Não perguntem mais nada ao Carlos
O COMPORTAMENTO DO TREINADOR NO PÓS-PORTUGAL-IRÃO FOI MISERÁVEL
Ao contrário de muitos jornalistas da minha geração, que sempre o olharam de lado, tenho genuína admiração e respeito por Carlos Queiroz. Não tenho dúvidas sobre as suas qualidades, a sua inteligência, o quão à frente esteve do seu tempo e o quanto o futebol português lhe deve. Mais: em distintas ocasiões, acho que Portugal – e Portugal são pessoas em concreto, na Federação e no Estado – o destratou e lhe faltou ao respeito, mesmo que ele tenha procurado o confronto por ser essa a sua natureza.
Queiroz, umemigrante de muitas vidas, foi sempre mais feliz e reconhecido fora de portas e às vezes em estranhas latitudes do que na sua terra. Falámos disso – eu e ele –, voando noite dentro de Joa- nesburgo para o Dubai. O facto de ser um cidadão do Mundo, nascido em África e habituado a superar obstáculos, reforçou essa capacidade de adaptação. E de se levantar depois de cair ou de o atirarem ao chão.
Ora, ditoisto, todooseucomportamento no pós- Portugal-Irão foi miserável. Escrevo sobre o pósjogo intencionalmente. Antes da partida, Queiroz fez tudo para desestabilizar o opositor, usando o seu acesso privilegiado aos media portugueses. Fez o que devia. Falou, fingindo não falar, do problema com Ronaldo em 2010, colocou pressão máxima e chegando a lembrar que tinham ficado fora dos convocados de Fernando Santos “jogadores do Barcelona, do Monaco ou do Inter”. OopositoreraPortugal, campeão daEuropa, e podendo não gostar dos ‘mind games’ e de uma ou outra referência, é preciso entendêlas à luz do que ia acontecer. O Irão podia fazer história. Durante o jogo foi o que se viu. Um comportamento de pressão permanente e vitimização sem sentido mas, mesmo isso –que em Queiroz jamais seria inocente –ainda se poderia enquadrar no calor do embate.
Depois, não. E depoisninguémlhe pediapatriotismo. Apenas bom senso e sentido de justiça. Asua voz foi uma voz isolada, não em Portugal. Em geral. Ora, o que é ridículo é que Queiroz, que definiu e executou uma estratégia cega de confronto do início ao fim –não tendo dúvidas, por exemplo, no facto de Portugal ter sido beneficiado em todos os lances –, se queixou amargamente que a maioria dos seus compatriotas não lhe dirigiram a palavra, e muito menos o agradecimento devido ao facto de ele ser alguém tão especial. Asério? Naquele momento? Naquelas circunstâncias?
OtemaparaPortugalestáfechado. E, em nome do que de melhor foi feito, gostaria que para Carlos Queiroz também, mas não sei. Prefiro, na verdade, guardar o bom espírito do Irão e a grande entrevista, sobre futebol, que deu ao jornal espanhol ‘El País’ poucos dias antes do Mundial.