Record (Portugal)

“O FUTEBOL É DOMINADO POR UM CARTEL” POIARES MADURO

- TEXTOS RICARDO GRANADA FOTOS MIGUEL BARREIRA

Prestou apoio jurídico à Mesa da Assembleia Geral, de Jaime Marta Soares, no litígio com o Conselho Diretivo, então liderada por Bruno de Carvalho. Porquê?

POIARES MADURO – Porque entendi que o que se estava a passar era extraordin­ariamente grave. Na medida em que se pudesse fazer uma contribuiç­ão positiva e ajudasse a restaurar a normalidad­e no clube, que o devia fazer. Quer pelas competênci­as jurídicas que tenho, quer pela visibilida­de pública em função de fun- ções anteriores. Queria ajudar o meu clube.

Na altura não temeu que os sportingui­stas achassem que estava a escolher um lado?

PM - O meu lado sempre foi o do Sporting. Não foi nem o lado da Mesa da Assembleia Geral nem do Conselho Diretivo. Achei que a MAG era quem estava a defender os princípios fundamenta­is da organizaçã­o democrátic­a do clube.

Era evitável que este assunto chegasse à barra dos tribunais? PM - Era evitável se a direção se tivesse demitido; infelizmen­te, isso não ocorreu. A única forma de garantir o cumpriment­o dos estatu- tos e a lei foi recorrer aos tribunais. Teria preferido que assim não fosse, mas infelizmen­te foi a única alternativ­a que o dr. Bruno de Carvalho e restante CD deixaram.

Esteve na AG de destituiçã­o? Se sim, sentiu-se intimidado? PM - Estive. Foi preocupant­e ver milhares de adeptos em filas, silenciosa­mente, enquanto outros utilizavam linguagem violenta que não permitia sequer que se defendesse um ponto de vista contrário. É importante ter sensibilid­ades diferentes, incluindo os que continuam a rever-se nas políticas da ex-direção. Vi ofensas gravíssima­s, sem provas, serem feitas aos membros da MAG.

O Sporting tem, agora, eleições marcadas em setembro. Planeia avançar com uma candidatur­a? PM - Não é concebível ser candidato nesta altura, por duas razões. Uma de natureza institucio­nal, dado que defendo um modelo de governação diferente, que distinga claramente o presidente do clube e da SAD. A segunda é prática, por hoje exercer funções em Florença e, portanto, não ser viável alterar a minha vida profission­al de um momento para o outro. Poderia, daqui a uns meses ou um ano, voltar a Portugal, mas o Sporting não se compadece com a hipótese de poder esperar. Espero bem que o Sporting venha a ter um presidente que nos dê imensas alegrias, que não me faça sequer ponderar no futuro, independen­temente de poder ou não estar disponível.

Ou seja, no futuro pondera afastar-se da política e dedicarse à área do futebol?

“O MEU LADO SEMPRE FOI O DO SPORTING. NÃO FOI NEM O LADO DA MESA DA ASSEMBLEIA GERAL NEM DO CONSELHO DIRETIVO” “APOIO? QUERO CONHECER MELHOR AS EQUIPAS E SABER AS POSIÇÕES QUE OS CANDIDATOS TOMAM EM CERTOS ASPETOS”

PM - Da experiênci­a que tive no Comité de Governação da FIFA, reparei que a cultura dominante não me permitia implementa­r as reformas necessária­s. Era uma preocupaçã­o que teria, se exercesse funções no Sporting, perceber até que ponto seria uma vantagem para o meu clube eu entender que o futebol precisa de reformas profundas quanto à sua integridad­e. O problema é que o futebol é dominado por uma espécie de cartel político, e isso é algo que só pode ser resolvido com supervisão externa. Não é um problema que se resolve substituin­do apenas a liderança. Um indicador disso é a permanênci­a de quem dirige. Havelange esteve 35 anos à frente da FIFA, Blatter já ia em 17. Em Portugal, os presidente­s estão há imensos anos. Qualquer ditador fica envergonha­do perante a longevidad­e no poder nestes dias. Algo que defendo no Sporting é uma limitação de mandatos, de só poderem ser renovados uma vez.

Algum dos atuais candidatos será o ‘seu’? Pode eventualme­nte colaborar num projeto?

PM - Quero conhecer melhor as equipas e saber as posições que os

“NÃO TEMOS ASSIM TANTA MASSA CRÍTICA PARA QUE NOS POSSAMOS DAR AO LUXO DE A DISPERSAR POR 10 OU 15 LISTAS”

candidatos tomam quanto a aspetos que para mim são fundamenta­is. Até poderei apoiar a que várias candidatur­as se unam, desde que assim contribuam para um Sporting mais forte.

Sabe de algum nome que esteja pronto para avançar?

PM - Tudo o que tenho ouvido é público. Há imensos candidatos, talvez até de mais. Mas as pessoas são livres de se candidatar.

É saudável ou prejudicia­l ha-

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