“Com aquele acidente aprendi muitas coisas”
guardou-o, porque foi o primeiro dinheiro que ganhei com o futebol.
O que se passou depois?
ZT - Eu falei com o Virgílio e pedi um contrato profissional, porque se eles confiavam em mim, não tinham de esperar até ao final da época. Eu pensava assim. Não foi uma questão de dinheiro como eles interpretaram, mas se eu era um dos melhores e os meus companheiros tinham contrato profis- sional, eu também queria. Era uma questão de sentir-me importante. Mas o Virgílio disse que não. Aí começou o problema, pois passei a treinar-me à parte e não jogava. Depois, apareceu outro treinador, o Luís Boa Morte, e tínhamos um jogo da Liga dos Campeões contra o Maribor. Ele perguntou se eu queria jogar e fiquei surpreso. Mas joguei e fiz dois golos. E, desde aquele dia, tinha o Inter, o Atlético Madrid e muitos clubes interessados. Eu sempre disse que se o Sporting me desse um contrato profissional eu ficava. Apesar de os outros clubes oferecerem condições melhores. Mas depois desse jogo não joguei mais. Só dormia, comia e ia ao ginásio. Um dia fui para casa, comida não me faltava. Era janeiro. Fui então para o Inter por intermédio do meu empresário, o Paulo Rodrigues, e assinei por três anos e meio. Ligaram do Sporting, recorreram à FIFA... mas comigo não tinham contrato. Cheguei ao Inter e joguei na equipa B, marquei 10 golos, mas no final daquela época lesionei-me num joelho. Na segunda época fiz uns 15 golos e o Roberto Mancini chamou-me para a equipa principal e treinava-me sempre com eles. Mas o Mancini foi embora e fui emprestado ao Tondela, onde passei os meus piores anos e tive um acidente de carro.
Como foi lidar com isso?
ZT - Com aquele acidente aprendi muitas coisas. Eu tinha um camião à minha frente e queria ultrapassálo, mas assustei-me, porque tinha a carta há pouco tempo, não era experiente. O carro capotou. Eu saí do carro, vi o seu estado e comecei a chorar. Nesse momento percebi quais são as coisas mais importantes na vida. Houve alguém que me reconheceu e tirou uma foto, que saiu logo na imprensa e chegou à Guiné. A minha mãe viu a foto em que eu estava na ambulância, telefonou-me e eu não sabia o que dizer. Senti que estava muito triste e espero não voltar a deixá-la assim outra vez. Daqui para frente só quero dar-lhe muitas alegrias. Foi uma aprendizagem, porque foi do pior ano que vivi. Mas já passou e não quero pensar mais nisso. *