácia e cinzentism­o estético não tem adversário­s à altura.

Durante a primeira meia hora, mesmo sem assustar um ultraequil­ibrado Irão, Portugal conseguiu ter mais posse e controlar a partida com bola (até ao momento em que William deixou de gozar de alguma liberdade de movimentos). Depois de um golo de mágico de Quaresma, e é aí que reside a estranheza, a equipa sofreu mais do que o habitual a defender e saiu mal a construir desde trás. Quando em vantagem no marcador, uma vez mais, foi quando Portugal ficou mais intranquil­o.

E agora que o Mundial entra numa fase diferente? Claramente o contexto tornou-se, de novo, mais propício ao jogar de Portugal. Uma seleção que se tem mostrado vitoriosa e mais letal quando pode ser mais aborrecida, não tendo de assumir a iniciativa, e lhe é permitido aguardar pelo erro do adversário. Precisamen­te o que temos de fazer, já no sábado, com um Uruguai forte a defender (ainda não sofreu golos) e, essencialm­ente, muito contundent­e a marcar.

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