RUI PEREIRA
A responsabilidade de um diretor de segurança aumenta de forma proporcional às animosidades existentes entre clubes ? RUI PEREIRA – Muda pouco. O que queremos sempre é que o espetáculo decorra com segurança. É caro e temos de dar as máximas condições, proporcionar uma boa experiência a quem vem. Isto, tan- to no serviço de bares como nos sanitários ou no acesso. Os clubes só são grandes se tiverem muitos adeptos e isso acontece pelos resultados, mas tudo o resto contribui um pouco. Quem compra um bilhete tem de estar seguro.
Mas o discurso de que é perigoso ir ao futebol tem crescido.
RP – É verdade. O nível de ruído mediático não ajuda e as pessoas que estão mais afastadas pensam que isto é uma guerra. As condições são proporcionadas para que, mesmo em jogos de risco elevado, as pessoas usufruam. Há sempre momentos de maior tensão, por exemplo, na entrada dos adeptos. Quando chegam os 3.250 adeptos visitantes com um nível de animosidade e rivalidade extremado, potenciado pelos dirigentes dos clubes, é normal que haja tensão e maior aparato policial. Mas logo a polícia faz um trabalho bem feito. Defendemos a atuação da polícia e não abdicamos dela.
Participou numa conferência promovida pela PSP, ao lado do homólogo leonino, em que disseram estar em sintonia. É verdade? RP – Há temas que são comuns. Preocupações e fragilidades que cada clube tem, que todos reconhecemos . A própria Liga constituiu um grupo de trabalho em que estiveram presentes vários clubes que têm estrutura profissional mais dedicada à segurança para que, em conjunto, pudéssemos falar das nossas maiores preocupações e fossem vertidas em lei.
Já com resultados práticos? RP - Há já uma proposta de lei, com o objetivo de combater a violência no desporto. Em termos gerais estamos em sintonia, mas temos um ponto de discórdia que tem a ver com o registo dos adeptos de risco. A formalização desse registo, a constituição desses grupos organizados de adeptos (GOA), que existe desde 2004. O que se pretende é que, se os apoiantes de determinado clube vivenciam os jogos em grupo de uma forma mais fervorosa, têm de se constituir como uma
“BENFICA E SPORTING ESTÃO EM SINTONIA, MAS HÁ UM PONTO DE DISCÓRDIA QUE TEM A VER COM REGISTO DE ADEPTOS DE RISCO”
associação de âmbito juvenil, para que depois possam apoiar outra associação, que é aquilo que é no fundo um clube de futebol. Desde o presidente a vários dirigentes, fizemos tudo para que os nossos adeptos de facto, mas que não são
“DESDE O PRESIDENTE A VÁRIOS DIRIGENTES, FIZEMOS DE TUDO PARA QUE OS NOSSOS ADEPTOS FOSSEM LEGALIZADOS”
registados, fossem legalizados no âmbito da lei. Não conseguimos, por muito que tentássemos. Os adeptos opõem-se, dizendo que a partir do momento em que estão na condição de sócio já estão legalizados com o clube. A maioria – não digo todos os adeptos que estão associados aos nossos dois grupos mais conhecidos –, não vou dizer que todos são sócios do Benfica, mas a grande maioria são. E têm lugar cativo, através do Red Pass. Desta forma, entendem que o Benfica tem acesso aos dados que a lei também exige, nomeadamente ao nome, idade, profissão, telefone e que as poderíamos facultar às instituições administrativas e policiais. Mas não é o que a lei pretende e estamos neste impasse.
Isto vai criar um problema? RP - Com esta nova proposta de lei, pensámos que isso teria menos importância, pois uma das coisas novas que a lei vai trazer é a constituição de zonas com condições de acesso e permanência no estádio. Basicamente, o que isto pretende é replicar para os nosso próprios adeptos aquilo que os clubes grandes já têm relativamente aos adeptos visitantes, ao nível da segurança. A própria Liga e a lei exigem que assim seja em todos os estádios.
Deduziram que o problema assim fosse resolvido e que os GOA não fossem obrigatórios com a criação dessas zonas?
RP - Pelo menos, não era tão importante assim. Aquilo que foi debatido é que todos os adeptos que fossem para o interior dessa zona, facultassem os dados para as autoridades administrativas e policiais.