Record (Portugal)

Sigamos a coragem de Artur José Pereira

- Carlos Pereira Martins Membro do Conselho Geral do CFB

Tenho vivido os últimos tempos com o peso de uma enorme responsabi­lidade decorrente das últimas palavras que ouvimos ao Senhor Major Baptista da Silva, com quem tive a enorme honra de partilhar em vários mandatos a Mesa da AG do clube e da SAD, que já no seu leito no hospital, quando o clube lhe entregou o seu maior galardão de mérito, a Cruz de Cristo, nos pediu com aquelas que foram as suas últimas palavras para os dirigentes da altura : “não deixem morrer o nosso Belenenses.”

Felizmente, sinto-me hoje muito mais aliviado por ver mais fácil e possível um futuro digno para o CFB, os seus valores fundaciona­is repostos e respeitado­s, um sentimento de esperança que agora se espalhou por toda a massa associativ­a e pelos amigos do Belenenses. Sem querer discutir a evidente grandeza do Clube de Futebol os Belenenses, venho hoje aqui propor que centremos o debate no momento atual deste nosso histórico emblema.

Faço-o porque licomatenç­ão a cartaescri­ta pelo antigo dirigen- te João Neves nas páginas deste jornal, e percebi-o algo desiludido. Dizia João Neves, e cito, que “começar nos distritais é algo tão ridículo que custa a acreditar que possam aceitar”. Foram palavras que me entristece­ram, por não traduzirem o que tenho percebido nos contactos com muitos sócios e simpatizan­tes. E venho em continuaçã­o dessa sua carta escrita por desde os bancos da universida­de ser amigo de João Neves, cujo belenensis­mo está, para mim, fora de dúvida.

Os últimos anos não têmsido fáceis para o Clube de Futebol Os Belenenses. Desde que em 2012 foi cedida a participaç­ão majoritári­a na sua SAD a uma empresa privada - embora com a promessa expressa e estabeleci­da em contrato de recompra - que o nosso clube tem vindo a sofrer a maior crise da sua quase centenária história. A desgraça não foi, pasme-se, o caos financeiro que levou a essa cedência, mas sim a forma como, uma vez perdido o controlo da SAD, os novos donos desta logo trataram de rescindir o Acordo Parassocia­l que tinha como único ponto relevante a possibilid­ade de o Clube recomprar os 51 por cento de ações entretanto vendidos.

De então paracá, não vale apena historiar, assistiu-se a um desrespeit­o crescente dos acionistas pela realidade do clube, a sua matriz histórica e a ligação aos adeptos. O culminar deste divórcio foi a traição maior: a fuga da equipa que fundámos para jogar no Estádio Nacional, tão perto do Estádio do Restelo e tão longe dos nossos corações azuis.

Mas, não podemos atuais dirigentes e os futuros esquecer um dos valores fundaciona­is do Clube de Futebol Os Belenenses, ter uma equipa de futebol sénior valorosa, competente e digna de ombrear com as maiores equipas suas rivais, uma equipa ligada aos sócios que em cada momento da história escolhem quem os representa e dirige. O Belenenses é um clube eclético mas o futebol este- ve na sua génese e terá que estar sempre vivo e presente.

Começar nos distritais é uma ideia assustador­a, sim. Assustador­a porque esse não é o lugar do Belenenses. Sejamos, porém, realistas: hoje o Clube de Futebol Os Belenenses não tem uma equipa de futebol sénior. Há uma empresa que ignora a nossa história e valores, que se recusa a negociar com os dirigentes eleitos pelos sócios e se vai embora da nossa casa agarrada ao nosso emblema. Jogar nos distritais pode ser assustador, mas vamos lá clarificar que ou jogamos nas distritais ou não jogamos de todo. Se o lugar do Belenenses não é nos distritais – e admira-me a insensibil­idade da FPF para este caso – pior ainda seria não termos futebol.

Este Adamastor de refundar o clube, é também, a meu ver, um Cabo da Boa Esperança, um passo de gigante que o nosso clube volta a dar. Assumimos um erro histórico, mas mais uma vez mostramos que ser grande é ter honra, ser grande é ser corajoso, ser grande é respeitar a inspiração do nosso fundador Artur José Pereira, que não teve medo de deixar uma confortáve­l carreira no Benfica e Sporting para, em 1919, dar ao Mundo este Belenenses de que hoje nos orgulhamos.

Este renascimen­to passarápor umadescida­ao inferno, mas de lá o Belenenses voltará mais forte, mais credível, mais unido, maior, com reforçada base de apoio. Estamos a liderar um movimento de moralizaçã­o do desporto em Portugal, ao qual até já os partidos com assento na Assembleia da República dão atenção, revelando intenção de alterar a lei das SAD. Ridículo não é começar de novo, caros amigos. Ridículo seria deixar que interesses privados levassem por diante a usurpação da nossa história praticamen­te centenária.

SE O LUGAR DO BELENENSES NÃO É NOS DISTRITAIS, PIOR SERIA NÃO TERMOS FUTEBOL

Como ouvi dizer ao Presidente Patrick Morais de Carvalho, unidos, os sócios darão provade vidae em breve estaremos todos no Restelo a vibrarcom as nossas vitórias e com o regresso às ligas profission­ais.

O nosso caminho é o mesmo de sempre ao longo de um século : “para a frente e sempre com a certeza de vencer.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal