Record (Portugal)

“Liga Europeia é erro gravíssimo”

Líder da La Liga vê na Liga Portugal um parceiro importante para a evolução da indústria futebol não só na Península Ibérica como em toda a Europa. Defensor da venda centraliza­da dos direitos televisivo­s, deixa um aviso

- TEXTOS ANDRÉ MONTEIRO FOTO MOVENOTÍCI­AS

O que espera La Liga desta 1.ª edição dos Encontros Ibéricos?

JAVIER TEBAS – Há dois aspetos a ter em conta: a parte desportiva, com os dois jogos de preparação que foram programado­s, e a cooperação entre os organismos, o intercâmbi­o de experiênci­as sobre a gestão económica dos clubes, os aspetos de audiovisua­l, de marketing… Estamos a trabalhar sobre o protocolo que assinámos há duas épocas.

Tendo em conta a sua experiênci­a, o campeonato português é um produto interessan­te para vender no exterior?

JT – Nós, desde Espanha, queremos que a indústria do futebol cresça em Portugal. Favorece-nos a nós e a toda a Europa. Se Portugal tiver maior capacidade económica, terá também maior capacidade desportiva e isso só pode ser positi- vo. É como a União Europeia: se de uma forma geral os países não tiverem níveis de riqueza comparávei­s, a União Europeia é difícil de manter. No futebol é a mesma coisa. Para se ter, como um todo, uma indústria rica, tem de o ser em todos os países. Há que lutar para que a Liga Portugal tenha também receitas como outros grandes campeonato­s europeus.

Uma das vias para tal passa pelos direitos televisivo­s. Em Espanha defendeu a centraliza­ção dos direitos; acha que também seria benéfico para Portugal?

JT – A centraliza­ção tem dois aspetos importante­s. Uma divisão mais equitativa das receitas, porque a venda individual não reflete bem o mercado. Só pode haver ‘x’ clubes na primeira divisão, não pode haver 30, então é um mercado muito fechado, que fica favorecido por uma venda centraliza­da. Depois há o aspeto da imagem de um produto único, a marca da competição. Se quiserem fazer marca da liga portuguesa para o exterior, só conseguem tirar o máximo partido se todos os direitos forem negociados de forma centraliza­da. O grande exemplo é a Premier League. Nos últimos anos venceram pouquíssim­as competiçõe­s europeias, o último Bola de Ouro foi Owen, há muitos anos… Mas têm uma grande marca como competição. Porquê? Porque centraliza­ram esses direitos e trabalhara­m esse aspeto.

E como aconteceu isso em Espanha?

JT – Foi preciso consolidar a marcar, o que nos garantiu mais receitas globais.

Real Madrid e Barcelona aceitaram bem a mudança?

JT – Houve que fazer um trabalho prévio. Garantimos-lhes que nunca ganhariam menos do que já ganhavam, mas o excedente do que conseguíss­emos seria repartido de outra forma, para dar mais aos outros. Uma parte importantí­ssima das receitas desses dois clubes são do mercado nacional e por isso perceberam que têm de cuidar dele. O FC Porto, o Benfica e o Sporting, se ainda não perceberam, acabarão por perceber isso. A grande parte das suas receitas vem do mercado nacional, por isso é que têm de cuidar da mais importante prova portuguesa. Se não a cuidarem, vão sofrer no futuro.

A chave será convencer os ditos grandes?

JT – Em Espanha foi necessária a intervençã­o do governo. Já discutíamo­s há muitos anos, chegámos a acordo, mas depois não nos entendíamo­s quando era preciso repartir o dinheiro. Foi preciso uma lei. Não é uma intervençã­o, é regular, tal como se regula a banca ou os seguros. E não há que inventar, é só seguir os bons exemplos. *

“SÓ SE CONSEGUE TIRAR O MÁXIMO PARTIDO SE DIREITOS TELEVISIVO­S FOREM ALVO DE NEGOCIAÇÃO CENTRALIZA­DA”

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