O maior erro da vida de Cristiano
A FRANÇA É FAVORITA, MAS ATENÇÃO A UM ‘PORMENOR’ QUE SE CHAMA BÉLGICA CAMPEÃO DA EUROPA E DO MUNDO, LENDA DO FUTEBOL ALEMÃO, LOTHAR MATTHÄUS NÃO PODIA TER SIDO MAIS CLARO: “O ESTILO DEFENSIVO DO FUTEBOL ITALIANO NÃO É PARA RONALDO”
Escrevo esta crónica após três dias a ouvir e a ler que a contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus estava “por horas”. Vou admitir, assim, que o leitor continue hoje à espera daquela que será uma boa notícia para a Juventus e para Jorge Mendes, mas péssima para o Real Madrid e para o craque português. Para o clube porque renuncia, estupidamente, à sua maior referência, um jogador na plena posse das raríssimas capacidades que o tornam único e que marcou, em nove épocas, 451 golos em 438 jogos – proeza irrepetível. Para Cristiano porque perderá ‘na secretaria’ o seu épico duelo com Messi, baixando ‘três escalões desportivos’, como escreveu Juanma Rodríguez, na ‘Marca’. E indo para um futebol decadente, que falhou o Mundial e reduziu para metade o ta- lento de João Mário – só para dar um exemplo que esteve há pouco à vista de todos.
Implacavelmente marcado,
Cristiano bem pode dizer adeus à média de um golo por jogo! Aliás, a opinião de Lothar Matthäus, lenda do futebol alemão, em entrevista à ‘La Gazzetta dello Sport’ dispensa comentários: “O campeonato italiano já não tem o nível do passado. Creio que Cristiano Ronaldo não sairá, joga no melhor clube do Mundo, com o qual ganhou tudo. Não vejo porque deveria ir para a Juventus. O estilo de futebol italiano não é para Ronaldo. Todos estariam dependentes dele, o jogo em Itália é mais defensivo e ele perderia rapidez.” Serão os interesses, legítimos, de Jorge Mendes a ajudar Cristiano a cometer o maior erro da carreira e talvez da vida?
UmMundial, como o próprio futebol, joga-se nos pormenores.
Cavani foi à Rússia para marcar dois golos a Portugal e logo baixar à enfermaria. Por que não quebrou antes? Embora, verdade se diga que dificilmente eliminaríamos a França, que reúne hoje um largo favoritismo para ser campeã do Mundo. Mas atenção aos tais porme- nores, que não acabaram. E um deles pode chamar-se Bélgica.
Entre os 15 e os 20 anos, Pelé jogou no Belenenses,
depois houve a aventura italiana e o Benfica, com empréstimos sucessivos. Finalmente, a maturidade, a estabilidade e a competência de Miguel Cardoso, no Rio Ave, a fazerem com que Leonardo Jardim, que quase nunca se engana, apostasse agora nele. Aos 26 anos, será o médio guineense – 36 vezes internacional por Portugal, nos escalões jovens – uma próxima grande transferência do Monaco? Tinha graça. E era bem feito para os nossos caçatalentos.
O último parágrafo vai para
uma das minhas leituras de férias: ‘Populismo’, de Manuel Pedroso Marques. Saí de Lisboa no estertor de uma aventura populista-desportiva e foi com reforçada expectativa que ‘devorei’ o livro daquele militar e gestor. Respigo uma passagem: “Graves são os frequentes registos comunicacionais de quem fala em público, ao confundir, não rara e intencionalmente, a força vital da palavra justa e exata com a palavra exagerada e inusitada para impressionar, desviar o assunto, gerar ‘sound bites’.” O discurso populista “acicata as divergências de opinião, tanto de coisas importantes como de questiúnculas, turva as visões da realidade, rouba o senso da medida”. Infelizmente, dou conta de que num dos maiores clubes portugueses continua a darse crédito a manipuladores do vírus do populismo.