“O FUTEBOL É DOMINADO POR UM CARTEL” POIARES MADURO
Prestou apoio jurídico à Mesa da Assembleia Geral, de Jaime Marta Soares, no litígio com o Conselho Diretivo, então liderada por Bruno de Carvalho. Porquê?
POIARES MADURO – Porque entendi que o que se estava a passar era extraordinariamente grave. Na medida em que se pudesse fazer uma contribuição positiva e ajudasse a restaurar a normalidade no clube, que o devia fazer. Quer pelas competências jurídicas que tenho, quer pela visibilidade pública em função de fun- ções anteriores. Queria ajudar o meu clube.
Na altura não temeu que os sportinguistas achassem que estava a escolher um lado?
PM - O meu lado sempre foi o do Sporting. Não foi nem o lado da Mesa da Assembleia Geral nem do Conselho Diretivo. Achei que a MAG era quem estava a defender os princípios fundamentais da organização democrática do clube.
Era evitável que este assunto chegasse à barra dos tribunais? PM - Era evitável se a direção se tivesse demitido; infelizmente, isso não ocorreu. A única forma de garantir o cumprimento dos estatu- tos e a lei foi recorrer aos tribunais. Teria preferido que assim não fosse, mas infelizmente foi a única alternativa que o dr. Bruno de Carvalho e restante CD deixaram.
Esteve na AG de destituição? Se sim, sentiu-se intimidado? PM - Estive. Foi preocupante ver milhares de adeptos em filas, silenciosamente, enquanto outros utilizavam linguagem violenta que não permitia sequer que se defendesse um ponto de vista contrário. É importante ter sensibilidades diferentes, incluindo os que continuam a rever-se nas políticas da ex-direção. Vi ofensas gravíssimas, sem provas, serem feitas aos membros da MAG.
O Sporting tem, agora, eleições marcadas em setembro. Planeia avançar com uma candidatura? PM - Não é concebível ser candidato nesta altura, por duas razões. Uma de natureza institucional, dado que defendo um modelo de governação diferente, que distinga claramente o presidente do clube e da SAD. A segunda é prática, por hoje exercer funções em Florença e, portanto, não ser viável alterar a minha vida profissional de um momento para o outro. Poderia, daqui a uns meses ou um ano, voltar a Portugal, mas o Sporting não se compadece com a hipótese de poder esperar. Espero bem que o Sporting venha a ter um presidente que nos dê imensas alegrias, que não me faça sequer ponderar no futuro, independentemente de poder ou não estar disponível.
Ou seja, no futuro pondera afastar-se da política e dedicarse à área do futebol?
“O MEU LADO SEMPRE FOI O DO SPORTING. NÃO FOI NEM O LADO DA MESA DA ASSEMBLEIA GERAL NEM DO CONSELHO DIRETIVO” “APOIO? QUERO CONHECER MELHOR AS EQUIPAS E SABER AS POSIÇÕES QUE OS CANDIDATOS TOMAM EM CERTOS ASPETOS”
PM - Da experiência que tive no Comité de Governação da FIFA, reparei que a cultura dominante não me permitia implementar as reformas necessárias. Era uma preocupação que teria, se exercesse funções no Sporting, perceber até que ponto seria uma vantagem para o meu clube eu entender que o futebol precisa de reformas profundas quanto à sua integridade. O problema é que o futebol é dominado por uma espécie de cartel político, e isso é algo que só pode ser resolvido com supervisão externa. Não é um problema que se resolve substituindo apenas a liderança. Um indicador disso é a permanência de quem dirige. Havelange esteve 35 anos à frente da FIFA, Blatter já ia em 17. Em Portugal, os presidentes estão há imensos anos. Qualquer ditador fica envergonhado perante a longevidade no poder nestes dias. Algo que defendo no Sporting é uma limitação de mandatos, de só poderem ser renovados uma vez.
Algum dos atuais candidatos será o ‘seu’? Pode eventualmente colaborar num projeto?
PM - Quero conhecer melhor as equipas e saber as posições que os
“NÃO TEMOS ASSIM TANTA MASSA CRÍTICA PARA QUE NOS POSSAMOS DAR AO LUXO DE A DISPERSAR POR 10 OU 15 LISTAS”
candidatos tomam quanto a aspetos que para mim são fundamentais. Até poderei apoiar a que várias candidaturas se unam, desde que assim contribuam para um Sporting mais forte.
Sabe de algum nome que esteja pronto para avançar?
PM - Tudo o que tenho ouvido é público. Há imensos candidatos, talvez até de mais. Mas as pessoas são livres de se candidatar.
É saudável ou prejudicial ha-