Luís Figo e Sporting – uma relação difícil
Bruno de Carvalho não aceita que é passado no Sporting e continua no seu penoso estrebuchamento. Acha que tem ainda base societária suficiente para vencer eleições e, com essa (imaginada) vitória, como protagonista de um filme de ficção, continua a sua saga de implacável espadachim, ora na procura da degola, ora na procura da vitimização. Todos os actos de contrição foram simulados e, por isso, na AG que ditou a sua destituição, os sócios do Sporting exibiram-lhe um cartão vermelho e, com ele, deixaram bem claro que era tempo de acabar com tanta teatralidade e representação.
São residuais as hipóteses de Bruno de Carvalho se apresentar a eleições e está a chegar a hora do pronunciamento da Comissão de Fiscalização do Sporting. Se, no começo do processo, havia a convicção de que o ex-presidente dos leões poderia ser alvo de uma medida de suspensão efectiva (e até inferior a um ano), excluindo-se a expulsão, neste momento e de acordo com a evolução processual, Bruno de Carvalho pode ficar inibido de ser sócio do Sportingdurante muitos anos (máximo: 8) e, naComissão, hámesmo quemdefendao cenário daexpulsão.
Quando surgiu o primeiro processo para ser objecto de apreciação por
parte da Comissão de Fiscalização, constituída por Henrique Monteiro, João Duque, António Paulo Santos, Luís Pinto de Sousa e Rita Pereira, havia muitas dúvidas sobre as molduras penais a aplicar, se fosse esse o caso, uma vez que quer o regulamento disciplinar, quer os estatutos, haviam sido alterados – e é bom não esquecer que foi Bruno de Carvalho (BdC) quem fomentou o endurecimento das penas sobre os sócios. Quer dizer: foi BdC quem promoveu, antes, a expulsão de alguns associados (entre os quais os ex-presidente Godinho Lopes); é BdC quem – achando-se credor da condição de ‘dono do clube’ (e da SAD) e com o objectivo de ajustar o regulamento disciplinar e os estatutos a um poder presidencial mais ou menos absoluto – vai ser a principal vítima dessa visão monolítica e capciosa de liderança sportinguista.
Bruno de Carvalho vaibeber do seupróprio veneno:
na próxima semana, o ex-presidente dos leões verá aplicada uma medida sancionatória dura e gravosa, de acordo com regulamentos e estatutos menos tolerantes em relação a sócios
A NOTÍCIA DA NÃO CANDIDATURA DE LUÍS FIGO À PRESIDÊNCIA DO SPORTING NÃO ENCERRA GRANDE SURPRESA. A VERDADE É QUE LUÍS FIGO TEM ANDADO MUITO LONGE DE ALVALADE E A RELAÇÃO NÃO É EMPÁTICA
que não cumpram os direitos e deveres ali consignados.
ComBruno de Carvalho e Carlos Vieirapróximo daimpossibilidade de se apresentarem a eleições e com Frederico Varandas, João Benedito e Dias Ferreira a concitarem as maiores expectativas; com Pedro Madeira Rodrigues a lutar contra o erro de ter apresentado treinador fora de tempo; e com Fernando Tavares Pereira e Zeferino Boal com muitas dificuldades em mostrar algum fôlego, a notícia da não candidatura de Luís Figo à presidência do Sporting, depois dos rumores alimentados nos últimos dias, passou a ter máxima relevância.
Luís Figo estálonge de ser um nome consensualentre os sportinguistas.
Quando o seunome veio àbaila, e apesar do impacto criado, através dos bons ofícios de Tomás Froes, logo se instalou a dúvida se Luís Figo, primeiro, avançaria e se, no caso de concretizar esse avanço, teria o apoio da maioria dos sócios sportinguistas.
É evidente e incontornáveluma certadesconfiança do ‘ mundo sportinguista’ em relação a Luís Figo. A memória (verde e branca) alcança um momento, enquanto jovem, em que chegou a assinar pelo Benfica e não tem havido, entre o Sporting e Luís Figo e Luís Figo e o Sporting, uma dinâmica de verdadeira aproximação. Há uma indiscutível distância a separar os dois ‘mundos’, a qual serve para não mitigar a imagem que Luís Figo foi criando ao longo dos tempos – a de um ser pouco dado a afectos e a salamaleques, demasiado frio nas suas relações pessoais e empresariais. Não se adivinha o que vai ser o futuro próximo do Sporting. Os tempos são difíceis e o próximo presidente dos leões tem uma herança difícil de gerir. Se, na justificação de Froes/Figo, “um projeto de fôlego geracional para o Sporting exige um tempo de maturidade incompatível com o apertado calendário eleitoral”, isso significa que a candidatura não foi preparada no tempo certo; havia sinais suficientes de que o Sporting poderia estar a entrar num novo ciclo.
Se Luís Figo tem, naverdade, no curto ouno médio prazo, intenções de fazer parte do ‘futuro do Sporting’, tem de fazer algo para diluir a distância. Isso também passa pela comunicação, e Tomás Froes sabe disso melhor do que ninguém.