Record (Portugal)

Cláudio Ramos “Estou pronto para um grande”

Aos 26 anos está na 8.ª época com a camisola do Tondela, mas assegurou estar preparado para outros voos. Numa entrevista em que mostrou boa-disposição, apontou a Seleção Nacional como um sonho para concretiza­r... em breve.

- TEXTOS ANDRÉ FERREIRA FOTOS NUNO ANDRÉ FERREIRA

Fala- se muito da sua altura. Tem 1,83 m. Alguma vez lhe faltou altura para chegar a algum lado?

CLÁUDIO RAMOS – [risos] A minha altura! Não sinto falta de ter mais ou menos altura. É a que eu tenho e é a ela que tenho de me adaptar. Podemos ver que há vários guarda-redes mais baixos do que eu e com a mesma altura que fizeram grandes carreiras. Há esse exemplo do Casillas, que ganhou tudo o que havia para ganhar e é um centímetro mais baixo do que eu. Não sei o que é ter mais altura, porque nunca tive [risos]. Por isso, não me faz di-

ferença nenhuma. Com a altura que tenho chego a todo o lado. Tem caracterís­ticas que guarda-redes mais altos não têm...

CR - Com a minha altura tenho vantagens em algumas coisas e desvantage­ns noutras. Não há jogadores perfeitos e eu não fujo à regra. Mas por ser mais baixo tenho outras coisas. Sou mais rápido, mais ágil. Os número falam por si, é isso?

CR - As coisas têm-me corrido bem. Tenho feito boas épocas, tenho conseguido ajudar o clube. A minha altura não tem sido um ‘handicap’ para o Tondela. Sonhou com a 1.ª Liga e concretizo­u esse sonho. Aos 26 anos onde

acaba o sonho? CR - Costuma dizer-se que o homem sonha e a obra nasce. O meu objetivo sempre foi chegar à 1ª Liga. Vi-me emprestado na 3ª, na 2ª B e isso nunca foi problema. Lutei sempre pelo sonho e fui subindo degrau a degrau para chegar lá. O sonho nunca acaba. Tentar jogar em clubes de outros patamares, chegar à Seleção Nacional. No futebol o jogador não pode ter limites. Tem de estar sempre a sonhar. Mas o caminho para chegar aqui foi complicado para si...

CR - Costumo dizer que agora o pessoal está mal habituado. Os mais novos estão mal habituados. Aos 18/19 anos já estão na 1ª Liga e caem um bocado de paraquedas. Eu só não joguei na distrital. Joguei nas divisões todas e orgulho-me disso. Joguei na 3ª Divisão, fui campeão, vim para Tondela, joguei na 2ª B e também subimos. Passados três anos subi da 2ª Liga para a 1ª Liga. Nunca ninguém pegou em mim e me meteu na 1ª Liga, como acontece muito agora. Os clubes ainda não dão o devido valor ao jogador português?

CR - Fomos campeões europeus. Um país pequenino como é Portugal. Essa conquista valorizou muito o jogador português. Mas tem de começar a ser o nosso campeonato a valorizar o jogador português, não podem ser os estrangeir­os a darem valor a Portugal. Ainda agora vemos na 1ª Liga a quantidade de estrangeir­os que há nas equipas. Há clubes que quase não jogam com portuguese­s. O Tondela, por exemplo, no ano passado jogou quase todos os jogos com dez portuguese­s. Isso é um exemplo do trabalho que tem sido desenvolvi­do neste clube ao longo dos anos. O que acha que falta para dar o passo seguinte na carreira?

CR - Talvez darem mais valor ao jogador português. Com as épocas que tenho feito acho que já merecia uma oportunida­de noutro patamar do futebol português. + Era já um passo seguro?

CR - Já demonstrei isso. Não foi uma época, nem duas. São três épocas e meia na 1ª Liga e três anos na 2ª Liga. Quase 200 jogos nas ligas profission­ais com 26 anos. Já dei provas de que seria uma aposta segura.

Mostrou provas suficiente­s para chegar a um dos denominado­s três grandes? CR - Isso é uma questão difícil de responder. Mas digo que sim, claro. Mas se chegar lá posso não estar pronto, por alguma circunstân­cia. Mas estou preparado para assumir um dos três grandes. É um risco sair da minha zona de conforto que é o Tondela. Aqui sei que tenho o carinho de toda a gente, todos gostam de mim. Sair daqui seria difícil, porque já são muitos anos, mas estou preparado para esse desafio. Desespera pela sua hora... CR - [Interrompe] Não, nada disso. Não desespero, nem nada que se pareça.

E os seus amigos não questionam o porquê de ainda não ter dado o salto? CR - Eles pensam sempre que estou na brincadeir­a com eles quando me perguntam se vou sair. Estão sempre a dizer: “Vais sair este ano? Vá, diz a verdade, somos amigos...”, essas brincadeir­as que acontecem. Tenho muitos amigos que são do Tondela e queriam o que fosse melhor para mim. Assume que poderia estar num dos três grandes. E na Seleção?

CR - Eu não penso muito nisso, sinceramen­te. É um objetivo que te-

“A MINHA ALTURA? NÃO SEI O QUE É TER MAIS ALTURA, PORQUE NUNCA TIVE. COM A ALTURA QUE TENHO CHEGO A TODO O LADO” “SELEÇÃO NACIONAL É UM OBJETIVO. ESPERO UM DIA SER CHAMADO. RESTA-ME MOSTRAR QUE MEREÇO IR”

nho, claro. Espero um dia ser chamado, mas resta-me em todos os jogos mostrar que mereço ir. É o que me resta fazer.

A Seleção vai ter em breve dois jogos. Vai mandar mensagem ao selecionad­or nacional a dizer: “Míster, estou aqui”? CR - [risos] Essa mensagem tem de ser enviada é dentro de campo e continuar a fazer boas exibições para verem o meu trabalho, que está a ser bem feito. Não posso fazer mais do que isso.

Mas a crítica muitas vezes aponta-o como um guarda-redes que está preparado para a Seleção Nacional. Como lida com isso? CR - Isso dá-me força e alegria para continuar a trabalhar e a sonhar com esse objetivo. Quando vemos que o nosso nome é muitas vezes associado à Seleção Nacional é muito bom e fico muito feliz com isso. Dáme muita confiança para continuar a trabalhar para um dia chegar lá. No FIFA o Cláudio já está na Seleção Nacional?

CL - [risos] Não jogo muito FIFA, por acaso. Mas se jogasse, de certeza que estava na Seleção.

Nesta altura sente que ainda não foi chamado à Seleção Nacional porque é jogador do Tondela? CR - Não sei. Mas a história diz isso. É muito raro ver jogadores que jogam do meio da tabela para baixo a serem convocados para a Seleção. Mas não sei se é por jogar no Tondela, sinceramen­te. *

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