FE EM DEUS
"Que Ronaldo faca a diferenca"
Para trás ficou o calculismo da fase de grupos, a ansiedade da calculadora ou as notas artísticas que valeram elogios e, na maioria dos casos, um bilhete de regresso a casa. Agora é a doer porque, a partir de hoje, os jogos são a eliminar: cada momento de cada jogo, cada ação, assume uma dimensão exponencialmente mais dramática, porque qualquer desequilíbrio pode resultar numa vantagem decisiva, da mesma forma que o mais pequeno erro pode ditar o fim do sonho. Para nada contam as dificuldades sentidas para ganhar a Marrocos ou o sofrimento do empate com o Irão, da mesma forma que de nada valem as três vitórias do Uruguai, os cinco golos que marcou ou o facto de não ter sofrido nenhum. Agora, é uma questão de estofo, e o estofo joga com as quinas ao peito.
É certo que Portugal tem pela
frente, provavelmente, um candidato ao triunfo final se, porventura, conseguisse o apuramento para os ‘quartos’ – mas o embate tem de ser encarado com a confiança de quem vai jogar no seu ambiente, no ‘terreno’ de quem recentemente triunfou em contexto semelhante, enquanto os sul-americanos contam com um grupo recheado de qualidade e talento, mas que não tem sido capaz de ultrapassar a sombra que vai crescendo desde a cada vez mais longínqua vitória na Copa América, em 2011. Os nossos jogadores, pelo contrário, viveram e venceram juntos a mais importante conquista do futebol português e chegam a este Mundial com a maturidade e experiência de quem se sagrou campeão da Europa, de quem provou que nenhum momento lhe parece grande demais.
Pouco importa a experiência de Muslera, a solidez de Godín e Giménez, esteio de uma defesa até agora intransponível, o ritmo ‘italiano’ de Bentancur e Vecino no meio-campo, ou mesmo a classe mundial de um ataque formado por Suárez e Cavani. Hoje, mais do que o talento, que também abunda nas hostes lusitanas, conta o espírito construído por um grupo de jogadores que sabem o que valem e já mostraram ser capazes de se adaptar ao contexto do jogo, em função do que o momento e o adversário exigem, algo que este Uruguai ainda não provou estar apto a fazer. Hoje, mais do que o elevado número de ações explosivas com menor tempo de recuperação entre esforços que caracterizam este tipo de jogos, contará a qualidade das decisões sob fadiga e o forte compromisso coletivo com os princípios de jogo. Hoje, mais do que a altura do bloco e as zonas de pressão, pode e deve mandar a serenidade madura e o controlo emocional necessários para aproveitar as oportunidades que o talento Nacional inevitavelmente irá criar. Hoje, mandamos nós.
DE NADA VALEM AS TRÊS VITÓRIAS CONQUISTADAS PELO URUGUAI