Anjo de pernas tortas
Brasil já não joga. Em tempo de angústia brasileira, recordamos o campeão em 1958 e 1962, Mané Garrincha: nome de pequeno pássaro comum que se fez gigante e incomum mortal!
As pernas de Mané arqueavam à esquerda, quais vírgulas que terminavam nos pés. E como vírgula não é ponto final, resistiu ao infortúnio, seduziu o futebol e ludibriou o destino.
Asua história Mundial começa com a Rússia, contra quem fez o primeiro jogo no Suécia’58. Se agora os brasileiros caíram em terras russas, naquele jogo, Garrincha fintou uma e outra vez uns desorientados russos que iam tombando no chão. O drible de Mané permitia-lhe fazer de “pequeno guardanapo um enorme latifúndio”, como bem anotou Armando Nogueira.
Emtrês minutos, fintou, rematou à trave de Yashin, passou a Pelé que rematou… à trave e assistiu para o golo de Vavá! Gabriel Hanot, jornalista francês, assistira aos melhores “três minutos da história do futebol mundial”. Os minutos multiplicaram-se até à final e fizeram do Brasil campeão!
Jáo Chile’62 foiquase Mundialde umhomemsó, onde Garrincha fez também de Pelé, lesionado ao segundo jogo. É desse ano o soneto “O Anjo de Pernas Tortas” de Vinícius de Moraes que incensa Mané: “Dribla mais um, mais dois; a bola trança / Feliz, entre seus pés – um pé-de-vento!”.
De fintaemfinta, Mané ainda contribuiu com 4 golos. Pernas tortas? Assim deixou as dos adversários, levando o jornal ‘El Mercurio’ a interrogar-se: “Garrincha: de que planeta vens?”.
Apenas não fintou a bebida. Se as pernas o ajudaram a trocar as voltas a uma vida que nascera desfavorável, o álcool