CRACKS E PARA SEMP HÁ 40 ANOS
Como os faróis dos carros dos diretores do clube iluminaram a geração mais brilhante que a terra deu ao país
Se não é feriado municipal, devia ser. Aquele 3 de julho de 1978 eternizou-se na história de Lamego, extasiada pelo brilharete de uma geração inolvidável, recordada numa sentida homenagem que a direção do clube rendeu ontem aos seus heróis. Há precisamente 40 anos, o Clube Cracks de Lamego sagrouse campeão nacional de juvenis, desenhando o seu emblema a letras de ouro numa galeria onde não tem lugar nenhum outro clube de pequena dimensão. Comandados pela maestria de José Marques da Silva, talentoso treinador e… prestigiado presidente dos Cracks, os juvenis lamecenses fizeram figura na temporada 1977/78, vencendo a principal competição do escalão, não obstante a concorrência dos maiores clubes do país. Liderados em campo por Henrique Ló, o mágico lamecense, e embalados pelo poderio do histórico Álvaro Magalhães, a consistência defensiva de José João e a eficácia atacante de seu primo Tony, eis os Cracks de Lamego, levados ao colo pela força de um coletivo habilidoso. “Bons velhos tempos! Foi o início de uma caminhada com a qual nem sequer sonhávamos”, recorda Álvaro Magalhães, expoente máximo desta geração. “Éramos estudantes apaixonados pela bola. Jogávamos futebol de salão no liceu e tivemos a felicidade de poder representar uma instituição que apostava nos jovens e construiu uma equipa fantástica, com treinadores e direto- res maravilhosos”, vinca.
O feito foi tão inédito quanto surpreendente, ou não tivesse sido assinado apenas quatro anos depois da fundação do clube. Sem as fintas de uma direção apaixonada, não haveria talento que resistisse. Nem luz para treinar durante a semana, quanto mais go-
O FEITO LAMECENSES TEVE AS MARCAS DE JOSÉ MARQUES DA SILVA, TALENTOSO TREINADOR E PRESIDENTE DO CLUBE
los ao domingo… “Eram os próprios diretores que marcavam as linhas de cal no pelado! Nem luz tínhamos no campo! Sabe como faziam? Estacionavam carros e camionetas à volta do campo e ligavam os faróis para podermos treinar! Surreal…”, recorda, saudoso, o capitão José João, central habilidoso e implacável, tanto que dali seguiria para os juniores do Benfica.
Contra todas as previsões, os Cracks venceram o Vitória de Setúbal na final, à conta de um golo solitário de Tony. Os sadinos haviam eliminado Benfica e Sporting, mas não consumaram a teoria. “Eles eram favoritos e diziam que ia ser fácil, que eram favas contadas e tal… Eles só não sabiam que iam defrontar uma equipa de uma cidade grande. Se calhar há pessoas que ainda hoje não imaginam o que é Lamego… Nem estavam à espera de levar com a nossa garra, determinação e humildade. É verdade que tivemos sorte, mas também a procurámos. Com a força da natureza que é apanágio dos nortenhos, conseguimos ganhar esse título”, sublinha Álvaro Magalhães, recordando um título conquistado há quatro décadas, seis anos antes de ter sido uma das grandes figuras do brilharete de Portugal no Euro’84. *