Record (Portugal)

A merce de um matador

Um só erro numa grande 2.ª parte foi-nos fatal. Tivemos tudo a mais, menos a eficácia. As nossas balas eram de borracha, as de Cavani de prata

- CRÓNICA DE ANTÓNIO MAGALHÃES

Portugal está fora do Mundial e não adianta chorar. Saímos de cabeça erguida, após a exibição mais conseguida que fizemos na Rússia, mas sabemos – nós, melhor do que ninguém – que nem sempre é preciso ser melhor para se ganhar um jogo. Perdemos com o Uruguai, pois deixámos – com mérito celeste também – que o jogo ficasse ao ‘jeito’ deles e porque foram mais competente­s do que nós. Não, não vale a pena chorar. O Mundial continua e Portugal volta a casa. Sem espanto, sem dramas, sem lamentos.

Condiciona­dos

Fernando Santos mexeu na equipa e percebeu-se a intenção: potenciar o jogo no corredor direito através do envolvimen­to ofensivo de Ricardo Pereira, mais afoito do que Cédric e capaz de oferecer mais qualidade de bola a Bernardo Silva. Já a inclusão de Guedes partia do pressupost­o de que o jogo seria dividido durante largo tempo e a velocidade do 17 poderia ser aproveitad­a na profundida­de. Acontece que o jogo atraiçoou o plano de Santos. Umgolo cedo, fez o Uruguai baixar o bloco e reduzir (diria até anular) qualquer espaço nas costas da linha defensiva, pelo que Guedes deixou de fazer sentido. Por outro lado, Ricardo ficou ‘marcado’ pelo golo celeste que resultou numa combinação entre Cavani e Suárez, sendo que este facilmente se desembaraç­ou do lateral português para devolver a bola ao seu companheir­o de ataque para este fazer o golo.

Ou seja, antes dos 10 minutos já a nossa estratégia estava condiciona­da. Perante este quadro, Portugal apostou num jogo elaborado, com muito toque, muita circulação, muita largura, mas pouca (pouquíssim­a!) objetivida­de e contundênc­ia. Houve muita posse, mas sempre sem velocidade, repentismo, inspiração e, especialme­nte, sem remate. Não é que os uruguaios fizessem muito mais, mas fizeram melhor. Com um futebol mais prático e sobretudo direto aos pontas-de-lança (é um luxo ter dois avançados que lutam pela bola como se fosse a última e que só têm olhos na baliza), o Uruguai ainda teve uma grande oportunida­de (livre de Suárez e espantosa defesa de Patrício) e geriu o jogo a seu belo prazer sem que Portugal se desfizesse do tricô que era o seu jogo, tropeçando mais no novelo da sua incapacida­de, do que na resistênci­a do adversário.

Um tiro pelas costas

Fernando Santos voltou a mexer

(e bem) para a 2ª parte: deslocou Bernardo Silva para o corredor central, colocou João Mário na direita e Guedes na esquerda e lançou Cristiano Ronaldo para a área, fixando os centrais. Portugal assumiu a iniciativa do jogo e dominou-o. No melhor movimento de ataque, que terminou com um remate de Adrien, ganhou um canto. E dele nasceu o golo do empate. O Uruguai prova- va o veneno que usara na fase de grupos: a bola parada.

Mais do que uma boa sensação, era a mais fiel realidade: a Seleção estava ‘por cima’ do jogo e adivinhava­m-se novos momentos felizes. Não foi isso que aconteceu. Um desequilíb­rio coletivo com a equipa projetada para o ataque, obrigou Pepe a sair da sua zona para uma abordagem em falso, abriu caminho a um assassino profission­al. Foi como que um tiro pelas costas. Cavani fez aquilo que Bernardo (encheu o campo após o intervalo) não conseguiu, apesar de bem enquadrado com a baliza. Foi cruel o que se passou na 2ª parte. A Seleção tentou tudo perante um Uruguai confortáve­l no seu ‘catenaccio’ e na sua vantagem. Sobra um sabor amargo, porque fica a certeza de que Portugal tinha equipa para ganhar ao Uruguai e seguir para os ‘quartos’. *

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