Os donos da bola
O AGENTE DE JOGADORES É UMA FIGURA CUJO PAPEL CRESCENTE NA INDÚSTRIA É INQUESTIONÁVEL SOUSA CINTRA FALOU ESTA SEMANA NO IMPACTO DOS EMPRESÁRIOS NO FUTEBOL ATUAL. E A VERDADE É UMA: AS REGRAS DO JOGO MUDARAM CONSIDERAVELMENTE
De regresso, temporariamente, à liderança do Sporting, Sousa Cintra abordou esta semana o papel atual que desempenham os empresários no futebol. Um comentário interessante, porque nos permite comparar com uma realidade muito distante daquela que o responsável conheceu nos tempos em que presidiu o clube leonino entre 1989 e 1995. O impacto destes agentes desportivos é hoje muito maior no quotidiano do futebol nacional e internacional.
“Os clubes, hoje, estão presos aos
empresários, uns sem escrúpulos nenhuns. Lidar com empresários sempre foi complicado, mas agora tornou-se um requinte muito grande. Hoje é uma coisa, amanhã outra, depois existem os outros clubes… É uma novela que nunca mais termina.” As palavras do dirigente leonino acabam por marcar as diferenças entre duas épocas distintas. Ao contrário do passado, em que os agentes iam sendo vistos como parceiros de negócio, que ajudavam os clubes a desenvolver a sua atuação no mercado de transferências, hoje isso já não acontece do mesmo modo. As regras do jogo mudaram consideravelmente.
Os agentes gozamde umamaior
autonomia, têm uma agenda e planificação próprias (na escolha dos jogadores e das apostas que querem fazer em determinada temporada) e acabam por impor essa vontade aos clubes. Por exemplo, os ‘timings’ para se efetivar a venda de um ativo nem sempre são coincidentes. Aos clubes, pode ser benéfico que um jogador se valorize ao longo de ciclos de 3, 4 anos, de modo a ter um valor de mercado maior no momento da sua venda. Por seu lado, como temos visto, ao fim de uma temporada como titulares, são muitos os jogadores que acabam agora por ser vendidos, porque os agentes acabam por ‘encontrar’ oportunidades de negócio, acabando por convencer os atletas com a procura de melhores clubes e/ou salários.
Adificuldade emconciliar interesses de clubes e empresários na gestão de carreira dos atletas, acaba por ser um dos maiores proble- mas que o futebol enfrenta atualmente. Numa indústria que movimenta cada vez mais milhões nos principais mercados, é legítimo que todos procurem o melhor para si, mas os interesses de todas as partes envolvidas nem sempre saem devidamente defendidos, penalizando os clubes em parte dos casos.
Praticamente todos os jogadores são hoje representados por um agente, seja um craque de top mundial ou um atleta desconhecido, quase nenhum dispensa os préstimos de um empresário. E muitos clubes também acabam por recorrer aos seus serviços, assinando procurações para intermediação de negócios ou mesmo contratos de ‘scouting’ para descoberta de novos talentos. Muitos clubes mantêm mesmo relações privilegiadas apenas com alguns agentes, o que gera uma espécie de dependência nas decisões que são tomadas, que acabam por restringir muito a sua atuação no mercado, que acaba por ficar confinada a uma espécie de catálogo limitado.
AFIFAhámuito que procuraencontrar afórmulacerta para regular a atividade dos empresários de futebol. Muitos deles começam a investir nos passes de jogadores ou no capital de algumas SAD e essas atividades distintas podem gerar, no mínimo, a dúvida se não existirá aqui um conflito de interesses. O agente de jogadores é hoje uma figura que integra o fenómeno do futebol. O seu papel crescente na indústria é inquestionável e, na maioria dos casos, por via da enorme carteira de contactos e boas relações que foram alimentando ao longo do tempo, são eles os grandes agitadores do mercado de transferências, para o bem ou para o mal.