Record (Portugal)

ALICIA VARGAS

- CLAUDIA PEDRAZA *

Aos 17 anos ouviu mais de 100 mil adeptos no Estádio Azteca, em 1971, a gritar pelo seu nome

Come ou a jogar futebol com 14 anos e aos 17 tinha os mais de 100 mil adeptos no Estádio Azteca a gritar pelo seu nome: “Pelé! Pelé.” Mas não era o craque brasileiro quem pisava o relvado do mítico recinto mexicano. Era Alicia Vargas, jovem que brilhava na seleção mexicana que disputava a final do segundo Mundial feminino - ainda sem o selo FIFA –, em 1971. Um ano antes, Alicia já brilhara em Itália, na primeira edição, na qual marcou... nove golos! No final da década de 60 do século passado, Alicia passava as tardes a jogar com os dois irmãos. Um dia viu uma notícia num jornal sobre uma vitória do Guadalajar­a no clássico feminino. “Como era adepta do Guadalajar­a, foi aí que quis jogar”, lembra, sobre uma altura em que é difícil imaginar a existência de mulheres a jogar futebol de forma organizada. Em 1970, embora Alicia já fosse uma das melhores da liga mexicana, não ficou muito entu- siasmada quando o México foi convidado a participar no primeiro Mundial. “Nem tinha ideia do que era jogar um Mundial. Não tinha passaporte e nunca tinha estado num avião. Disse às minhas companheir­as que o melhor

JOVEM TINHA APENAS 16 ANOS QUANDO FOI A MELHOR MARCADORA NO PRIMEIRO MUNDIAL FEMININO, EM 1970

era ficar”, revela. Mas foi, e acabou como melhor goleadora da prova ganha pela Dinamarca, que bateu a anfitriã Itália (2-0) na fi- nal, faz hoje 48 anos.

A estreia do México foi com a Áustria. Frente a uma guarda-redes que pesava quase o dobro dela, Alicia fez seis dos nove golos da sua equipa e deixou a imprensa fascinada. E assim nasceu a sua alcunha:

‘La Pelé’. As mexicanas acabariam por cair nas ‘meias’ diante da Itália, por 2-1, depois de baterem a Inglaterra (32) com mais um hat trick da jovem. De volta a casa, foram recebidas em festa no aeroporto e protagoniz­aram sessões fotográfic­as, entrevista­s e homenagens. Em 1971 o México recebe o Mun- dial. Alicia começou a prova no banco, mas fez as quatro assistênci­as no segundo jogo (4-0), frente à Inglaterra. Nas ‘meias’, surgiu a vingança diante da Itália (2-1), antes de perderem (0-3) a final para a Dinamarca. Antes do jogo, as selecionad­as exigiram um pagamento para jogarem, pois nunca tinham recebido qualquer verba. A federação recusou, mas um grupo de atrizes e cantoras juntaram algum dinheiro para as jogadoras (10 mil pesos a cada). “Na realidade, teríamos jogado de qualquer maneira”, garante Alicia, que ouviu então os adeptos a cantar o seu nome: “Era indescrití­vel.” Mas nada impediu a derrota. Depois, recebeu convites para jogar em Itália, mas recusou. E o futebol feminino mexicano acabaria por cair gradualmen­te no esquecimen­to. [publicado no site luchadoras.mx] *

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