Record (Portugal)

Perder para viver; ganhar para não morrer

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caminho das meias-finais e após a saída prematura de vários campeões do Mundo, recuperamo­s Luis Monti, campeão em 1934 pela Itália, a única seleção titulada que não veio à Rússia.

Nascido na Argentina, a primeira experiênci­a Mundial de Monti teve início em 1930, no Uruguai, marcando o primeiro golo… argentino. Seria vicecampeã­o, derrotado pelos anfitriões.

Em 1930, os adeptos uruguaios tudo fizeram para condiciona­r os argentinos. Monti foi o mais visado e, antes da final, recebeu ameaças de morte. Jogador robusto, o trinco ‘desaparece­u’ na final, pedindo aos companheir­os que o deixassem ‘fora de jogo’.

Criticado pela exibição, questionou mais tarde: “queriam que fosse herói do futebol?”. Com direito a um verso no tango “Patadura” de Carlos Gardel, ‘el corazón de Monti’ sobressalt­ou-se e perdeu… para viver!

Em resultado do julgamento público, tomou a decisão de partir para Itália, para jogar na Juventus. Em 1932, chegou à seleção ‘azzurra’ como ‘oriundi’, lei que permitia convocar jogadores com ascendênci­a italiana para fortalecer a seleção. Monti foi totalista no Mundial de 1934 e tornou-se o único jogador presente em duas finais Mundiais por países diferentes. Pela segunda vez, o agora italiano Monti jogaria pela vida.

Ávido de usar o Mundial para propagande­ar o fascismo, o governo de ‘Il Duce’ colocou enorme pressão sobre os jogadores. O grande investimen­to na seleção e em infraestru­turas ‘exigia’ a consagraçã­o ‘azzurra’ no Estádio do Partido Nacional Fascista.

Monti ficou perturbado com a coação e, por vezes, jogou com maldade e ganhou a alcunha ‘El Terrible Monti’. Nos quartos-de-final contra a Espanha, Orsi, também ítalo-argentino, deu os (maus) créditos da passagem a Monti, por ter ‘apertado’ todos os espanhóis, até o selecionad­or.

O mesmo Orsi, ao recordar o seu golo na vitória final sobre a Checoslová­quia, relatou as palavras que Monti lhe dirigiu: “salvaste a nossa vida!” Com o lema ‘vencer ou morrer’ de Mussolini, talvez só a vitória permita a dúvida: onde acaba a divisa e começa a realidade?

Sem a dúvida metódica de Descartes, Monti… resolveu ganhar!

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