Record (Portugal)

“NÃO VENHO PARA O SPORTING CONTAR HISTÓRIAS DA CAROCHINHA”

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O que pode dizer aos sportingui­stas para os convencer a votarem em si?

JMR – Na nossa vida, temos provas dadas de capacidade de gestão e de liderança e criámos uma equipa que assegura essas competênci­as nas mais diversas vertentes. Nós fomos estudar a fundo a situação do Sporting, sabemos qual é e temos a sensação de que os outros não têm essa consciênci­a. Mesmo que não seja muito popular fazê-lo, vamos dizer exatamente ao que vamos. É preciso dizer claramente que o dito poço de petróleo que a direção anterior diz ter deixado, não existe. O que qualquer um irá encarar a 9 de setembro é uma situação muito difícil. Nós estamos preparados para ela, acho que os outros não estão. É preciso fazer o Sporting voltar a um rumo que lhe garanta sustentabi­lidade e seja vitorioso.

São esses os argumentos que vai utilizar para contrariar a tendência que reclama uma solução mais jovem para o futuro do clube? JMR – Já o disse e não quero ser mal interpreta­do, mas sinceramen­te isto não está para estagiário­s. O Sporting tem um défice de tesouraria este ano completo na casa dos 60 milhões de euros. Mas há mais. Por exemplo, uma das suas principais receitas – que são os direitos televisivo­s – das quais o Sporting deveria encaixar 68 milhões nos próximos dois anos, tem para receber 1 milhão de euros esta época e 7 milhões referentes a 2018/19. Ou seja, o Sporting já antecipou das próximas duas épocas, 60 milhões de euros! É o tal poço de petróleo que a direção destituída diz que deixou…

Essa informação é segura?

JMR – É absolutame­nte fidedigna. Mas acrescento mais uns elementos. Quando o Sporting fez a reestrutur­ação financeira estabelece­u que em cada jogador vendido por verba superior a 8 milhões de euros, tudo o que estava acima desse valor deveria ser dividido entre os bancos e o Sporting. Ora, isso só foi feito com um único jogador, o João Mário. Por causa disso e por ter assumido, nessa reestrutur­ação, outro compromiss­o com os bancos e que era pôr um ‘xis’ por ano numa conta reserva de forma a que o Sporting tivesse dinheiro para recomprar as ações quando as VMOC vencessem. Como sabemos, as VMOC vão transforma­r-se em ações e se o Sporting não possuir liquidez para as adquirir perde a maioria da SAD. Entre uma coisa e outra, o Sporting tem ainda de entregar aos bancos 32 milhões de euros até final deste ano.

Portanto, já vamos em quase cem milhões…

JMR – Somando o défice de tesouraria de 60 milhões, serão em rigor 92 milhões de euros. Mas se a isto somarmos a emissão de obrigações de 30 milhões que o Sporting tem de fazer em novembro, então já vamos em 122 milhões de euros! Eu fico absolutame­nte boquiabert­o com o à-vontade destes candidatos que me dá a sensação de que não fazem ideia do que vão encontrar no Sporting. E há soluções para reverter esta situação?

JMR – Há, mas são soluções complexas, soluções que podem passar pela venda de dívida a instituiçõ­es internacio­nais, pela securitiza­ção de outros anos de contrato dos direitos de televisão, pela recompra das VMOC, ficando com maior percentage­m do capital da SAD, o que dará a possibilid­ade de entrarem novos investidor­es sem que o Sporting deixe de ser o acionista maioritári­o. E por um conjunto de outras situações.

Tais como?

JMR – A racionaliz­ação dos custos da estrutura. O Sporting tem mais de 80 jogadores de futebol, até tem duas equipas de futebol feminino… Quer dizer, perdeu-se completame­nte a cabeça. Eu gosto de ouvir estes candidatos muito jovens e com muita experiênci­a, mas quero ver é que soluções e capacidade esses senhores têm para ultrapassa­r estes problemas que, se não forem resolvidos, chegaremos ao final do ano e o Sporting não terá meios para fazer face aos compromiss­os de tesouraria, aos ordenados dos seus atletas, dos seus funcionári­os. Nós, que somos empresário­s que já enfrentara­m situações muito difíceis, sabemos que a tarefa é muito complicada mas ficamos extraordin­ariamente surpreendi­dos com a despreocup­ação destes candidatos jovens. Os sócios saberão com certeza avaliar isso.

O Sporting terá então de passar por um longo período de austeridad­e?

JMR – Não necessaria­mente. O que se pretende é resolver estes problemas. O que existe é um buraco, não é um poço de petróleo. Mas o objetivo é racionaliz­ar sem perder competitiv­idade. Se calhar, em vez de termos 50 jogadores, podemos ter 30 e estimulare­mos mais a competitiv­idade.

Mas a qualidade tem preço… JMR – Se reduzir de 50 para 20 e tal, segurament­e encontra meios para ter melhor qualidade num grupo mais pequeno. No Sporting, há jogadores que ganham mais de 5 milhões/ano e não jogam… Acho que se pode fazer uma melhor gestão. Não nos esquecemos que no primeiro ciclo da direção anterior, o Leonardo Jardim, com um orçamento de pouco mais de 20 milhões de euros, levou o Sporting ao 2º lugar e à Liga dos Campeões. Ora, hoje em dia, a SAD deve estar a gastar perto de 90 milhões. Se calhar estamos a gastar mais dinhei- ro que o Benfica e o FC Porto. Com os resultados que estão à vista…

Imaginava que as coisas estivessem assim?

JMR – Imaginava porque se foi perdendo a cabeça ao longo destes últimos tempos. Por isso nos fomos afastando. Percebemos que se tinha perdido a noção das realidades. Gosto de ser rigoroso e portanto devo aqui dizer que esta situação que descrevi não toma em consideraç­ão as possíveis receitas de jogadores que rescindira­m sem c o r t

“O SPORTING JÁ ANTECIPOU 60 M€ DOS DIREITOS TELEVISIVO­S DAS PRÓXIMAS 2 ÉPOCAS. AGORA SÓ TEM PARA RECEBER 8...”

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