"RONALDO JAMAIS RENUNCIARA A SELECAO JOSÉ SEMEDO
As pessoas reconhecem-no mais por ser jogador do V. Setúbal ou por ser um dos melhores amigos de Cristiano Ronaldo? JOSÉ SEMEDO – Acredito que antes de chegar ao Vitória me conheciam mais por ser amigo do Cristiano, mas as pessoas de Setúbal, por exemplo, veem-me mais como jogador do Vitória. Ser conhecido como grande amigo dele não me incomoda nada. + Lembra-se do momento em que o conheceu?
JS – Lembro-me perfeitamente. Era um miúdo pacato que não falava muito, madeirense, com sotaque cerrado, o que nos impedia de perceber algumas coisas. Foi num treino do Sporting e tínhamos 11 anos. Ele chegou e, de repente, começámos a vê-lo fazer o que víamos apenas o Ronaldo fazer no Barcelona ou o Ronaldinho no PSG, a fazer vírgulas e a fintar. Toda a gente parou para vê-lo. Lembro-me como se fosse hoje. + Quais as razões pelas quais se tornaram melhores amigos?
JS – Eu era de Setúbal e ele da Madeira. Estávamos ambos afastados de casa e tornámo-nos logo próximos. Éramos os mais novos e a amizade surgiu no centro de estágio onde estávamos com os sub-15 e sub-16 que já tinham contratos profissionais. Nós éramos os miúdos e a partir daí cresceu a nossa amizade. + O facto de virem de meios desfavorecidos aproximou-os?
JS – Creio que sim, mas penso que mais importante do que isso foi o facto de sermos os mais novos, partilharmos o mesmo quarto e andarmos sempre juntos na escola e nos treinos.
+ Podiam ter seguido caminhos diferentes, mas isso não aconteceu. Qual o segredo da vossa amizade duradoura? JS – Acima de tudo, a lealdade e sermos verdadeiros um com o outro. Na nossa vida temos amigos de infância, mas quando chegamos à idade adulta, cada um segue o seu caminho. No nosso caso, por convivermos tanto tempo, acabámos por ver a lealdade e o amor entre pessoas que querem o bem umas das outras e se ajudam sempre que é preciso. É o que acontece entre nós, eu, o Cristiano, o [Miguel] Paixão, o Ricardo [Regufe] e o irmão do Ronaldo [Hugo]. É irmão, é amigo, uma pessoa honesta que está lá sempre para dar um conselho. Criámos uma família que não é de sangue. + Onde passaram férias juntos pela primeira vez?
JS – Foi no Mónaco, há cerca de cinco anos.
Devido ao Mundial este ano estão desencontrados…
JS – (Risos) É verdade, por razões profissionais, este ano já não vai dar, mas falamos todos os dias.
Em 2017/18, Cristiano não o foi ver ao Bonfim. Poderá ser que esta época isso aconteça?
JS – Claro que sim. Ficaria muito feliz se ele pudesse vir. O Cristiano disse a época passada que as equipas que seguia eram o Sporting, por ter jogado lá e porque estava no clube o Fábio Coentrão, o Vitória, porque estou aqui eu, e o Besiktas, pelo Pepe e pelo Quaresma. Os vitorianos já sabem que o Cristiano torce por nós.
O Cristiano de hoje é diferente do que era há dez anos?
JS – É igual. É muito brincalhão, rise com tudo e gosta de estar sempre na brincadeira. Quando estamos juntos, é muito raro falarmos de futebol. Jogamos mais ténis.
Daqui a quatro anos Portugal continuará a ter o capitão?
JS – Acredito que sim. Penso que poderá não estar tão envolvido ao nível de todos os jogos das qualificações para poder chegar em melhor forma ao Mundial, mas, enquanto estiver no ativo, independentemente da idade, jamais irá renunciar à Seleção. O Cristiano adora jogar por Portugal, ouvir o hino, e adora o entusiasmo do povo português.
Como viu o desempenho de Portugal no Mundial?
JS – Ao nível de um Mundial tudo se define por detalhes, um momento de desconcentração não permite que se volte atrás. Para mim, os ra- pazes foram uns campeões e temos de estar orgulhosos. Bateram-se bem num grupo muito difícil. Nos ‘quartos’, Portugal foi melhor equipa do que o Uruguai. Procurámos jogar mais e o adversário defendeu e apostou no contra-ataque. Jogaram como se fosse uma final: fechados e à espera de uma oportunidade.
Curiosamente, a equipa não perdeu quando Cristiano marcou, facto que diz bem da sua influência… JS – Quer queiramos quer não, ele é, de longe, a estrela maior. Com todos os nossos antepassados, ‘Figos’ e ‘Eusébios’, o Cristiano foi o único na geração dele que conseguiu catapultar Portugal para outra dimensão. Cinco Bolas de Ouro não são por acaso. Nem eu nem os meus filhos e, provavelmente, nem os meus netos ou bisnetos devem ver outra pessoa carregar o nome de Portugal como o Cristiano carregou o nosso país.
Alguma vez pensou que o Cris-
“[CHEGARÁ À SEXTA BOLA DE OURO?] À SEXTA E À SÉTIMA! ENQUANTO ELE ESTIVER NO ATIVO TUDO É POSSÍVEL” “NEM OS MEUS NETOS OU BISNETOS DEVEM VER OUTRA PESSOA CARREGAR O NOME DE PORTUGAL COMO O CRISTIANO”
tiano poderia ser eleito vários anos como o melhor do Mundo? JS – Não, mas tive a certeza de que iria ser jogador profissional de primeiro nível. Não sou só eu que o digo. O Aurélio Pereira e outros treinadores que passaram pela formação do Sporting dizem o mesmo, de certeza. Pelo caráter dele e pela qualidade do seu futebol, não havia dúvidas. Quanto a ganhar cinco Bolas de Ouro, era muito difícil antever isso. Sabíamos, isso sim, que não iria perder-se pelo caminho nem se iria deslumbrar. + Acredita que conseguirá chegar à sexta Bola de Ouro?
JS – À sexta e à sétima! Enquanto estiver no ativo, tudo é possível. Há três ou quatro anos dizia-se que estava a entrar na fase descendente por estar a chegar aos 30 anos. O que tem acontecido desde aí é que acaba sempre por fazer uma época melhor do que a anterior. A nível de jogos e golos não há limites, ele é especial. + Qual o sentimento do capitão quando falou com ele após a eliminação com o Uruguai? JS – Faltou uma pontinha de sorte. Estava chateado, triste e com sentimento de desilusão porque queria ganhar e continuar no Mundial. Tinha muita fé e confiança de que se passasse aquele jogo, Portugal chegaria à final. A confiança era tanta que, passando o Uruguai e indo jogar com a França, eles iriam lembrar-se da final do Europeu e isso iria jogar contra eles.
+ O gesto de Cristiano Ronaldo com Cavani correu o Mundo. Como viu esse momento? JS – Arrepio-me só de pensar. O Cris é um campeão em todos os sentidos, por mais que as pessoas digam que não é humilde. É um ser humano extraordinário, com um grande coração. O gesto dele é genuíno, viu que o Cavani estava com um problema muscular e foi ajudá-lo. *