“Liga Europeia é erro gravíssimo”
Líder da La Liga vê na Liga Portugal um parceiro importante para a evolução da indústria futebol não só na Península Ibérica como em toda a Europa. Defensor da venda centralizada dos direitos televisivos, deixa um aviso
O que espera La Liga desta 1.ª edição dos Encontros Ibéricos?
JAVIER TEBAS – Há dois aspetos a ter em conta: a parte desportiva, com os dois jogos de preparação que foram programados, e a cooperação entre os organismos, o intercâmbio de experiências sobre a gestão económica dos clubes, os aspetos de audiovisual, de marketing… Estamos a trabalhar sobre o protocolo que assinámos há duas épocas.
Tendo em conta a sua experiência, o campeonato português é um produto interessante para vender no exterior?
JT – Nós, desde Espanha, queremos que a indústria do futebol cresça em Portugal. Favorece-nos a nós e a toda a Europa. Se Portugal tiver maior capacidade económica, terá também maior capacidade desportiva e isso só pode ser positi- vo. É como a União Europeia: se de uma forma geral os países não tiverem níveis de riqueza comparáveis, a União Europeia é difícil de manter. No futebol é a mesma coisa. Para se ter, como um todo, uma indústria rica, tem de o ser em todos os países. Há que lutar para que a Liga Portugal tenha também receitas como outros grandes campeonatos europeus.
Uma das vias para tal passa pelos direitos televisivos. Em Espanha defendeu a centralização dos direitos; acha que também seria benéfico para Portugal?
JT – A centralização tem dois aspetos importantes. Uma divisão mais equitativa das receitas, porque a venda individual não reflete bem o mercado. Só pode haver ‘x’ clubes na primeira divisão, não pode haver 30, então é um mercado muito fechado, que fica favorecido por uma venda centralizada. Depois há o aspeto da imagem de um produto único, a marca da competição. Se quiserem fazer marca da liga portuguesa para o exterior, só conseguem tirar o máximo partido se todos os direitos forem negociados de forma centralizada. O grande exemplo é a Premier League. Nos últimos anos venceram pouquíssimas competições europeias, o último Bola de Ouro foi Owen, há muitos anos… Mas têm uma grande marca como competição. Porquê? Porque centralizaram esses direitos e trabalharam esse aspeto.
E como aconteceu isso em Espanha?
JT – Foi preciso consolidar a marcar, o que nos garantiu mais receitas globais.
Real Madrid e Barcelona aceitaram bem a mudança?
JT – Houve que fazer um trabalho prévio. Garantimos-lhes que nunca ganhariam menos do que já ganhavam, mas o excedente do que conseguíssemos seria repartido de outra forma, para dar mais aos outros. Uma parte importantíssima das receitas desses dois clubes são do mercado nacional e por isso perceberam que têm de cuidar dele. O FC Porto, o Benfica e o Sporting, se ainda não perceberam, acabarão por perceber isso. A grande parte das suas receitas vem do mercado nacional, por isso é que têm de cuidar da mais importante prova portuguesa. Se não a cuidarem, vão sofrer no futuro.
A chave será convencer os ditos grandes?
JT – Em Espanha foi necessária a intervenção do governo. Já discutíamos há muitos anos, chegámos a acordo, mas depois não nos entendíamos quando era preciso repartir o dinheiro. Foi preciso uma lei. Não é uma intervenção, é regular, tal como se regula a banca ou os seguros. E não há que inventar, é só seguir os bons exemplos. *
“SÓ SE CONSEGUE TIRAR O MÁXIMO PARTIDO SE DIREITOS TELEVISIVOS FOREM ALVO DE NEGOCIAÇÃO CENTRALIZADA”