SONHO UNIVERSAL À BOLEIA DO FUTEBOL
Seleção Mundial integra jogadores de vários países unidos pela língua e passou por Lisboa
São 18 horas e o calor abrasa o Estádio Universitário de Lisboa. Os adeptos unem-se para cantar o hino da sua seleção, erguendo bandeiras e… cábulas com a letra. Os jogadores ouvem-se em uníssono, mas pertencem a 10 países distintos, como Alemanha, Portugal, Taiwan ou Argentina. Esta é a Seleção Mundial de Esperanto. Aproveitando o congresso da língua em Portugal, a equipa convidou e defrontou os veteranos da Associação para o Desenvolvi- mento da Quinta do Conde na Taça Zamenhof, cujo nome homenageia o criador do idioma. O argentino Jorge Montanari, professor universitário, é um dos dois selecionadores. “Comecei no Esperanto em 1998 porque gosto de aprender línguas”, conta a Re- cord, explicando que seis anos mais tarde propôs a criação da seleção por ser amante do futebol alternativo: “Fizemos cursos online e reunimos jogadores para treinar. Chegou gente de todo o Mundo e saiu a primeira convocatória. Temos uma base de seis jogadores e convocamos outros entre as pessoas que vão aos congressos.” O Esperanto é a única língua usada nos treinos e jogos da equipa: “Tenho o nível mais alto e há outros que falam menos, mas a linguagem do futebol é universal. Há um paralelismo entre a bola e o Esperanto. Podes estar na Austrália ou na China, que aparece o Ronaldo e todos sabem quem é. A bola sai e todos sabem se é canto ou não.” A equipa venceu apenas uma vez, nada que esmoreça Jorge: “É muito difícil, temos apenas três treinos. Mas para os adeptos já é uma celebração que esta equipa exista.” Apresentado o selecionador, passemos ao capitão. Jaime Montoro começou no futebol e só depois veio o Esperanto: “Sabia que existia o idioma e que Jorge estava ligado a isso. Em 2016, um mês e meio antes do jogo na Croácia, pensei que podia ir. Jogo futebol regularmente e perguntei-lhe. Num mês aprendi a falar o básico.” Jaime admite que a equipa não é propriamente de nota artística, mas são craques na integração: “Muitos nem sequer eram amadores, começaram aqui e isso notase nos treinos, mas o objetivo não é ganhar jogos, é integrar pessoas do Esperanto no futebol e pessoas do futebol no Esperanto.” A convocatória para Lisboa englobou a estreia do português André Pagaime, cuja curiosidade por outras culturas levou a esta experiência: “Já andava a aprender pela internet. Sabia do con- gresso e quis aproveitar. Tinha visto notícias da NF Board, o futebol não-FIFA e por acaso vi o Facebook da seleção e enviei um email. Achei que seria giro e calhou bem ser em Lisboa. Nunca tinha falado presencialmente. Uma experiência espetacular.” André já pensa agora na Finlândia, país que acolhe o próximo congresso: “É caro, mas agora estou cheio de ‘pica’. Não faz sentido participar num congresso e não ir a estas atividades. É uma forma muito gira de estar integrado.” Quanto ao jogo, o resultado sorriu à equipa portuguesa, por 7-1. A taça ficou cá, mas haverá outra edição para disputar em 2019. Num novo país, com novas caras e frente a um novo adversário. Mas sempre na mesma língua.
“OBJETIVO NÃO É GANHAR, MASINTEGRAR PESSOAS DO ESPERANTO NO FUTEBOLE DO FUTEBOLNO ESPERANTO”