Record (Portugal)

“Não venho para o Sporting contar histórias da carochinha”

“O SPORTING NÃO AGUENTA NOVO REVÉS”

- JOSÉ MARIA RICCIARDI

O país conhece-o como um banqueiro e sportingui­sta, mas pouco se sabe como nasceu a sua paixão pelo Sporting. Como foi? JOSÉ MARIA RICCIARDI – Estou numa família de sportingui­stas, pelo que desde muito novo comecei a partilhar com ela esta paixão. Lembro-me de ter ouvido com o meu irmão mais velho, o Luís, o relato do saudoso e meu querido amigo Artur Agostinho da final da Taça das Taças. Tinha dez anos.

+ E que desporto praticou?

JMR – Fui um razoável jogador de andebol e por isso muito me apraz sermos bicampeões nacionais. Joguei no Pedro Nunes, onde fiz o liceu, e fui campeão escolar.

+ Os sportingui­stas sempre o viramcomo um‘presidente sombra’, uma reserva moral e um farol financeiro do clube. Revê-se neste perfil?

JMR – Não. Sempre tentei ajudar o Sporting fosse quem fosse o presidente. Isso valeu-me muitas críticas. Aliás, o Sporting tem um problema muito grave que é a permanente divisão provocada por egos sem-fim. Se alguém está com este, diz mal do outro, se está com aquele diz mal deste, enfim, um estado de permanente maledicênc­ia que divide a família sportingui­sta. Acho

“SEMPRE TIVE [NO BESI] FUNÇÃO DE COLABORAÇíO IMPORTANTE MAS NUNCA ME IMISCUÍNOS ASSUNTOS DO SPORTING”

que é tempo de acabar com essa situação. Não creio que isso resulte do facto de o Sporting não ganhar um campeonato no futebol profission­al há uma série de anos, até porque este espírito é mais notório num determinad­o nível e que nada tem a ver com a massa adepta. Temos de terminar com isso.

+ Mas a imagem ficou…

JMR – Como sempre ajudei o Sporting, criou-se essa fantasiosa imagem do ‘presidente sombra’. Nun- ca fui sombra de ninguém. Assumir isso seria passar um atestado de menoridade aos presidente­s que estiveram no Sporting. A única coisa que fiz, no âmbito da área financeira na qual sempre desenvolvi a minha atividade profission­al, e atendendo ao facto de o BESI, o Banco de investimen­to a que presidia, ter sido um dos assessores da reestrutur­ação do Sporting, por inerência sempre tive uma função de colaboraçã­o importante com o clube. Mas nunca me imiscuí, mesmo quando estive nos órgãos sociais do Sporting – nos quais apenas passei pelos conselhos fiscais -, nas outras áreas do clube. Jamais tive influência no futebol, nem na escolha dos treinadore­s, nada. É uma fantasia que se criou.

+ A sua ligação ao BES fez construir uma imagem positiva ou negativa junto dos sportingui­stas? JMR – Àquela época nunca me preocupei muito com a minha imagem. Tenho a consciênci­a completame­nte tranquila. Fiz o melhor que pude pelo Sporting com direções completame­nte diferentes. Quando estava numa, era criticado por outras. E assim foi sucessiva- mente. É precisamen­te a isto que quero pôr fim no Sporting. As divisões permanente­s são um dos problemas que mais enfraquece­m o Sporting e que o diferencia­m para pior em relação a Benfica e FC Porto.

+ Não sendo sombrade ninguém, nalgum momento no passado se sentiu tentado a candidatar-se a presidente?

JMR – Senti, mas não me era possível. Sendo presidente de uma instituiçã­o financeira que era líder – o Banco Espírito Santo Investimen­to – não reunia condições para tal. A não ser que abandonass­e a minha atividade. Pensei nisso, admiti que gostaria um dia ser presidente do Sporting, mas na altura não foi possível. Mas várias vezes pensei nessa possibilid­ade.

+ É uma cadeira de sonho?

JMR – É uma cadeira de sonho mas, como dizemos no nosso manifesto, é para o dia 9 de setembro. Não é um slogan para a campanha eleitoral. Será uma cadeira de sonho se o

“SE GANHARMOS, A NOSSA CAPACIDADE DE GESTÃO E LIDERANÇA CAPTARÁ AQUELES QUE NÃO VOTARAM EM NÓS”

Sporting conseguir ultrapassa­r um conjunto de problemas complicado­s, alguns deles endémicos como o divisionis­mo e a fragmentaç­ão, e outros que resultam da presente situação do clube.

+ Já disse que agora a sua vida oferece-lhe disponibil­idade para se candidatar. Mas porque demorou tanto tempo a decidir, porque avançou à última hora? JMR – É uma questão pertinente e explico porquê. Estivemos até àúltima hora a ver se haveria algum candidato que nos convencess­e mas isso não aconteceu. Além de desempenha­r cargos em diversas empresas, estou numa empresa financeira, lançada há pouco tempo e que está a ter muito sucesso. O José Eduardo, por exemplo, também tem a sua vida empresaria­l organizada e o mesmo se passacomos outros sportingui­stas que compõem as nossas listas. Portanto, temos as nossas vidas e por isso estivemos até àúltimaa ver se haveriaalg­umcandidat­o com capacidade de gestão e liderança, no domínio desportivo e económicof­inanceiro, que nos desse a garantia de conseguir repor o Sporting, depois do que passou e da degradação que sofreu do ponto de vista reputacion­al, no caminho certo. Por muito competente que seja a atual Comissão de Gestão, perante uma herança tão pesada, é difícil em dois meses fazer esse trabalho. Acontece que não vimos ninguém com essa capacidade. Falei então primeiro com o José Eduardo, alargámos depois o âmbito da discussão e tomámos a decisão de avançar. Oxalános enganemos, mas o Sporting não aguenta novo revés.

+ O facto de ser um dos últimos a entrar na corrida condiciono­u a formação da sua equipa? Haveria porventura elementos de outras

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