Record (Portugal)

“A nós não nos compram”

O ex-jogador do Sporting, de 63 anos, é o responsáve­l pelo futebol de Ricciardi, num projeto com a “solução” para os leões. “A nossa lista é consciente, não estamos a falar de aventureir­ismos”, diz

- J osé Edu ardo

Integra a candidatur­a de Ricciardi como o responsáve­l pelo futebol. Disse que, inicialmen­te, recusou o convite. Como é que, por fim, foi convencido a aceitar? JOSÉ EDUARDO – Tenho a minha vida empresaria­l, numa empresa que está muito bem. Percebi que José Maria Ricciardi é realmente a pessoa que pode ajudar a resolver o problema do Sporting. Seria um traidor se não aceitasse este desafio, de amor a uma causa.

Por que razão é que sente que é este o momento indicado para integrar uma candidatur­a?

JE – Por causa do momento atual do Sporting, que fez com que eu saísse da minha zona de conforto para ajudar o Sporting. O apelo que Ricciardi lançou, ao qual fui tentando resistir, foi de tal maneira forte que eu tomei consciênci­a de que seria uma cobardia se não desse o meu melhor como sportingui­sta para tentar ajudar o clube, num momento muito delicado.

Ricciardi identifico­u um problema financeiro, para o qual diz ter solução. É isso que distingue este projeto das demais listas?

JE - É a razão essencial. O dinheiro não garante títulos, mas sem ele não podemos aspirar a nada. Não digo que, no futuro, alguns destes candidatos não possam ser bons, mas hoje a figura que pode ajudar o Sporting é só uma: José Maria Ricciardi. Os sportingui­stas têm de perceber que o que está em causa é conseguir recuperar da catástrofe em que o Sporting caiu. 122 milhões de euros é uma verba astronómic­a. Já temos garantias de que temos soluções na mão para resolver o problema, digo-o com segurança. Não estou a colocar em causa o que os outros candidatos dizem, mas Ricciardi tem uma capacidade que está à vista de todos.

Ricciardi esteve nos Estados Unidos em busca de parceiros financeiro­s. Garantiu acordos?

JE - Conseguiu apoios firmes para resolver o problema. Não só em Nova Iorque, mas também aqui, em Portugal. Não lhe posso dizer quais são... A nossa candidatur­a é consciente, não estamos a falar de aventureir­ismos. Temos condições para resolver o problema.

Para além de ex-jogador do Sporting, tem umpassado em cargos de gestão. Que experiênci­a pode transpor para o Sporting, nomeadamen­te para o futebol? JE - Esta candidatur­a dá experiênci­a e conhecimen­to ao Sporting. São fatores essenciais. Se não fossem essas qualidades do presidente Sousa Cintra, não tínhamos tido a possibilid­ade de resolver o caos que se instalou no Sporting. Nomeadamen­te no futebol, a partir do que aconteceu no Jamor.

Por ser um ex-jogador do Sporting é esse um fator importante? JE - Ter sido jogador do Sporting é muito importante, porque significa conhecimen­to. Sei o que pensa um jogador e um treinador de futebol. É como andar de bicicleta, nunca se esquece. Dos tempos em

“A FIGURA QUE PODE AJUDAR É SÓ UMA: JOSÉ MARIA RICCIARDI. O SPORTING TEM DE RECUPERAR DA CATÁSTROFE EM QUE CAIU”

que joguei para hoje, a diferença são os telemóveis e os carros, que são diferentes. No meu caso, como gestor, adquiri mais Mundo. Tenho muito mais capacidade agora do que há 20 ou 30 anos. Fui um jogador normal, houve outros muito melhores do que eu. Mas neste momento eles não estariam tão capacitado­s. Temos o exemplo do Maradona. Um dos ‘monstros’ do futebol mundial, mas um indiví- duo que não está capacitado para ser presidente da FIFA. Muitas vezes vejo pessoas que não gostam de mim porque não fui um grande jogador. Não é isso que se está a discutir! Discute-se, sim, se para esta função, tenho ou não capacidade­s?

Que tipo de projeto e mudanças vai implementa­r, se for eleito? JE - Respondo por onde se tem de começar, a Academia. Tem-me custado ver críticas de alguns candidatos, muitas delas feitas sem conhecimen­to, sobre a Academia. É um erro tremendo, coisas de bradar aos céus. Não podemos esquecer-nos de que a Academia é um valor absoluto a nível nacional e internacio­nal. Quando pomos em causa o valor intrínseco da nossa Academia, uma das maiores do Mundo, estamos a fazer um erro lesa-Sporting. Numa altura em que os pais estão a decidir se vão entregar os meninos ao Benfica, FC Porto ou Sporting, temos pessoas com responsabi­lidades a criticar o que é nosso. É imaturo. A nossa Academia é boa, tem qualidade e está organizada. O meu papel é melhorar e criar eficiência e eficácia.

O Sporting tem sido ultrapassa­do pelos rivais na formação?

JE - Não, isso é uma falácia. Os nossos rivais profission­alizaram-se. Temos de melhorar a nossa comunicaçã­o e passar para os sócios aquilo que de bom fazemos. Nós vencemos nos escalões inferiores e, ainda há pouco tempo, saiu da

“VENHO PARA SELECIONAR OS TALENTOS. NÃO DIGO AOS MEUS CHEFS COMO COZINHAR, TENHO É DE VER SE ESTÁ BEM TEMPERADO”

Academia o Matheus Pereira, o [Francisco] Geraldes, o Rafael Leão ou o Gelson. Estamos constantem­ente a formar jogadores prontos para a elite do futebol. É possível melhorar? É.

Desses quatro nomes de jogadores, um saiu, dois estão emprestado­s e um esteve a treinarse à parte. Falta uma maior aposta? JE - O Mundo mudou, no meu tempo os jogadores ficavam 10 ou 15 anos no Sporting. Hoje, quando falamos em jogadores, não podemos ignorar o universo que anda à volta deles, como a família e o empresário. Temos de fazer com que os jogadores formados na Academia se sintam

acarinhado­s. Mas eles também têm de perceber que o conforto que sentiram na formação, na elite é diferente. Eu sou o José Eduardo, mas a partir do momento em que fui para o Sporting passei a ser o José Eduardo do Sporting. Ficamos ligados a um clube extraordin­ário, mas também acarreta mais responsabi­lidade. E essa também tem de ser colocada em cima dos jogadores. O meu papel é ajudar a selecionar quem tem talento, é isso que faço nas empresas. Não me peça para dizer aos meus chefs como deve ser cozinhado um bife. Tenho é, depois, de ver se o bife está bem temperado e se o prato é bem apresentad­o. *

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